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Maílson da Nóbrega

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O incrível veto ao cogitado para o Ministério da Educação

Além de perder a oportunidade de ter um nome de peso no ministério, Bolsonaro curvou-se aos desígnios de uma bancada parlamentar, o que é preocupante

Por Maílson da Nóbrega 23 nov 2018, 10h13

O veto público ao nome de Mozart Ramos, cogitado para assumir a pasta da Educação no governo de Jair Bolsonaro, não tem paralelo no Brasil. O veto foi feito pela bancada evangélica, que nele identificou visões contrárias à sua ideologia. Ele seria contrário à proposta de educação sem partido, que a frente tem lutado para aprovar no Congresso. Tudo indica que essa ideia é prejudicial ao funcionamento das escolas e à educação, mas isso é outra história. O ponto a destacar é o ineditismo da recusa, que foi precedida de ataques nas redes sociais tanto contra Mozart quanto ao Instituto Ayrton Senna.

Veto público a um nome para ocupar um ministério ocorreu em 1987, mas não por um partido grupo parlamentar que sequer tem prerrogativas de partido. Isso aconteceu quando o ex-presidente Sarney aceitou a renúncia de Dilson Funaro, então ministro da Fazenda, e anunciou como novo titular da pasta o então governador do Ceará, Tasso Jereissati. Ulysses Guimarães, presidente da Câmara, do PMDB e da Assembleia Constituinte, convocou imprensa para vetar a escolha.

Sarney, que reconhecia sua fraqueza política diante do “triplo presidente” e figura de proa da resistência política ao regime militar, curvou-se ao veto e solicitou que Ulysses indicasse o ministro. Luiz Carlos Bresser Pereira se tornou o novo titular da pasta.

Ao curvar-se à bancada evangélica, Bolsonaro perdeu a oportunidade de nomear um dos melhores nomes para conduzir e reformar a educação brasileira. Mozart é conhecido por sua inegável competência na área, construída ao longo de uma carreira brilhante como educador (foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco) e pessoa de alta reputação e destaque nos debates sobre os melhores rumos para melhorar a qualidade da educação brasileira.

Bolsonaro apresentou como credencial do futuro ministro, o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, o fato de ter escrito trinta livros e ser professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Rodriguez teve apoio, diz-se, do filósofo de extrema direita Olavo de Carvalho, que também teria influenciado a escolha do futuro ministro das Relações Exteriores, um admirador de Donald Trump que enxerga ameaças maoístas na China, a nossa principal parceira comercial. Rodriguez é desconhecido de educadores de destaque e nunca foi relevante nos debates sobre o futuro da educação brasileira.

Mais do que ter perdido a oportunidade de ter um nome como Mozart em seu ministério, Bolsonaro emite um sinal preocupante ao submeter-se aos desígnios de uma bancada parlamentar. Como será, então, sua capacidade de liderar e articular apoio ao Congresso em favor de reformas polêmicas como a da Previdência? Aí está o risco, o da ausência de governabilidade para aprovar os pontos mais relevantes de sua agenda de governo.

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