A economia está em desaceleração. Segundo o IBGE, no terceiro trimestre o PIB cresceu apenas 0,1%. Assim, o crescimento em doze meses, que atingira 3,6% em março deste ano, o melhor resultado desde o início de 2022, caiu para 2,7%, e a perspectiva é que fique na casa de 2,3% em 2025. A causa próxima é a perda de fôlego da demanda interna, que no fim do ano passado se expandia a pouco menos de 5%, liderada pelo consumo, mas que nos doze meses até setembro aumentou cerca de 2,5%. Um olhar mais detalhado sugere que a desaceleração do consumo é o principal fator por trás do processo.
Descendo mais um nível na cadeia causal, a razão mais provável para isso é o aumento da taxa de juros promovido pelo BC desde setembro de 2024, de 10,5% para 15% ao ano, que encarece o crédito e, portanto, freia o ímpeto dos consumidores. Trata-se, assim, de um fenômeno intencional: o BC quis desacelerar a economia e o fez por meio de seu principal instrumento.
Não se trata de sadismo do Copom, embora não falte quem acredite nessa hipótese. A razão adulta, porém, é bem mais simples: a economia estava sobreaquecida, isto é, crescendo além do ritmo que poderia sustentar de maneira compatível com a inflação convergindo para a meta. Isso é evidente no comportamento da inflação, que recuara até 3,7% em abril do ano passado, para atingir 5,5% nos doze meses até abril de 2025.
“A lição é que crescimento de verdade requer investimento e produtividade, não gastos e favores”
Contra esse pano de fundo, a questão realmente séria é saber por que o Brasil não consegue crescer mais rápido sem que isso leve a inflação a se distanciar da meta, fazendo com que o BC, na falta de outra autoridade responsável, tenha frequentemente de pisar no freio.
O principal motivo é o desempenho lamentável da produtividade. De 2012 para cá, o produto por trabalhador ficou praticamente estagnado, apesar do impulso da agricultura, cuja produtividade aumentou ao ritmo de 6% ao ano. Assim, para aumentar a produção em geral, a única saída é contratar mais pessoas. Todavia, isso não pode continuar indefinidamente: em algum momento a mão de obra começa a escassear e, portanto, os salários começam a subir além da produtividade, o que, convenhamos, não é difícil à luz dos números acima mencionados. O aumento dos custos, principalmente no setor de serviços — que não está sujeito à concorrência externa —, acaba se tornando repasse e aumento de preços.
Não por outro motivo, a inflação de serviços, principalmente os intensivos em trabalho, tem puxado o IPCA. O aumento do investimento poderia mitigar esse problema, mas a verdade é que o investimento nos últimos três anos nem sequer chegou a 17% do PIB, enquanto, entre 2007 e 2013, atingiu em torno de 21% do PIB. Investíamos mais naquele momento, entre outras coisas, porque também poupávamos mais: 18% do PIB ante 14,5% do PIB nos últimos três anos.
Tais números sublinham os limites do modelo de crescimento baseado no consumo, patrocinado pelo atual governo, cuja política de gastos enfatiza o aumento das transferências, que, nas palavras do presidente, “fazem a economia circular”. Preciso, se interpretarmos como “fazer a economia andar em círculos”, mas crescimento de verdade requer investimento e produtividade, não gastos e favores, lição que o atual governo ainda não entendeu.
Publicado em VEJA de 12 de dezembro de 2025, edição nº 2974
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