Afinal, o que é agro?
Entenda as origens do termo que hoje representa um dos setores mais importantes para a economia brasileira
Começo aqui um novo projeto de opinar aos leitores de VEJA sobre o agronegócio. O objetivo é o de levar informações e conhecimento visando auxiliar tanto no entendimento deste complexo setor da nossa economia, bem como auxiliar na tomada de decisões, algo tão difícil neste mundo onde as “variáveis variam violentamente”.
Antes de mais nada, precisamos ter a mesma linguagem para que possamos entender as mesmas coisas. Estamos falando de conceitos. Fica a pergunta deste texto ao leitor: quem é maior, o agro ou a agricultura?
Para responder esta pergunta, temos que voltar a 1957, quando dois professores da Universidade de Harvard, John Davis e Ray Goldberg, cunharam o termo “agribusiness”, que em português foi traduzido para “agronegócios”, ou, mais recentemente, simplificado para “agro”. O motivo de proporem este conceito hoje mundialmente consolidado foi que a agricultura americana nas décadas de 1930 a 1950 englobava muitas atividades que acabaram saindo de dentro das fazendas para serem realizadas por empresas próprias, tais como a produção de fertilizantes, químicos, atividades de processamento de produtos e outras. Então, a agricultura, com a saída destas atividades de dentro das fazendas, foi perdendo importância econômica; era necessário um conceito que trouxesse todos para dentro novamente, de forma holística e que mostrasse o encadeamento das atividades e seu tamanho.
Assim, aparece o termo “agribusiness”, como conceito para a soma das operações de todas as empresas que se encontram: (1) antes das fazendas, vendendo insumos a estas (fertilizantes, defensivos, sementes, máquinas, equipamentos, entre outras); (2) o dentro das fazendas (produção de grãos, hortifrutis, animais, fibras, fumo, madeira e muitos outros); e o (3) depois das fazendas, incluindo as atividades de industrialização (processamento de alimentos, fibras, têxteis, couros, celulose, móveis, biocombustíveis, biogás e outros), as atividades de distribuição (supermercados, restaurantes, empresas de refeições coletivas) e a chegada dos produtos ao consumidor final. O conceito engloba também todos os prestadores de serviços, tais como transportadoras, estocadoras, certificadoras, financiadoras, agências de comunicação, de eventos, serviços jurídicos, de consultoria e por aí vai.
Percebemos com isto que o agro é extremamente maior que a agricultura, já que este segundo termo representa apenas o elo “dentro da fazenda”. Quem respondeu “agro”, acertou. Esta definição é consolidada, tal como as definições de célula, ossos, sangue e outras da medicina. Não se questiona mais.
Outra questão importante, que ainda confunde muitas pessoas no Brasil, é a visão de que o agro é composto apenas por quem é de grande porte. Isto é falso. No agro estão as pequenas, médias e grandes empresas de todos os setores, seja do agrícola (pequenas, médias e grandes fazendas), dos insumos, industriais, de distribuição e de serviços.
Este é o setor mais importante da economia brasileira, representando ao redor de 35% do PIB e metade de tudo o que o Brasil exporta ao mundo. Sejam bem-vindos à nossa coluna, que terá como objetivo falar, de forma simples, das atividades deste setor em todos os seus elos.
Marcos Fava Neves é professor titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).