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O paradoxo populista

Esse fenômeno na política é fantasia para enganar incautos

Por Murillo de Aragão Atualizado em 3 jun 2024, 17h14 - Publicado em 17 mar 2024, 08h00

O mundo hoje vive o paradoxo do populismo, no qual o viés de direita está mais popular do que as velhas narrativas populistas de esquerda. Sem julgar o mérito da questão, essa é uma realidade. Os resultados eleitorais recentes na Argentina e em Portugal e a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos comprovam tal fato.

O que faz o populismo de direita ser mais popular do que o seu irmão gêmeo, o de esquerda? O fenômeno, seja de direita, seja de esquerda, pode variar consideravelmente em contextos e períodos históricos diversos.

O melhor momento da versão de direita em comparação com a de esquerda pode ser atribuído a várias razões, que muitas vezes se sobrepõem e se interagem.

O movimento de direita com frequência capi­tali­za questões de identidade nacional, cultural ou étnica. E, em períodos de mudança demográfica ou crise econômica, esses assuntos podem se tornar particularmente salientes.

Temas relacionados à segurança, imigração e crime muitas vezes são priorizados pelo populismo de direita. A promessa de medidas rigorosas contra a criminalidade e de controle estrito sobre a imigração pode ser atraente para segmentos da população que se sentem ameaçados ou inseguros.

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A eficácia com que os movimentos de direita usam as mídias sociais e outras formas de comunicação pode ajudar a amplificar a sua mensagem. A habilidade para contornar os meios de comunicação tradicionais e se conectar diretamente com o eleitorado pode ser outro fator-chave.

“Argentina, Portugal e a ascensão de Trump comprovam que o viés de direita está mais popular”

O populismo de direita costuma se beneficiar do descontentamento com as elites políticas e financeiras, promovendo uma narrativa de defesa “do povo comum” contra “essas elites”. Isso pode ser especialmente atraente em tempos de crise econômica ou de corrupção política perceptível.

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Já a versão de esquerda propõe mais Estado, mais intervenção, uma visão internacionalista das políticas e uma certa abdicação da liberdade individual em favor do coletivo. Tampouco constrói uma narrativa de segurança pública, apesar de os regimes populistas de esquerda serem policialescos.

No Brasil, a vitória de Lula se deveu mais aos equívocos e à rejeição a Bolsonaro do que à aderência a suas teses. Na sequência, o governo enveredou pela narrativa que busca popularidade, mas acaba lançando mão do populismo démodé.

Para o observador atento, de direita ou de esquerda, o populismo na política deve ser visto como uma fantasia elaborada para enganar os incautos. E que prospera com base em meias-verdades, mentiras, diagnósticos simplistas e narrativas distorcidas. Essa observação não é meramente cínica. É um reconhecimento de que a construção da civilização, em várias instâncias, sempre esteve atrelada à capacidade humana de criar e acreditar em histórias que simplificam, omitem ou embelezam a complexidade da realidade.

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A humanidade ainda não parece preparada para se livrar das soluções populistas que se apresentam. Principalmente se nossas expectativas acerca de direitos continuarem maiores do que as noções a respeito de nossas obrigações como cidadãos.

Publicado em VEJA de 15 de março de 2024, edição nº 2884

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