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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O fantasma da inflação de alimentos

Com a pandemia e a seca, preços agrícolas estão subindo e podem dificultar a retomada econômica

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 set 2020, 12h15 - Publicado em 31 ago 2020, 13h10

A inflação baixa é a maior conquista econômica dos últimos anos. Qualquer plano sobre o futuro do país parte do princípio que a estabilização dos preços desde 2017 é um fato dado, e isso assegura a recente política de queda de juros e ajuda nas expectativas de se manter a política fiscal sustentável. Só que está em curso um núcleo perigoso de inflação dos alimentos que pode afetar todos os planos de retomada da economia.

Parece um contrassenso escrever sobre inflação quando todos os analistas apontam que o IPCA desde ano deve fechar em 1,77%, o menor índice em 22 anos. Mas no setor alimentar a história é outra. Pesquisa da Associação Paulista de Supermercados mostra que de janeiro a julho, os preços variaram em média em 0,6%, enquanto a inflação só de alimentos foi de 4,98%. A consultoria MB Agro estima que a inflação dos alimentos pode passar de 8% este ano, mais de quatro vezes o índice da inflação oficial.

A alta de alimentos é uma combinação de fatores. O auxílio emergencial aumentou a renda entre os mais pobres e multiplicou o consumo de alimentos básicos; a paralisação das indústrias no primeiro trimestre da pandemia desequilibrou a produção de máquinas; as sanções americanas à China fizeram o Brasil aumentar as exportações para o país asiático, reduzindo os estoques internos; a desvalorização do real encareceu a importação de trigo, fertilizantes e agrotóxicos; e a seca no Centro-Oeste, que dura três meses, é uma das maiores das últimas décadas. O tamanho da variação do dólar do dólar ainda é uma incógnita para os próximos meses _ especialmente com a insegurança geral sobre o rumo da política fiscal.

A pesquisa do Banco Central (IC-BR) para preços no atacado mostra uma alta perigosa nos preços dos alimentos nos últimos três meses:

· Carne de porco 67%

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· Arroz 41%

· Óleo de soja 27%

· Milho 20%

· Carne de boi 14%

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· Trigo 13%

Todos os produtos da pesquisa tiveram altas acima de 40% nos últimos doze meses, com o arroz tendo dobrado de preço em um ano. Parte desses preços ainda não foram repassados para o varejo.

Como há deflação em outros setores, o efeito da alta dos alimentos no IPCA de 2020 será limitado. O Ministério da Agricultura negocia a redução emergencial da alíquota de importação de trigo e arroz para baixar os preços internos e muitos setores simplesmente reduziram suas margens. O setor de frango e ovos, por exemplo, que ganhou muito no início da pandemia, agora está incorporando os aumentos da ração porque não tem espaço para repassar os aumentos para os preços.

Para os mais pobres, porém, é no preço comida que a inflação mostra sua cara. A inflação de alimentos tem um efeito direto na política. Em 2013, por exemplo, o registro da inflação oficial estava dentro do limite da meta do Banco Central, mas os alimentos estavam subindo acima de dois dígitos, um dos componentes para os protestos de rua que abalaram o governo. Como o Auxílio Emergencial, na prática, aumentou a renda dos mais pobres, essa alta de preços está passando despercebida agora. Quando o auxílio acabar, no entanto, a inflação de alimentos vai ser sentida por quem mais precisa.

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