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A coluna trata de desigualdade, com destaque para casos em que as prioridades na defesa dos mais ricos e mais fortes acabam abrigadas na legislação, na prática dos tribunais e nas tradições culturais
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Mais do mesmo será menos para os muitos que sempre perdem mais

Com menos dinheiro e disputa feroz por investimentos, o mundo pós-pandemia não parece servir no modelo adotado pelo ministro Paulo Guedes

Por Marcos Emílio Gomes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2020, 11h26 - Publicado em 1 Maio 2020, 19h18

Na Alemanha, 13% das famílias tiveram em março renda menor do que em janeiro. Na França, em 18% das residências houve queda nos rendimentos no mesmo período. Na Itália, 33% das famílias perderam renda – e, dessas, metade já estavam entre as mais pobres daquele país.

O desemprego nos Estados Unidos está prestes a atingir 30 milhões de trabalhadores. O país sai da menor taxa em mais de 50 anos para um número que pode bater os 25% de desemprego registrados durante a grande depressão, nos anos 30 do século passado.

No Brasil, a estimativa do Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar, é de que a taxa de desemprego mais recente, de 12,2% no último trimestre, pode dobrar nos próximos meses. Como há problemas até para contar os mortos da Covid-19, nada indica que este número também não esteja sendo subestimado. No site Ora Essa!, o artigo “A má temática da aritmética” trata do assunto, neste link.

Com tamanhos retrocessos, como é possível que os impactos negativos sobre os PIBs desses e de outros países estejam sendo calculados na casa do 3% no máximo, como mostra o estudo mais recente sobre da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, divulgado em março, quando já sobravam informações sobre a intensidade da pandemia?

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A resposta é tragicamente simples. A queda de renda, embora seja dantesca para a maior parte da população mundial, é irrelevante para a pequena parcela que detém a maior parte dos recursos disponíveis. Exatos 2.153 bilionários acumulam mais riqueza do que 60% da população da Terra, conforme o dado mais recente divulgado pela organização britânica Oxfam.

Essa Ong é periodicamente desqualificada por não considerar a economia informal em suas análises e por considerar pobre qualquer cidadão da classe média americana que tenha mais dívidas do que patrimônio.

O fato, porém, é que, nas atuais circunstâncias epidêmicas, em que os informais têm praticamente renda zero e os endividados têm pouca chance de cobrir seus débitos, suas contas estão mais próximas da realidade do que em qualquer outro momento da história.

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O drama em torno desse universo virótico de desigualdade agravado pelo vírus propriamente dito é que autoridades que poderiam atuar para minimizar o problema sofrem da síndrome de Poliana, que os leva a acreditar que podem tratar uma doença nova aplicando um remédio antigo.

O ministro Paulo Guedes alinha-se a essa turma e afirma que a solução para sair da crise inédita é, como sempre, buscar investimento privado, com ampliação das privatizações e das concessões, criando empregos e reativando a economia.

A teoria ignora duas circunstâncias. Uma é que a disputa por investimentos que possam gerar empregos não mais se dará apenas com países que antes estavam nesse jogo, mas passará a incluir também algumas nações que eram, elas mesmas, exportadoras de capital, antes da crise.

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A segunda é que, graças a seu zelo nos últimos anos por orçamentos equilibrados, países como Alemanha e França já mandaram às favas a responsabilidade fiscal, pelo menos momentaneamente. Com credibilidade suficiente para encaixar papeis de longo prazo no mercado, boa parte da Europa gasta sem olhar para os orçamentos. Isso alivia o tranco agora e provavelmente vai produzir mais retração no futuro, quando for preciso recompor as finanças nacionais.

Ou seja, não haverá disponibilidade de investimentos, o que houver custará bem mais caro do que antes do colapso e a tendência é que a desigualdade, no Brasil, agrave-se ainda mais.

Há uma década, quando se celebrava a emergência de uma nova classe média brasileira, sabia-se que havia muito espaço para ampliá-la ainda mais. Nos últimos anos, a perda de renda na metade mais pobre da população já passou dos 10% acumulados. O espaço para a queda é maior do que o que havia para a subida.

O professor de história da economia Adam Tooze, da Universidade de Yale, escreveu recentemente um artigo em que aponta a necessidade de ver o mundo que sairá da pandemia por uma ótica que jamais se experimentou.

Ele recorda que o fechamento do comércio está fortalecendo as empresas que já estavam estabelecidas no mundo online, e isso determinará o fechamento de milhões de estabelecimentos.

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Acredita também que as torneiras abertas pelos bancos centrais ainda terão de jorrar muito dinheiro e criar risco de muita inflação até que se controle minimamente o processo recessivo. Sem encontrar parâmetros históricos para a situação, Tooze resume: “Há algo novo sob o sol. E é horrível!”

Paulo Guedes diz orgulhosamente que o Brasil precisa, economicamente, de mais do mesmo. Os que estão com os empregos em risco têm boas razões para temer exatamente isso.

Nenhum economista apresentou ainda, no mundo, uma fórmula que permita enfrentar o problema. Mas poucos concordam com a tese de olhar para a média e para as receitas de sempre.

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