Para o PT e economistas ligados ao partido, os motores da economia são o gasto público e os juros baixos. O Novo PAC é parte dessa cultura. Por isso, eles condenaram o teto de gastos e apoiaram a cruzada de Lula contra o nível da taxa Selic e as grosserias lançadas sobre o presidente do Banco Central (BC).
Essas não são, todavia, as fontes básicas do crescimento econômico. É a produtividade. Para Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, “a produtividade na economia não é tudo; é quase tudo”. Ela explica mais de 80% do crescimento da economia americana no pós-guerra. Dela advêm mais de 90% do sucesso da agropecuária brasileira.
A redução responsável dos juros contribui para expandir a atividade econômica, mas isso costuma ocorrer apenas na reversão de ciclos de alta, como a que teve início agora com a queda da taxa Selic para 13,25%. Políticas monetárias restritivas — adotadas para “esfriar” a economia — são o padrão nas principais economias para diminuir temporariamente o consumo e o investimento, o que desacelera o ritmo de crescimento dos preços e conduz a inflação à meta.
“O gasto público e a redução das taxas de juros não mudarão estruturalmente a nossa capacidade de crescimento”
Fora disso, a redução dos juros não mudará estruturalmente nossa capacidade de crescimento, que sempre dependerá de mais investimento e produtividade. A política monetária atua apenas nos ciclos econômicos. Claro, juros excessivamente altos prejudicam a economia. O mesmo acontecerá se eles forem excessivamente baixos, em especial quando isso ocorre por ação populista do governo. Nesse caso, a demanda da economia aumentará em ritmo superior ao da oferta. A consequência será mais inflação, o que reduzirá o potencial de crescimento do PIB, do emprego e da renda. O peso maior da irresponsabilidade cairá sobre os mais pobres.
Os juros são mais altos no Brasil do que em outros países porque padecemos de circunstâncias negativas que deles nos diferenciam. Uma delas foi vista recentemente: a forma como empresários e participantes do atual governo se irmanaram na crítica ao Banco Central. Dificilmente se vê algo parecido em nações ricas.
O governo tomou a reação de líderes empresariais contra a taxa Selic como prova de que era chegada a hora de reduzi-la. Pode? Autoridades, acrescentou-se, teriam o direito de criticar o BC. Não é assim. Nos países ricos existe uma regra não escrita, raramente violada, pela qual ministros da Fazenda se abstêm de opinar sobre a taxa de juros. Podem transmitir a impressão de que sinalizam a eliminação da autonomia operacional do banco central.
Felizmente, o início da redução natural da taxa Selic contribuiu, pelo menos por ora, para arrefecer a animosidade ao BC e ao seu presidente. Isso voltará neste governo na hipótese de um novo surto inflacionário que exija ação da política monetária. Estamos longe, pois, de pacificar esse território, menos ainda de entender por que o Brasil tem taxa de juros mais alta do que os países ricos e mesmo do que nossos pares no mundo emergente. Mas isso é tema para outro artigo.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2023, edição nº 2856