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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

Roberto Campos Neto sugere fim do parcelado sem juros

Ou… Parcelas do cartão de crédito sem juros em risco

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 22h51 - Publicado em 11 ago 2023, 19h42

O debate – reconhecidamente necessário – para limitar os juros do rotativo do cartão de crédito está camuflando um golpe no varejo e no consumidor – o fim do parcelamento sem juros no cartão.

Para entender: o crédito rotativo é acionado quando o cliente não paga o valor total da fatura do cartão, e joga a dívida para o mês seguinte, com taxas de juros que ultrapassam os imorais índices de 440% ao ano.

Pois bem, para baixar esse juro do rotativo para pouco mais da metade do que é hoje praticado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em audiência no Senado, que vai criar “algum tipo de tarifa para desincentivar o parcelamento sem juros”. Ou seja, vai acabar com parcelado sem juros no cartão. A modalidade, resultante da livre concorrência do sistema financeiro brasileiro, corresponde a 51% das vendas do comércio, tendo movimentado 1 trilhão de reais em 2022, segundo dados do próprio BC.

O impacto dessa restrição, além de ferir a livre concorrência no setor bancário, pode ser desastroso, gerando aumento no custo do crédito para o consumidor final e queda no movimento do comércio. Micro e pequenas empresas utilizam o Parcelamento Sem Juros como capital de giro e varejistas conquistam vendas, fidelizando clientes.

Um empresário da construção civil alertou a coluna, na condição do anonimato, que “para o varejo de material da construção civil, pode significar redução absurda das vendas. Ninguém faz reforma e paga a vista”.

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O argumento usado é que o parcelamento sem juros provoca descontrole das contas, causando inadimplência e empurrando os consumidores para o rotativo. Ou seja, na lógica do presidente do BC seria mais fácil pagar uma fatura com parcelas acrescidas de juros? Sem falar do impacto direto nos preços e nos juros de outras modalidades, ou os bancos vão oferecer linhas de crédito de 1%?

Desnecessário ressaltar que a medida atingiria em cheio o consumo dos mais pobres, justamente daqueles que o governo diz querer melhorar a vida – incluindo aí acesso a bens de consumo duráveis que dificilmente essa faixa da população consegue adquirir sem o parcelamento sem juros, como hoje é feito. Se a proposta for adiante, o impacto pode ser do patamar da polêmica causada pelo anúncio de taxação da Shopee e da Shein, que levou a primeira-dama Janja opinar nas redes sociais, com grande repercussão.

É importante recordar que mais de 40% dos gastos familiares derivam dos cartões de crédito, segundo a própria Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), sendo crucial considerar o papel vital do Parcelado Sem Juros em um período sensível da economia, em que o comércio se recupera de desafios impostos por altas taxas de juros e políticas de crédito muito restritivas. Alterações no Parcelado Sem Juros nesse contexto podem ter efeitos negativos na economia e agravar as vendas no varejo, atrapalhando o crescimento econômico.

Ninguém pode ser contra a redução dos juros do crédito rotativo, mas a “contrapartida” teria que ser mesmo a penalização dos mais pobres e o sufocamento da livre concorrência bancária justamente no aspecto em que ela beneficia a imensa maioria dos consumidores?

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