Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
Continua após publicidade

A nova CPMF e o carro de boi

É complexo fabricar um Boeing 747, que tem seis milhões de peças, mas ninguém o trocaria pelo carro de boi, que é simples, como meio de transporte

Por Maílson da Nóbrega
Atualizado em 11 set 2019, 15h30 - Publicado em 11 set 2019, 11h14

Ao anunciar a reforma tributária que será encaminhada ao Congresso, o secretário-adjunto da Receita Federal, Marcelo de Souza e Silva, defendeu a recriação da CPMF. De forma surpreendente para um especialista em tributação, o secretário teceu loas à nova incidência, que será cobrada em cascata, isto é, incide sobre ela mesma várias vezes.

Silva acentuou a simplicidade da nova contribuição e a desnecessidade de lançamentos, mas ocultou suas desvantagens: tributação em cascata – que gera ineficiências e reduz a competitividade – e o fato de tornar-se, mais tarde, uma saída para aumentar a arrecadação nos apertos fiscais. Isso sempre acontece com tributos fáceis de arrecadar.

Valeria perguntar ao secretário: 1) Por que nenhum país relevante se encantou com esse tipo de tributação? Se o tributo é tão fantástico, por que não substituir por ele todo o sistema tributário, como pregam os empresários que não estudaram bem o assunto?

Desde a Revolução Industrial (século XVIII, na Inglaterra), a economia fica mais complexa e mais eficiente. As cadeias produtivas se alongam com a terceirização do suprimento de matérias-primas, partes e componentes, agora em redes globais. Apesar da complexidade, o mundo ficou mais rico.

Os sistemas tributários se adaptaram a essa realidade, mediante a criação de incidências neutras quanto aos preços e à complexidade do processo produtivo. A tributação do consumo passou a ser feita na venda final ao consumidor (caso do sales tax americano) ou ao longo da cadeia de produção e comercialização, mediante incidência sobre o valor agregado em cada etapa. Não existe tributação em cascata em qualquer desses casos.

Continua após a publicidade

Na economia, há um exemplo impressionante: a fabricação do Boeing 747. São seis milhões de peças que o integram em sua linha de montagem em Seattle, EUA.

No mundo simples de antes da Revolução Industrial, o transporte era feito por carroças e charretes. Nos sertões do Brasil, os meios de transporte eram o cavalo e o carro de boi, um veículo simples que demanda umas poucas dezenas de partes, peças e componentes.

Ninguém de bom-senso defende que o mundo opte pelo carro de boi, um meio de transporte simples que não requer emplacamento, pode ser produzido de maneira rápida e não consome combustíveis. O Boeing 747 pode levar até dois meses para ser montado. O carro de boi não mais do que uns poucos dias.

Continua após a publicidade

Apesar de sua complexidade, o avião da Boeing é o meio preferido para transporte de passageiros e cargas de longa distância, com a vantagem adicional de poder cruzar os mares, propriedade de que não goza o carro de boi.

Custa crer que uma equipe econômica composta de tantos e competentes economistas, que devem conhecer a teoria da tributação e a experiência local e internacional na matéria, defendam uma barbaridade como a CPMF. Felizmente, tudo indica que a proposta será rejeitada no Congresso.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.