ASSINE VEJA NEGÓCIOS
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história

Há pelo menos seis causas para a greve dos caminhoneiros

É preciso aprender com a crise, estabelecendo sistemas de inteligência e estratégia para prevenir e enfrentar situações como esta

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 30 jul 2020, 20h27 - Publicado em 27 Maio 2018, 12h42

A crise provocada pela grave dos caminhoneiras tem causas remotas e atuais. Pelo menos seis podem ser listadas:

Primeira: a cultura da classe política, que evita enfrentar problemas, preferindo a estratégia da acomodação.  Michel Temer pertence a esse grupo.  Busca ser sempre popular, se possível jamais desagradar ninguém. Por isso, só usou os recursos de que dispõe a Presidência depois que a situação fugiu do controle. Atitude distinta teve Ronald Reagan quando os controladores de voo americanos entraram em greve, ameaçando interromper o tráfego de aviões. O presidente Reagan demitiu todos e convocou militares da Aeronáutica para substituir os grevistas.

Segunda: o abandono, entre os anos 1950e 1960, do transporte de trem em favor do caminhão com a implantação da indústria automobilística. Hoje, 66% do transporte de cargas do Brasil é feito por caminhões. Países continentais privilegiam o transporte ferroviário e fluvial. O modal rodoviário é minoritário: China, 32%; Rússia, 5%; EUA, 43%.

Terceira: a Constituição de 1988, que atribuiu aos estados o poder de fixar as alíquotas do ICMS. Todos aumentaram fortemente as alíquotas de itens de difícil sonegação, como energia, telecomunicações e combustíveis. Gasolina e diesel têm alíquotas de até 35%, afora Pis, Cofins e Cide. Nenhum país tributa tanto os combustíveis como o Brasil, o que gera forte impacto nos custos de operar caminhões.

Quarta: os governos tucanos e petistas mais do que triplicaram o valor real do salário mínimo, que reajusta hoje 75% das aposentadorias e pensões do INSS. Os gastos previdenciários passaram a consumir mais da metade dos gastos primários da União. Quando se consideram as despesas obrigatórias em educação e saúde, temos mais de 90% do orçamento sem margem de manobra.

Continua após a publicidade

Quinta: a rigidez orçamentária comprimiu os gastos com infraestrutura, principalmente a de transporte.  Na década de 80, o setor público investia mais de 5% em infraestrutura. No ano passado, pouco mais de 1% do PIB. Resultado: piorou drasticamente a qualidade das estradas. A situação poderia de sido contornada com concessões ao setor privado, mas os governos petistas congelaram o programa por sete anos. Estradas ruins são uma das principais causas da elevação de custos de manutenção de caminhões.

Sexta: excesso de financiamento de caminhões pelo BNDES, nos governos do PT. Isso aumentou muito a oferta de serviços de carga, contribuindo para limitar reajustes de fretes quando há aumento de custos.

Os caminhoneiros autônomos e as empresas de transporte de carga têm razões para reclamar, mas não o direito de fazer refém a sociedade brasileira, como o fizeram diante da incompetência e da fraqueza do governo em lidar com a greve. O uso das forças armadas deveria ter sido o passo inicial.  Negociações só deveriam ter sido admitidas depois do desbloqueio integral das estradas e, se necessário, com a requisição dos caminhões para serem dirigidos por motoristas das forças armadas.

Espera-se que este e os próximos governos aprendam as duras lições da crise, seja para dotar o país de recursos de inteligência com vistas a detectar ameaças como essa, seja para dispor de estratégia capaz de permitir ação rápida contra riscos de colapso do abastecimento vital, decorrentes de atos de caminhoneiros irresponsáveis e de empresas oportunistas que possam submeter o país a locautes.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas R$ 5,99/mês*
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Nesta semana do Consumidor, aproveite a promoção que preparamos pra você.
Receba a revista em casa a partir de 10,99.
a partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.