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Maílson da Nóbrega Por Coluna Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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Por que os juros são altos

Parte da explicação está na incerteza de equilíbrio das contas

Por Maílson da Nóbrega 9 set 2023, 08h00
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  • É comum ver comparações equivocadas entre a taxa de juros básica no Brasil e as de outros países. Não se levam em conta diferenças fundamentais entre distintas economias, nem o significado da potência da política monetária, isto é, o poder de sua influência sobre o crédito.

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    Quando a inflação sobe, as competentes equipes técnicas do Banco Central, baseando-se em modelos robustos e na experiência, assessoram o Comitê de Política Monetária (Copom) em como reagir. Se a decisão for por aumentar a Selic, o objetivo será reduzir o consumo e o investimento, esfriar a demanda, arrefecer a pressão dos preços e conduzir a inflação à meta.

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    A potência da política monetária diz respeito à intensidade com que a taxa de juros se transmite ao sistema de crédito. Sucede que, aqui, 40% da oferta de crédito, quase a metade, é pouco sensível às variações da taxa. Nessas operações, os custos financeiros não se alteram com a elevação da Selic. São os casos, por exemplo, do crédito subsidiado do BNDES, do crédito rural e do crédito imobiliário.

    Por isso, a potência é menor do que a observada em países onde é mínima ou inexistente a segmentação do crédito. Suponha um sistema hidráulico de duas tubulações, cujo objetivo é enviar água a um reservatório. Se uma delas estiver bloqueada, será exigido o dobro de potência da bomba para cumprir a mesma função. Só por isso, nossa taxa básica de juros tende a ser duas vezes a observada em países ricos.

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    “Em 2015, o Brasil perdeu o selo de bom pagador. Quanto maior for o risco, maior será a taxa de juros”

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    Outro fator essencial para determinar a taxa básica é a confiança na política econômica. Governos que adotam ações fiscais expansionistas, que podem tornar insustentável a dívida pública, geram riscos de perdas para os investidores. O correspondente desequilíbrio macroeconômico acarreta incertezas que provocam fugas de capital e ações de defesa contra flutuações da taxa de câmbio, o que faz subir o dólar e aumentar a inflação. Nesse ambiente, as expectativas inflacionárias se desancoram e passam a superar a meta de inflação. Torna-se preciso aumentar a Selic para ancorá-las novamente.

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    Adicionalmente, o Brasil perdeu em 2015 a classificação de bom pagador (grau de investimento). O país ficou mais arriscado. Como se sabe, maior o risco, maior a taxa de juros demandada pelos mercados. Na América Latina, entre as economias relevantes, três — Chile, Colômbia e México — exibem grau de investimento, o que por si só permite que as taxas básicas de juros deles sejam mais baixas que a do Brasil.

    Vários outros fatores explicam por que os juros são mais altos no Brasil, inclusive os que determinam a taxa neutra, isto é, aquela que permite a utilização plena do potencial de crescimento da economia sem descontrole da inflação. Muitas reformas estruturais serão necessárias para que nos equiparemos a outros países, inclusive da América Latina. Ainda estamos muito longe do ponto em que a taxa de juros será semelhante à de outros lugares. Dificilmente ela cairá abaixo de 8% nos próximos anos.

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    Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2023, edição nº 2858

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