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Por Neuza Sanches
Negócios, Mercados & Cia
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“É hora de separar o joio do trigo”, diz presidente executivo da ABDIB

Sobre a PEC Kamikaze, que aumentou benefícios, ele afirma que há muito imediatismo e pouca preocupação com políticas coordenadas de longo prazo

Por Neuza Sanches Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 jul 2022, 11h13 - Publicado em 23 jul 2022, 10h00

Agenda da Infraestrutura com presidenciáveis. Esse é o nome do fórum que a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) vai promover no dia 29 de agosto, em São Paulo, com os candidatos à Presidência da República. A entidade vai entregar a cada um deles um documento com propostas do setor, fruto de cinco meses de discussões internas. Entre elas, o fortalecimento do papel do BNDES como financiador de novos projetos de investimento, num momento de aperto do capital estrangeiro, principalmente para países em desenvolvimento.

“Estamos desde o final dos anos 70 sem ter uma estratégia de desenvolvimento definida para o país”, afirma o presidente executivo da Abdib, Venilton Tadini. Pergunto de quem é a culpa, se do Executivo ou do Legislativo? “É responsabilidade de toda a sociedade. É a sociedade que escolhe seus representantes e dirigentes.”

Com passagens pela Secretaria do Tesouro, BNDES e Banco Fator, Tadini não faz boa avaliação das medidas que têm saído de Brasília. Falando sobre a PEC Kamizake, que aumentou benefícios em pleno ano eleitoral, diz que há muito imediatismo e pouca preocupação com políticas coordenadas de longo prazo. Afirma ainda que a capacidade de investimento público tende a ficar ainda mais estrangulada com propostas como a de manutenção do chamado orçamento secreto. “É um Orçamento barata-voa.”

O país troca de presidente, renova o Congresso, mas as demandas da indústria parecem não sair do lugar, como a reforma tributária e a redução do chamado “custo Brasil”. De quem é a culpa por essa situação: do Planalto, do Congresso, dos próprios empresários? Por que o país não tem um programa de desenvolvimento consistente?
Isso é responsabilidade da sociedade. É a sociedade que escolhe seus representantes e dirigentes. A questão é que estamos desde o final dos anos 70 sem ter uma estratégia de desenvolvimento definida, sempre mais preocupados em resolver questões imediatistas, de curto prazo. Para mudar isso, temos de articular o Executivo, o Legislativo e o Judiciário também.

Como o sr. analisa as medidas de desoneração fiscal anunciadas pelo atual governo? Qual seu impacto para o setor?
Isso tem efeito no curto prazo, mas não é algo importante do ponto de vista estrutural, que nos dê um norte para uma política industrial. Esse tipo de coisa precisa ser feita de maneira articulada. Política industrial e comércio exterior são siameses. É preciso dar condições para que a indústria seja competitiva ao mesmo tempo em que se faz um processo de abertura.

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O que é pior para o empresário: trabalhar com inflação alta ou ter de lidar com juros altos?
É o conjunto da obra. Há cinco anos, o mundo era outro. Tínhamos inflação baixa, não tinha guerra na Europa e as taxas de juros eram negativas, com abundância de recursos no sistema financeiro internacional à procura de bons projetos para investir. Veio a pandemia e a guerra, e esse cenário mudou. Agora, temos inflação e juros em elevação e vários países tomando ações protecionistas. O resultado disso foi uma diminuição da liquidez mundial, principalmente para os países em desenvolvimento. Por que alguém vai querer investir, correr riscos, se pode ter uma boa remuneração aplicando no mercado financeiro? Esse choque também nos pegou, tivemos de subir a taxa de juros a valores astronômicos do ponto de vista de retomada de crescimento. Considerando a atual crise fiscal do País, é como se a gente tivesse uma tempestade quase perfeita.

Com que previsões a entidade trabalha para PIB, inflação e Selic em 2022 e 2023? E em quais circunstâncias essas projeções poderiam ser alteradas?
O BNDES precisa voltar a ter um papel mais representativo no financiamento da infraestrutura, mas tudo vai depender do quadro político que vai se desenvolver. Em nosso cenário mais otimista, para 2023 projetamos 2% de PIB e inflação entre 6% e 7%, com a Selic voltando para a casa dos 9% ou 10% ao ano. Mas isso vai depender do que será feito com a retomada do investimento público, num cenário em que se tenha condições de dar garantias e financiamento. Por isso, fizemos um documento, resultado de cinco meses de reuniões e discussões de comitês com representantes de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, de energia elétrica, óleo e gás. Enfim, de todo o setor de infraestrutura do País. Ele será entregue aos candidatos à Presidência em evento no final de agosto. Nesse evento, poderemos separar o joio do trigo e verificar o que, de fato, está sendo preparado por cada um deles.

A entidade já criticou, publicamente, a aprovação da chamada PEC Kamikaze. Que efeitos isso deve provocar e, principalmente, como poderá afetar a administração do governo a partir de 2023?
Toda vez que se tem medidas de curto prazo, com efeitos imediatistas, o reflexo negativo é no longo prazo da economia. Ajudar a baixa renda por período limitado é como passar o abanador em cima da fogueira. Primeiro reduz o fogo; depois, ele volta mais forte. Nesse caso, o esforço em torno da PEC foi para reduzir o custo de tarifas, mas atacou o problema estrutural, porque não tem ação articulada. Não se tem um programa de ajuste fiscal devidamente acertado, com reformas administrativa, tributária. Estamos chegando a um nível de investimento público em relação ao PIB que é inaceitável. É só verificar a pavimentação das rodovias federais. Sem contar as não pavimentadas.

A LDO de 2023 foi aprovada com a manutenção da figura do orçamento secreto (embora o pagamento de emendas parlamentares não seja mais impositivo). Como o sr. vê essa questão?
Com esse Orçamento vinculado às emendas feitas no Legislativo, se perde a capacidade de coordenação dos investimentos que cabem no Executivo. Então, mais uma vez, falta um programa que tenha sinergia, que seja articulado. Ele é ‘barata voa’, desculpe a expressão, do ponto de vista da escolha dos projetos. Do ponto de vista da representação da sociedade, se optou pelo pior caminho possível.

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