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Negócios, Mercados & Cia
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“Hoje, ‘deu gás’ é ver como se vai monetizar”

O setor de gás verde tem enorme potencial de investimentos no Brasil, garante Marcel Jorand, CEO da Gás Verde

Por Neuza Sanches Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 set 2022, 09h00

Nos anos de 1990, quando a Petrobrás descobria gás em vez de petróleo, se dizia:  “Deu gás!”, num sinal de frustração geral. Hoje, isso deixou de ser verdadeiro. Fatores como a busca por uma matriz energética mais limpa – uma preocupação que veio para ficar – e questões conjunturais como a guerra na Ucrânia, que colocou em xeque a distribuição do gás russo para países da Europa, dão impulso forte para o aumento da produção de gás no Brasil, com grande potencial de expansão nesse setor, explica à coluna Marcel Jorand, diretor-executivo do Grupo Urca Energia e CEO da Gás Verde, líder na produção e distribuição de biometano no País. “O Brasil entrou atrasado na festa, mas vem dançando bem na questão do biogás”, afirma o executivo, com passagens anteriores por empresas como a White Martins e que está na Urca Energia desde 2018.  “Hoje, ‘deu gás’ é ver como se vai monetizar.” Nesse processo de crescimento do mercado de gás, o aumento da produção de biogás e do biometano a partir de aterros sanitários tem grande potencial, diz ele, que planeja investimentos do Grupo Urca Energia de R$ 500 milhões até fins de 2023 e dobrar o faturamento, alcançando a marca de R$ 1 bilhão no ano que vem. A seguir, a entrevista. 

A Europa é dependente dos russos no fornecimento de gás. O sr. acha que o Brasil está livre desse tipo de dependência? Ou seja, estamos tranquilos? Por quê?

A guerra entre Rússia e Ucrânia evidenciou os riscos de dependência energética de terceiros. O Brasil também utiliza fontes internacionais na cesta de oferta de gás natural na economia, mas, com o aumento da produção doméstica já contratado para os próximos anos, seremos cada vez menos dependentes de outras fontes. A descoberta do pré-sal evidenciou o tamanho da riqueza que temos de gás natural. A Nova Lei do Gás Natural foi um avanço, mas ainda falta regulamentar vários pontos para destravar o mercado. Por outro lado, a gente vê com entusiasmo o avanço na produção de gás renovável. Temos a vantagem de oferecer o biometano, que é produzido a partir de aterros sanitários e que tem as mesmas aplicações que o gás natural, com a vantagem de ser 100% renovável.

O gás no Brasil ainda é muito caro. Por quê? Há investimento suficiente para fornecimento no País? Somos ativos o suficiente na produção de gás “limpo” ou gás verde?

O gás natural é atrelado à cotação do petróleo e do dólar e, qualquer oscilação, reflete no preço que chega ao consumidor final. O cenário instável que estamos vivendo, marcado pela pós-pandemia e a guerra na Ucrânia, tem impactado bastante os preços. Temos ainda os custos de logística e tributos, sem falar na necessidade de investimentos em infraestrutura essenciais ao mercado de gás. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de notar o potencial de produção de energia renovável do País, e o timing positivo em que nos encontramos. O biogás e o biometano têm um potencial enorme para apoiar a transição energética das empresas e contribuir para o compromisso firmado pelo País na COP26 – de redução de 30% das emissões de metano até 2030. O biometano, além de ser intercambiável com o gás natural, não está atrelado ao dólar e nem ao (petróleo) Brent, e tem a sua produção 100% nacional, o que garante maior previsibilidade para as empresas.

O Grupo Urca Energia tem feito uma série de ações relacionadas ao verde para atrair investimentos. Tem dado certo? Como e por quê?

