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Por Coluna
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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Os erros dos supostos golpistas

A reação internacional e o risco de sanções foram ignorados

Por Maílson da Nóbrega 17 fev 2024, 08h00

Ainda levará tempo até que se prove se houve ou não uma tentativa de golpe de Estado. O vídeo da reunião ministerial de 5/7/2022 dá a entender que se discutiu uma intervenção no processo eleitoral, incluindo uma “virada de mesa”. Membros do Tribunal Superior Eleitoral foram tachados de “inimigos”.

Golpes militares ocorriam na época da Guerra Fria. Depois que Fidel Castro depôs Fulgêncio Batista e instalou um regime comunista em Cuba, acentuou-se o temor de ocorrências semelhantes na América Latina, particularmente por parte do governo americano. Enxergava-se o risco de sua repetição em países governados por partidos de esquerda.

Suspeita-se que os serviços de inteligência americanos apoiaram movimentos golpistas, como teria sido o caso no Brasil (1964), no Chile (1973) e em outros países latino-­americanos. Quando o golpe se materializava, o novo governo era reconhecido imediatamente pelos Estados Unidos e logo depois por nações europeias. Com o colapso da União Soviética em 1991 e o consequente fim da Guerra Fria, a situação mudou. Golpes de Estado deixaram de ser vistos como contraponto à ameaça comunista. Passou-se a condenar a ruptura democrática, inclusive com o estabelecimento de sanções econômicas contra os países que sofressem intervenção militar.

“O golpe poderia acarretar sanções contra o Brasil, o que isolaria o país e prejudicaria empresas privadas”

No Brasil, após a redemocratização, os currículos das academias militares foram revistos, privilegiando-se a visão de que elas são apolíticas e órgãos do Estado. Ouvi de um general de quatro estrelas, que chefiou a área da educação no Exército, as exigências para o ingresso no oficialato. Nenhum cadete pode ser incorporado se não passar em teste de proficiência em inglês. A partir da patente de major, disse-me ele, o oficial realiza três viagens anuais ao exterior para participar de cursos, seminários ou manobras militares.

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Segundo Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getulio Vargas, em artigo no jornal O Estado de S. Paulo (12/2/2024), autoridades de alto nível do governo americano, incluindo o próprio secretário de Defesa, Lloyd Austin, vieram ao Brasil em 2022 para manter contatos com as Forças Armadas. Isso envolveu também o Departamento de Estado, a CIA, a Casa Branca, o Senado e o Pentágono. Alertou-se que o desrespeito ao resultado das eleições presidenciais provocaria redução drástica da relação militar com os Estados Unidos. Como se sabe, o presidente Biden foi um dos primeiros chefes de Estado a cumprimentar Lula pela vitória eleitoral.

O golpe poderia acarretar outras consequências, muito provavelmente sanções contra o Brasil, o que isolaria internacionalmente o país. Prejudicaria empresas privadas brasileiras que atuam no comércio mundial e a atividade econômica. A resistência ao suposto golpe não decorreu dessas ações preventivas do governo americano, mas provavelmente da oposição dos principais líderes das Forças Armadas. Difícil acreditar que os promotores da suposta intentona não tenham percebido o risco de sanções. Daí falar-se em “golpe tabajara”.

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

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