O PT e a greve contra os pobres
Se os manifestantes forem vitoriosos e derrubarem as reformas, o efeito será o colapso da economia, a volta da inflação e perdas para os mais carentes
A greve geral que as centrais sindicais e as corporações promovem contra as reformas da Previdência e da Legislação Trabalhista é um movimento contra os pobres. Dizem defender os trabalhadores contra eliminação de direitos, sem qualquer evidência de que isso vá acontecer. Assim, resta concluir que os líderes do movimento organizaram, a rigor, uma ação política para deter as mudanças e desmoralizar o governo. Claro, há um componente não desprezível de desinformação, mas o objetivo final é inequivocamente político.
Pior, a greve tem apoio enfático do PT. Por ter ficado treze anos no poder, o partido – ou pelo menos Lula e seus principais líderes – deveria saber que a situação é insustentável. Difícil acreditar que nada tenham aprendido sobre a situação financeira da Previdência.
Se o movimento provocar a rejeição das reformas, a economia entrará rapidamente em colapso. Apesar de o Tesouro encontrar-se em rota de insolvência fiscal, os investidores compraram a ideia de que em alguns anos esse risco desaparecerá. Além da aprovação do teto de gastos, o ajuste fiscal prosseguiria com a reforma da Previdência. Outras reformas ocorreriam no próximo governo. Assim, por volta de 2026, a relação entre a dívida pública e o PIB – o principal indicador de solvência do Tesouro – chegaria a 80% ou 90%, mas depois declinaria para patamares sustentáveis.
A rejeição da reforma desmontaria instantaneamente essa premissa. A crise de confiança e a fuga de papéis públicos ocorreriam imediatamente. Seria o gatilho para uma crise sem precedentes. Já tivemos crises, inclusive a atual, infligida pela má gestão do PT. Mas todas foram gestadas ao longo de anos, com picos e aqui e acolá. Desta vez, pode ser uma explosão.
O Tesouro, sem a confiança dos investidores, teria, para financiar a dívida, que recorrer a emissões de moeda e a aumentos de impostos. Entraríamos em situação de dominância fiscal, aquela em que o Banco Central perde a capacidade de assegurar a estabilidade da moeda. Estaria aberto o caminho para a volta da inflação desembestada.
A inflação é um imposto perverso, cobrado dos que dela não podem ser defender, isto é, os pobres. Sem a modernização da legislação trabalhista, continuaríamos a perder produtividade e potencial de crescimento. O desemprego se elevaria. Seria a segunda paulada contra os pobres. O encolhimento drástico do emprego os atingiria frontalmente. Como se sabe, o desemprego prejudica a parcela menos qualificada dos trabalhadores, isto é, os pobres.
O PT apoia a greve geral na expectativa de colher os frutos políticos da derrocada do governo Temer, mas o colapso da economia criaria o ambiente para a eleição de um demagogo pior do que os mais desavisados petistas. Mesmo que ganhasse as eleições de 2018, o PT herdaria os escombros de uma economia destruída. De que valeria tamanha irresponsabilidade?
Tudo indica, felizmente, que a greve não deterá as reformas. Só acarretará desconforto para a população.