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Constatações desoladoras

A cultura política e a visão sobre as estatais não mudaram

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 22 jun 2018, 06h00 - Publicado em 22 jun 2018, 06h00

A greve dos caminhoneiros revelou uma nova corporação. Ela pode paralisar o país, ameaçar a normalidade do abastecimento, prejudicar as exportações e comprometer o funcionamento de hospitais, aeroportos e demais pontos críticos. Nenhuma outra, entre as muitas que defendem seus interesses contra os da maioria, é tão poderosa. Há que pensar em formas de lidar com essa realidade.

A origem remota do problema está na prioridade conferida nos anos 1950 ao transporte rodoviário, em detrimento de outros modais. Cabe lembrar que o transporte ferroviário predomina em países de dimensões continentais como o nosso.

Outra causa é a Constituição de 1988, que provocou aumento da tributação de combustíveis e redução dos investimentos em infraestrutura, por imposição da rigidez fiscal. A redução piorou a qualidade das estradas e elevou os custos da logística.

Os governos do PT contribuíram para a crise. Concederam incentivos à compra de caminhões e geraram a maior recessão da história. A oferta de frete subiu e a recessão fez a demanda cair.

Tudo isso levou à redução da margem de lucro ou trouxe prejuízo aos caminhoneiros, que não tinham como elevar o valor do frete. A situação piorou com os aumentos do diesel. Os caminhoneiros tinham lá suas razões.

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Outra revelação foi o comportamento do governo, guiado pela velha cultura política, que busca acomodar pressões e nunca descontentar ninguém. Sem estratégia para prevenir a crise e lidar com as pressões, ele reagiu tarde e às tontas.

A experiência de crises como essa ensina que a negociação deve ser condicionada ao retorno da normalidade, no caso o desbloqueio das estradas. Se isso não acontecer, é preciso lançar mão dos recursos do Estado para garantir o direito de ir e vir, de trabalhar, de cuidar da saúde e de abastecimento.

O governo cedeu antes e tornou-se refém dos grevistas. Concedeu mais do que deveria, transferindo a conta para os que pagam impostos. Sacrificou programas relevantes nas áreas de educação e tecnologia, para compensar os custos da capitulação.

Mais uma constatação: não aprendemos com experiências fracassadas. Aceitaram-se uma nova reserva de mercado (30% dos fretes da Conab para os caminhoneiros) e o tabelamento de preços (lei garantindo valores para fretes). Os caminhoneiros foram instigados a controlar o preço do diesel. Só faltou ressuscitar a Sunab!

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Arcaicas ideias sobre as estatais mostraram-se mais vivas do que nunca. Houve quem propusesse que o preço dos combustíveis refletisse apenas os custos de refino, pois o petróleo seria grátis. Senadores condenaram a bem-sucedida gestão da Petrobras e pediram a demissão do seu presidente. Para um deles, a empresa “precisa de visão empresarial, sensibilidade social e responsabilidade política”. Foi por aí que o PT quase quebrou a empresa.

A greve, a incompetência do governo, a atitude dos políticos e a reação da sociedade mostraram que ainda temos muito a evoluir. Está difícil ser otimista.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588

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