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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central
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Sinal amarelo

O Banco Central prepara o terreno caso precise mudar

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 3 jun 2024, 17h02 - Publicado em 5 abr 2024, 06h00

Ler as atas do Comitê de Política Monetária (Copom) não é exatamente um deleite, pelo menos para quem não tem como profissão analisar a comunicação do Banco Central à procura de pistas sobre o futuro da taxa de juros. Não que os temas ali tratados sejam irre­levan­tes: inflação, emprego, crescimento, entre outros, são aspectos importantes do nosso cotidiano e merecem atenção especial.

Isso dito, trata-se de documento técnico, cujas nuances (ênfases a determinados assuntos, alterações de linguagem e tom, parágrafos que sumiram de uma reunião para outra etc.) costumam ser objeto de longos (e tediosos) debates entre especialistas.

A edição mais recente não é exceção, principalmente porque abre a possibilidade de mudança na postura do BC com respeito ao comportamento da taxa de juros e, consequentemente, de crescimento, inflação, emprego e dólar, para ficar apenas nos mais óbvios.

Muito embora o BC afirme lá que seu cenário-base quanto à evolução esperada da economia permaneça inalterado e que pode, portanto, continuar o processo de redução da taxa de juros, ele alerta que há mais riscos agora do que no começo do ano.

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Parte da incerteza está associada ao ambiente internacional. No primeiro trimestre, os números de inflação nos Estados Unidos não foram tão positivos quanto se esperava, revelando lentidão na convergência para a meta de inflação (2% ao ano). Ao mesmo tempo, a economia americana continuou a dar mostras de força, especialmente no que se refere ao mercado de trabalho.

“O ciclo de distensão monetária pode terminar antes ou com uma taxa de juro mais alta”

Ambos os desenvolvimentos tiraram a urgência de redução dos juros por lá. No começo de 2024 apostava-se no primeiro de cinco ou seis cortes da taxa de juros ocorrendo já em março; hoje, o mercado aponta o primeiro de três cortes apenas em junho (ou julho).

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Aqui a inflação também surpreendeu o BC, acumulando nos primeiros meses do ano 0,4 ponto percentual a mais do que o Copom previa no final de 2023. Assim, muito embora o BC tenha mantido sua projeção de inflação para 2024 (3,5%), vai precisar de um tanto de sorte para que nos próximos trimestres o ritmo de aumento de preços surpreenda para baixo.

Da mesma forma que nos EUA, o mercado de trabalho no Brasil se mostra mais forte do que o esperado. Até janeiro, o BC não parecia particularmente preocupado com isso, atribuindo inclusive a elevação dos salários acima da produtividade (portanto, pressão sobre os preços) mais a fatores pontuais do que a algo sistemático. Tal percepção mudou e foi devidamente expressa na ata do Copom. O resultado da maior incerteza é, por enquanto, uma provável redução no ritmo de corte de juros: em maio ainda 0,50%, mas a partir daí 0,25% por reunião.

Obviamente, um ritmo menor não implica necessariamente que o BC encerrará o ciclo de corte de juros em patamares superiores ao que se espera hoje. Um cenário possível contempla terminar no mesmo lugar, mas um pouco mais tarde. Outro, menos favorável, envolve encerrar o ciclo de distensão monetária com o juro mais alto. A ata pavimenta o caminho para ambos, acendendo o sinal amarelo quanto à extensão da queda da taxa de juros.

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Publicado em VEJA de 5 de abril de 2024, edição nº 2887

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