A “cadeirada” de José Luiz Datena em Pablo Marçal durante o debate do primeiro turno das eleições paulistanas simboliza a crise e a decadência da social-democracia no Brasil, especialmente no contexto do PSDB. Esse partido, outrora um pilar de uma política centrista e moderada, perdeu seu protagonismo, assim como o projeto social-democrata do PT, que se desintegrou com os erros do segundo mandato de Dilma Rousseff. Hoje, a social-democracia está ofuscada por uma polarização radicalizada, que restringe o espaço para o diálogo e para a construção de consensos — elementos fundamentais para o avanço democrático.
A reorganização política para as eleições de 2026 deveria considerar o resgate da social-democracia como uma proposta que, no passado, proporcionou grandes avanços tanto em termos de desenvolvimento econômico quanto de inclusão social. O modelo surgido com a redemocratização foi crucial para estabilizar o país após a ditadura, promovendo uma visão do Estado como mediador das tensões sociais e econômicas. Tanto o PT quanto o PSDB, embora seguissem trajetórias distintas, procuraram implementar esse ideal, ao construir políticas que combinavam proteção social e responsabilidade fiscal. Recuperar esse equilíbrio será essencial para retomar uma política centrada no diálogo, que promova inclusão e estabilidade.
“Partidos com inclinação social-democrata podem ser os principais articuladores de um pacto de governabilidade”
Uma nova social-democracia deve aprender com os equívocos do passado, evitando tanto o neoliberalismo exacerbado quanto a intervenção estatal excessiva. Além disso, é imperativo abrir-se ao diálogo com novas forças políticas e sociais, abordando demandas contemporâneas como sustentabilidade ambiental, economia digital e transformações no mercado de trabalho. Um ponto central seria o fortalecimento do empreendedorismo, aliado à redução significativa da dependência da sociedade em relação ao Estado. Nesse sentido, partidos como o PSD de Gilberto Kassab, bem como o MDB e setores do PP e PL e da esquerda democrática, podem ocupar um espaço de mediação que influenciará decisivamente a nova configuração política do Brasil. Políticos e partidos com inclinação social-democrata podem ser os principais articuladores de um pacto de governabilidade que vise à redução das constantes guerras institucionais e à promoção, com responsabilidade, do avanço de políticas sociais.
Sem a presença desses atores no centro da mediação entre os poderes, o cenário político continuará fragmentado e radicalizado, o que, em última instância, prejudica tanto o equilíbrio democrático quanto o avanço dos interesses coletivos. A ausência de uma mediação política sólida perpetua um ciclo de instabilidade que não favorece nenhuma das forças em jogo, reforçando a urgência de um consenso que atenda às demandas da sociedade e estabilize as relações entre os poderes. Essa conciliação, porém, parece distante, e a crise endêmica nas relações políticas e institucionais prosseguirá. O interesse específico, mais uma vez, prevalecerá sobre o interesse geral da cidadania.
Publicado em VEJA de 18 de outubro de 2024, edição nº 2915