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Galípolo: o ponto que preocupa ex-presidentes do Banco Central

Guerra no Oriente Médio, eleições nos EUA, inflação em alta no Brasil já estão precificados; o inesperado é o grande desafio segundo ex-presidentes do BC

Por Neuza Sanches Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 out 2024, 08h00

Indicado, sabatinado e aprovado para comandar o Banco Central a partir de 2025, Gabriel Galípolo não deverá ter vida tranquila. Ele vai assumir o posto em meio a pressões inflacionárias ainda não ajustadas e à desconfiança de parte do mercado que vê risco de maior ingerência do governo Lula nas decisões da autarquia – que, por definição, deveriam se pautar sempre por critérios técnicos. O tamanho do desafio político vai exigir de Galípolo um delicado equilíbrio entre controle da inflação e estímulo ao crescimento econômico.

Se isso já não fosse o bastante, outros componentes de pressão vêm de fora. Para citar três: os efeitos da guerra cada vez mais sem fronteira e controle no Oriente Médio (qual o futuro do preço do petróleo?); o esforço da China, antiga locomotiva mundial, para tentar recolocar de pé seu mercado interno (vai dar certo?); e o desdobramento das eleições presidenciais nos EUA (cujo resultado poderá ser determinante, entre outras coisas, para indicar o rumo futuro dos capitais internacionais).

Esse desafio de “ter de lidar com o inesperado” é uma outra grande preocupação de alguns ex-presidentes do BC que conversaram semana passada com a coluna. “O BC tem infraestrutura impecável para as crises que estão ai”, diz um deles, que pediu anonimato. “Há estudos de todo tipo. Mas o que é preocupante é como o Galípolo irá reagir se acontecer uma crise inesperada como foi a de 2008 e a pandemia. Esse é o grande desafio de quem é inexperiente.”

A experiência de ex-presidentes do BC revela que esses eventos globais impactaram significativamente na economia brasileira, exigindo respostas rápidas e eficazes para estabilizar a inflação e os juros. A crise de 2008, desencadeada pela falência do Lehman Brothers, resultou em uma recessão global que atingiu o Brasil com força. O PIB brasileiro encolheu e a inflação disparou, forçando o Banco Central a adotar políticas estratégicas: primeiro, interrompendo o ciclo até então em curso de alta da taxa de juros; depois, iniciando um processo de redução da Selic até o início de 2010. O impacto foi profundo: a Selic foi reduzida para estimular o consumo, mas essa medida levou a uma pressão inflacionária que desafiou a recuperação econômica.

Da mesma forma, a pandemia de covid-19 trouxe uma nova onda de incertezas. O fechamento de setores inteiros da economia global e as interrupções nas cadeias de suprimento resultaram em uma inflação elevada e um aumento significativo no desemprego no Brasil. O Banco Central teve de agir rapidamente, implementando cortes na Selic e injetando liquidez no mercado. No entanto, essas ações também geraram um aumento nas expectativas inflacionárias, complicando ainda mais o cenário econômico.

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Vale lembrar que, durante a pandemia, o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, adotou uma estratégia de redução da taxa Selic, que chegou a 2% ao ano em 2020. Com a Selic em seu menor patamar histórico, o objetivo foi o de facilitar o acesso ao crédito e ao incentivo ao consumo, buscando mitigar os impactos da crise. Mas essa política monetária expansionista também trouxe consequências indesejadas, como o desancoramento das expectativas de inflação e pressão sobre os preços devido à quebra das cadeias produtivas e ao desabastecimento.

À medida que a economia começou a se recuperar, Campos Neto passou a lidar com a necessidade de aumentar os juros para controlar a inflação crescente. O ciclo de alta da Selic começou em março de 2021 e culminou em agosto de 2022, quando a taxa atingiu 13,75% ao ano. Esse aumento foi uma resposta direta à inflação que superou as metas condicionais, refletindo pressões inflacionárias que surgiram após a fase inicial da pandemia.

As decisões de Campos Neto foram consideradas corretas por ex-presidentes do BC, pois visavam reverter o cenário inflacionário que ameaçava a estabilidade econômica do país. Serão, enfim, quatro anos em que o maior desafio de Galípolo será enfrentar crises inesperadas que podem surgir no cenário global. Aprendendo com as lições da crise de 2008 e da pandemia de covid-19, ele precisará implementar políticas monetárias específicas que garantam a estabilidade econômica do Brasil sem comprometer sua reestruturação como líder do Banco Central. A caminhada será longa.

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