Vivemos um novembro turbulento, que ainda não acabou. A deflagração da Operação Contragolpe, que resultou na prisão de um general, outros militares e um policial federal envolvidos no potencial planejamento de assassinato contra o presidente e o vice-presidente recém-eleitos, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, ocorre em um contexto delicado de instabilidade institucional e de disputas políticas radicalizadas.
A operação foi desencadeada logo após o atentado terrorista praticado contra o Supremo Tribunal Federal (STF), um marco de radicalização extrema no país que evidenciou a ameaça representada por grupos que se recusavam a aceitar o resultado das eleições presidenciais de 2022. A combinação dos dois eventos, ainda que não tenham relação direta, está inserida dentro de setores golpistas da oposição.
A Operação Contragolpe e suas investigações se somam ao vandalismo em Brasília no dia da diplomação de Lula em 2022, à tentativa de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, às declarações misteriosas da reunião presidencial gravada pelo tenente-coronel Mauro Cid, às violências ocorridas no fatídico 8 de janeiro de 2023 e à explosão de bombas junto ao STF neste mês. Não precisa de grande esforço para entender que existe uma linha que une todos os eventos, mesmo que não tenham sido coordenados.
“O custo de absolver Bolsonaro ou de aprovar uma anistia que o beneficie está cada vez mais alto”
A conjuntura que se coloca traz várias considerações. As articulações golpistas tinham como objetivo minar a democracia brasileira em sua essência, planejando ataques diretos às lideranças eleitas, e destacam a infiltração de ideologias golpistas em setores sensíveis, como as forças de segurança e as Forças Armadas. Caso o planejamento de assassinato de líderes políticos fique evidenciado, a situação é gravíssima. A prisão de indivíduos envolvidos, incluindo um oficial de alta patente, sublinha a seriedade da situação e reforça a necessidade de uma resposta institucional robusta.
Politicamente, a Operação Contragolpe é um golpe adicional nas pretensões eleitorais de Jair Bolsonaro. O custo de absolvê-lo ou de aprovar uma anistia que o beneficie está cada vez mais alto. Ainda que, eleitoralmente, o bolsonarismo não esteja descartado em termos de competitividade eleitoral em 2026, os eventos golpistas podem distanciar o eleitor de centro de suas possibilidades eleitorais.
Os dois eventos de novembro são para Lula muito positivos. Seriam ainda melhores se não houvesse nuvens pesadas sobre a questão fiscal e as expectativas econômicas para o ano que vem. Se, ainda, o governo conseguisse conter as declarações equivocadas, como a da primeira-dama sobre Elon Musk, e, de forma estrutural, soubesse se comunicar melhor, sua situação poderia ficar bem melhor.
Prosseguindo, os episódios ligados ao golpismo fragilizam o ex-presidente Jair Bolsonaro, favorecem temporariamente o presidente Lula e agregam mais responsabilidades aos chefes dos Poderes em conduzir a situação com firmeza e dentro dos marcos constitucionais. Mais do que nunca, o pacto mencionado por mim na coluna passada deve ser considerado. Afinal, não podemos ter um novo processo eleitoral com ameaças às instituições e seus membros como aconteceu em 2022.
Publicado em VEJA de 22 de novembro de 2024, edição nº 2920