Protestos contra Bolsonaro tendem a aumentar
A vacinação aumentará tanto a adesão às manifestações quanto a recuperação da economia. Difícil prever o efeito dessas forças na popularidade do presidente

Muitos analistas previram o fracasso do primeiro movimento de protesto contra o presidente Jair Bolsonaro. Dizia-se que a pandemia e os riscos da aglomeração desencorajariam a adesão. A participação de estimados 500 mil participantes desmentiu essa previsão. Agora, afirmava-se que uma nova tentativa poderia não dar certo, eis que seria realizada menos de um mês depois da primeira. Novo erro. Segundo a Folha de S. Paulo, neste sábado teriam comparecido 750 mil pessoas, isto é, 50% mais do que na primeira vez.
A não ser que novos eventos se repitam com maior frequência – o que poderia ser contraproducente – é provável que se assista a uma elevação do comparecimento nas próximas convocações. Isso porque a vacinação dá sinais de acelerar-se, o que pode contribuir para elevar a confiança dos que estão dispostos a protestar. Ao mesmo tempo, o andamento da CPI da Covid pode contribuir para reduzir a popularidade de Bolsonaro. Embora trate na maioria de fatos conhecidos, a intensidade da exposição dos depoimentos e novas revelações podem atiçar a decepção sobre a forma como o governo se conduz na epidemia, o que engrossaria o nível dos descontentes e, assim, dos que decidem comparecer às manifestações.
Ao mesmo tempo, a vacinação tende a favorecer o presidente. O aumento das imunizações contribuirá para reduzir o número de novos casos e de mortes. Isso permitirá a liberação crescente das atividades econômicas, beneficiando particularmente as relativas ao segmento de serviços, que dependem essencialmente do contato social e de eventos que provoquem aglomerações. A correspondente alta da recuperação da economia elevará a oferta de empregos, particularmente na área de serviços, favorecendo em maior grau os trabalhadores informais. Tudo isso pode contribuir para elevar a popularidade de Bolsonaro e a aprovação do governo.
É difícil dizer qual dessas forças prevalecerá. As manifestações podem diminuir a popularidade do presidente; a vacinação e o ritmo da atividade tenderá a melhorá-la. Seja como for, os movimentos de rua podem ter vindo para ficar, podendo mostrar-se crescentemente numerosos. Seu arrefecimento ou intensidade dependerão também do comportamento de Bolsonaro diante da pandemia e de sua reação aos protestos.