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Mundo Agro

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De alimentos a energia renovável, análises sobre o agronegócio
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A força de trabalho no agro

Mão de obra é hoje desafio estrutural para crescimento do setor

Por Marcos Fava Neves
Atualizado em 10 Maio 2024, 08h46 - Publicado em 5 out 2023, 14h41

Em minhas andanças pelo Brasil, um dos aspectos que mais me felicita é poder ouvir as pessoas, suas histórias, conquistas e seus desafios. Nos últimos anos, tem me chamado atenção a questão da força de trabalho, assunto recorrente. Como o agro cresceu muito, em especial nos últimos cinco anos, sente-se um desafio maior em encontrar pessoas, tanto em quantidade como em qualidade (adequação) para atender esta demanda.

Para se ter uma ideia, apenas nos frigoríficos de aves e suínos, existem atualmente 20 mil posições em aberto, segundo a Associação Brasileira de Proteínas Animais (ABPA). No campo, faltam operadores de máquinas para plantio, manejo, colheita, tanto nas regiões tradicionais, como nas de fronteira. Há falta em posições administrativas, gerenciais, de vendas e assistência técnica; gerando, inflação e elevado “turnover”.

Entre os fatores de produção que levam à competitividade, a mão de obra é uma das únicas que deteriorou nos últimos anos. Em muitas fábricas temos os venezuelanos e haitianos “salvando a lavoura”. Uma agravante para este quadro é a política pública assistencialista, que coloca muitas pessoas em programas que desestimulam a busca por uma carteira assinada, e estas pessoas acabam prestando serviços informais, trazendo riscos à sua integridade e a quem os contrata.

O Brasil também apresenta problema na força jovem. Como professor universitário há mais de três décadas, vejo que estamos diante de uma geração criativa, conectada e com potencial para crescimento, mas que, por outro lado, está focada em uma visão de curto prazo, uma ansiedade para colher resultados sem mesmo terem feito o plantio, o esforço. Dos 50 milhões de brasileiros entre os 15 a 29 anos, 20% (ou 10 milhões) se enquadram na categoria chamada de “nem-nem”: não estudam e não trabalham.

Outro fator que desestimula o trabalho é o assédio do crime e a questão da impunidade. Roubar, traficar e outros crimes trazem retorno financeiro muito superior e imediato a um jovem, sem que ele seja por vezes punido, a visão de que “o crime compensa” e o trabalho perde estímulo.

Mas, afinal, quais seriam possíveis soluções para lidar com este problema? Com o objetivo central de termos um choque de mentalidade de trabalho e empreendedorismo no Brasil, seguem algumas contribuições:

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1) Fortalecimento das escolas técnicas, com orientação às demandas do mercado, ou seja, guiadas pelas reais necessidades para desenvolvimento do país. Importante também que, além da formação teórica, sejam estruturados programas para estimular os trabalhos de extensão, afinal, a prática é um processo de indispensável para o aprendizado.

2) Reorientação das universidades públicas estaduais/federais, direcionando-as à demanda, estimulando maior integração com o setor produtivo para a formação alinhada às necessidades latentes.

3) Proporcionar (leis/regulamentações) e estimular (programas de incentivo) a atuação do setor privado na formação de profissionais, por meio de investimentos em políticas de treinamento, retenção de pessoas e participação nos resultados.

4) Automação de atividades desgastantes e repetitivas com uso da tecnologia e melhoria das condições de trabalho dos colaboradores (embora esta ação exija conhecimento técnico dos operadores).

5) Política de estímulo a pessoas que queiram construir uma vida digna em regiões de fronteiras de desenvolvimento, onde falta força de trabalho, um programa para conectar oportunidades com a busca pelo trabalho, opção para pessoas que desejam deixar regiões de periferias violentas nos grandes centros urbanos.

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6) Revisão das políticas assistencialistas: inverter a lógica poderia ser um bom caminho. Ao invés de o cidadão perder a bolsa com o início de um trabalho formal, o programa poderia remunerar de forma adicional quem entra no mercado de trabalho.

7) Políticas de imigração criativa, atraindo força de trabalho capacitada de países vizinhos, onde as condições de vida estão se deteriorando e talentos de outros países.

8) Uma revisão completa da política de segurança pública, por esta questão do trabalho, pelo custo social/familiar e para a economia brasileira da criminalidade.

O “mindset” precisa mudar para uma visão de empreendedorismo e geração de valor (soluções para problemas) e o fim do “vitimismo”. Um processo que crie oportunidades as pessoas, afinal, desta forma, as pessoas se transformam, mudam de vida e podem contribuir para mudar a vida de outras pessoas, gerando um ciclo de melhores condições à humanidade.

Apesar de ser um desafio crescente para o agro, o problema relacionado a força de trabalho é algo amplo e que merece esforço em prol de toda a sociedade brasileira, pois está se agravando.

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Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em https://www.harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

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