Bolsonaro consegue derrubar lei de salários iguais sem nem usar a caneta
Empresas como XP, BR Partners, Natura, AlmapBBDO, WMcCann e Leo Burnett se colocam à frente quando o assunto é equidade salarial
O presidente Jair Bolsonaro disse em sua live na quinta-feira passada que estava pensando em vetar a lei de salários iguais, que prevê multas pesadas às empresas que descumprem a regra. Ele sugeriu que ia ficar mais difícil para as mulheres conseguirem empregos. Lançou até uma enquete para saber se deveria sancionar ou vetar o projeto. Nem precisou do resultado da enquete, tampouco vai precisar usar sua caneta, pois o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, saiu em seu socorro e chamou o projeto de volta à Câmara. A alegação é de que alterações feitas no Senado deveriam ter feito com que o projeto retornasse à Câmara antes de ir à sanção. O projeto foi direto à sanção por conta de acordo entre as duas casas durante a pandemia e a alteração feita no Senado até suavizava as novas multas ao acrescentar um “até ” no texto.
A bancada feminina do Congresso já faz a previsão: mais dez anos para ser aprovada novamente. A equidade salarial já é lei, mas com multas brandas que não chegam a mil reais e que são revertidas ao governo. O PLC 130, que tramitou por 10 anos e já estava na mesa de Bolsonaro, prevê multas que podem chegar “até” 5 vezes a diferença salarial verificada em todo o período da contratação e as indenizações são destinadas às empregadas e não ao governo.
Durante o fim de semana, o Radar Econômico perguntou a dezenas de empresas e presidentes se deixariam de contratar mulheres, como sugeriu Bolsonaro que poderia acontecer, por conta das regras mais duras. Muitas delas preferiram o silêncio. Outras se posicionaram na vanguarda desta discussão. Veja a seguir:
Equidade
A XP contou que já pratica equidade salarial e que quer ser o agente transformador do mercado financeiro. Para isso, estabeleceu a meta de ter equidade de gênero em todos os cargos até 2025. A Natura informou que já tem mais de 50% de mulheres em cargos de liderança na empresa. O presidente da BR Partners, Ricardo Lacerda, disse que já pratica equidade no seu banco e nunca deixaria de contratar uma mulher.
No mercado publicitário, as respostas foram veementes. O presidente da AlmapBBDO, Filipe Bartholomeu, foi enfático ao dizer que “evidentemente não deixaria de contratar mulheres”. O presidente da Leo Burnett, Macio Toscani, diz que a equidade salarial entre homens e mulheres é vital para evolução da sociedade. A WMcCann que já tem 50% de mulheres na liderança e 55% delas no quadro total da empresa, fez um diagnóstico mais profundo: “a maioria das empresas ainda está lutando em uma fase inicial do jogo para aumentar seu percentual de mulheres em posição de liderança e no quadro geral, e ainda lidam com dilemas que envolvem discussões sobre licenças, filhos, viagens, ambições pessoais e adaptações de ambiente”, disse a diretora de recursos humanos, Paula Molina.