PIB: crescimento do 1º tri pode não se sustentar
Bom desempenho de serviços ajudou a puxar o resultado no início de 2022; inflação e cenário externo são desafio para os próximos trimestres
O PIB cresceu 1% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior, em termos dessazonalizados. Nos doze meses encerrados em março último, a expansão alcançou 1,7%. Dificilmente esse ritmo será mantido ao longo do ano, como se verá no final.
Pelo lado da oferta, destacou-se a intensidade do crescimento de serviços: 1%. Esse desempenho tem muito a ver com a recuperação dos serviços presenciais, antecipando um movimento que esperávamos ocorresse mais tarde. Daí sua intensidade. De fato, o resultado divulgado nesta quinta-feira, 2, captou a normalização mais veloz nas áreas de alojamento e alimentação. A demanda reprimida de viagens fez com que a redução das medidas sanitárias contra a Covid-19 encorajasse o crescente número de pessoas a viajar.
Na construção civil, que cresceu 0,8% no primeiro trimestre, a influência maior veio de segmentos que utilizam mão de obra intensiva. Como nesses segmentos predomina a informalidade, o IBGE mensura o PIB pela mão de obra empregada, com base nas pesquisas domiciliares. A redução do índice de desemprego, recentemente divulgado pelo IBGE, corrobora essa análise.
A agropecuária recuou 0,9% no mesmo período, devido a fatores climáticos. A indústria ficou praticamente estável, expandindo 0,1%, ajudada em grande parte pela expansão da construção civil.
Pelo lado da demanda, o destaque foi o consumo das famílias, cuja expansão atingiu 0,7% no primeiro trimestre, dessazonalizado. Nos doze meses encerrados em março, o consumo das famílias cresceu 2,2%. Contribuíram para isso o aumento do emprego, que, como assinalado, surpreendeu positivamente no período.
Fatores negativos devem dificultar a preservação do ritmo do primeiro trimestre. Entre eles, destaca-se o ambiente internacional, marcado por desaceleração econômica e persistente inflação, o que tem motivado um maior aperto monetário global. Internamente, a demanda deverá sofrer os efeitos dos altos níveis de inflação e do correspondente aperto monetário nos próximos meses, o que será sentido especialmente em setores mais dependentes do crédito. Preços mais altos corroem a renda dos trabalhadores, reduzindo sua demanda de consumo.
Diante disso, não acompanhamos visões otimistas que têm prevalecido no governo, as quais estimam um crescimento de até 2% do PIB em 2022. A projeção da Tendências Consultoria é de uma expansão de apenas 0,8%.