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Aqui, a gente acredita que é possível preservar o meio ambiente e fazer bons negócios. Apesar de jovens, já estamos presentes em três Estados (Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso), temos 47 biodigestores em operação, 40 MW de capacidade instalada de energia elétrica renovável e somos a maior produtora de biometano do País com a Gás Verde. Vamos construir a primeira planta de CO2 verde de aterros sanitários do Brasil no ano que vem, que evitará a emissão de 500 mil toneladas de carbono equivalente na atmosfera até 2023. Não é pouco. E vamos investir também R$ 500 milhões até o fim de 2023 para isso. Pegamos os gases poluentes do lixo das cidades e dos resíduos do agronegócio que iriam para a atmosfera e transformamos em energia renovável, que é ofertada para as empresas em forma de energia elétrica e biocombustível, apoiando suas transições energéticas. Quando uma empresa adota uma de nossas soluções, está evitando novas emissões e ajudando a preservar o meio ambiente.

Por meio da Gás Verde, o Grupo Urca é líder na produção de biometano no País. Isso já basta para que o País entre definitivamente na rota internacional de sustentabilidade e preservação do meio ambiente?

Estamos investindo para dobrar a capacidade dessa planta, e transformando duas térmicas a biogás, localizadas em São Gonçalo e em Nova Iguaçu (RJ), em plantas de biometano. Vemos os grandes players do mercado também investindo na produção de biometano por entender que esse é um movimento global e sem volta. Empresas de todos os tamanhos e segmentos estão com  uma forte demanda por energia renovável e comprometidas com a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade de suas operações. A preservação do meio ambiente não é modismo, mas uma pauta fixa das empresas que querem sobreviver.

A política brasileira ajuda ou atrapalha em investimentos nesse setor do Gás Verde?

A burocracia no Brasil é pesada em todos os setores, aumentando muito os custos de operação. O Brasil vem avançando de forma significativa na produção de uma energia mais limpa, e isso não depende exclusivamente de governos. Na parte regulatória, tivemos avanços recentes importantes que podem ser comemorados, como o Programa Metano Zero, mas ainda há um longo caminho a ser trilhado para desenvolvermos todo o nosso potencial de produção.

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O Grupo Urca Energia aderiu ao Pacto Global. Por que só agora ou tanta demora?

Somos uma empresa nova. Nascemos em 2018, e este ano ganhamos corpo com a aquisição da Gás Verde e a estruturação dos nossos ativos. Importante salientar que a adesão ao Pacto Global é uma ação voluntária de empresas e instituições, e não é regulada por governos. Estamos felizes em fazer parte dessa rede de sustentabilidade corporativa que conta com mais de 1.500 empresas brasileiras.

A política dos Estados ajuda no crescimento e desenvolvimento do setor?

 Os Estados estão se conscientizando cada vez mais da importância de apoiar os combustíveis limpos e renováveis. No Rio de Janeiro, a Assembleia Legislativa aprovou, em março, projeto de lei para reduzir de 20% para 12% o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre biogás e biometano, o que é um incentivo importante para o renovável. Agora, a agência reguladora, a Agenersa, estuda uma tarifa especial para injeção no duto para incentivar a produção o biometano. Vamos ver se sai do papel. São iniciativas importantes, sem dúvidas, mas há a necessidade de garantir um macro ambiente favorável para a produção e adoção de energia renovável.

A burocracia e a regulamentação do setor ajudam ou atrapalham nos investimentos? Ou seja, estamos indo bem nesse sentido?

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O País, hoje, tem pouco incentivo nesse mercado. O Brasil chegou um pouco depois da Europa e dos Estados Unidos, só que ele tem potencial para ficar muito grande em pouco tempo, dada a pouca quantidade de aterro sanitário – Brasília hoje não tem aterro sanitário por exemplo; dada a qualidade de resíduo do agronegócio que se tem; e, dado o marco do saneamento que vai fazer com que se tenha dois aterros sanitários nos próximos meses ou ano no Brasil  O Brasil entrou atrasado na festa, mas ele vem dançando bem na questão do biogás. Estamos evoluindo e os governos estão aprimorando os seus marcos regulatórios. É um processo. Acreditamos que é possível preservar o meio ambiente e fazer bons negócios. É o nosso lema.

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