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Planejar é preciso

O Brasil deve se preparar para as relações depois da guerra

Por Murillo de Aragão Atualizado em 28 mar 2022, 16h05 - Publicado em 26 mar 2022, 08h00

Mesmo que o conflito na Ucrânia acabe amanhã, o Brasil deve se preparar para um longo período de guerra cultural e comercial, com efeitos profundos nas relações internacionais e em nosso futuro. Para alguns especialistas, a invasão promovida pela Rússia no país vizinho retrocedeu a globalização em trinta anos, além de vulnerabilizar a capacidade do multilateralismo para medir e impedir conflitos. Tais repercussões, contudo, não se limitaram a fazer cambalear o multilateralismo. O jogo do comércio internacional será afetado pela produção reduzida ou inexistente de commodities na Ucrânia e pelos embargos aos produtos russos. Enquanto o conflito se desenvolve na Ucrânia, países estão preocupados em como garantir suas cadeias de suprimento e, até mesmo, como reforçar suas defesas caso a guerra chegue às nações da Comunidade Europeia. É uma situação inédita em décadas.

“O país não pode ficar na mão do acaso, tampouco mendigar favores para vencer dificuldades”

Assim, o Brasil deve tomar decisões estratégicas em relação à nossa cadeia produtiva, que será afetada com a falta de fertilizantes e de combustíveis. Por outro lado, sem a oferta regular do trigo russo e ucraniano mundo afora, o preço da commodity vai subir, com potencial efeito em nossa inflação. Custa crer que o nosso agronegócio e as autoridades competentes nunca tenham se preocupado com estoques e fontes alternativas para casos emergenciais de conflito ou escassez. Tampouco com um plano que visasse à autossuficiência dos ingredientes para a produção de fertilizantes. Situação semelhante se dá com os combustíveis. O Brasil não desenvolveu uma capacidade de refino de petróleo satisfatória que pudesse acompanhar tanto a nossa produção quanto o nosso crescente consumo. Também não desenvolveu uma política de preços e de reservas de petróleo para tempos de crise.

O Brasil tem a característica de ser o responsável direto por mais de 90% dos próprios problemas. Porém, desde a pandemia, e agora com a invasão da Ucrânia, os problemas do mundo exterior nos afetaram significativamente e devem continuar a nos desestabilizar. Quando o Brasil pensou de forma estratégica, organizou um sistema financeiro robusto, empresas e iniciativas como a Embrapa, Embraer, Vale, Petrobras, entre muitas outras. Devemos retomar nossa capacidade de pensar estrategicamente. Precisamos examinar nossas fragilidades e trabalhar para compensá-las. Em vários campos: agricultura, combustíveis, defesa, logística etc. Infelizmente, não vemos o assunto na agenda eleitoral.

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A China, por causa de sua política de segurança alimentar, possui reservas de grãos e de proteína animal para enfrentar eventualidades adversas. Agora, com a guerra, os chineses estão comprando da Rússia todos os ingredientes possíveis para a fabricação de fertilizantes. Eles poderão especular em um mundo desestabilizado. Assim como a China, precisamos ter uma política de segurança alimentar e de autossuficiência de combustíveis para que o país não fique à mercê dos acontecimentos. A lição que fica é que devemos olhar de forma estratégica para as nossas fragilidades e buscar saber como compensá-las. O Brasil, por sua dimensão populacional, não pode ficar na mão do acaso, tampouco mendigar favores para vencer dificuldades pontuais.

Publicado em VEJA de 30 de março de 2022, edição nº 2782

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