Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
Continua após publicidade

Por que é difícil baixar a inflação

Há fatores que nos diferenciam de outros países

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 4 jun 2024, 13h36 - Publicado em 8 out 2021, 06h00

A inflação brasileira é influenciada por fatores culturais e institucionais, e pela má distribuição de renda. Assim, choques de preços por condições climáticas adversas ou por altas em cotações de commodities tendem a ter efeitos mais duradouros. O país não está preparado para absorver esses choques em prazo razoável.

Durante décadas, dizia-se que o Brasil precisava de um pouco de inflação para desenvolver-se. Pura leniência. Com a correção monetária, passamos a conviver com a inflação, e não a combatê-la. Seu uso se generalizou nos contratos, nos salários e nos preços. Em parte, ainda hoje.

Até na hiperinflação o Brasil foi peculiar. Em outros países, a alta inflação provocou o abandono da referência dos preços na moeda nacional. Migrou-se para o dólar. Os preços variavam com a taxa de câmbio. Quando o câmbio se estabilizou, a hiperinflação acabou. Aqui, a saída foi a indexação à inflação passada, e não ao dólar. A indexação gerava a inércia inflacionária: a inflação de hoje determinava os reajustes de amanhã, e assim sucessivamente.

A inércia cria uma rigidez para baixo na taxa de inflação, inibindo a ação da política monetária. Seria necessário um aumento brutal da taxa de juros para quebrá-la. Assim, a inflação tornou-se imune aos remédios convencionais e ao congelamento geral de preços e salários. O Plano Real inventou a Unidade Real de Valor (URV) para vencer a inércia e, deste modo, estabilizar os preços.

Continua após a publicidade

“Sem o apoio de uma política fiscal que corte os gastos públicos, o Banco Central fica sozinho na luta”

A má distribuição de renda é outro problema. A renda das classes menos favorecidas é em boa parte direcionada ao consumo de itens essenciais, com pouca margem de manobra. Quando há um choque, não é viável substituir esses itens por outros mais baratos. O consumo cai, mas isso não tem o mesmo impacto de uma substituição. A elevação dos juros pouco ou nada sensibiliza os gastos das camadas mais pobres.

Em outros países, o esforço do governo para combater surtos inflacionários costuma associar a alta de juros com uma política fiscal contracionista. Cortam-se gastos. Aqui, 95% das despesas primárias da União são incomprimíveis, casos de benefícios previdenciários, gastos com pessoal e transferências constitucionais a estados e municípios. Desse modo, o papel da política fiscal é nenhum. O Banco Central fica sozinho na luta.

Continua após a publicidade

Questões culturais e distributivas levam tempo para ser resolvidas. O lado fiscal exige reformas complexas. No atual momento, entraram em cena dois outros fatores: a fragilidade fiscal e a instabilidade política, as quais geram incertezas que afetam a taxa de câmbio, cuja variação amplia o efeito inflacionário dos bens e serviços importados.

Enfrentamos uma tempestade perfeita: alta de commodities, efeitos climáticos e crise hídrica. Fica tudo mais complicado. Sem reformas, bons governos e mudanças mentais, continuaremos a ter dificuldade em vencer aumentos súbitos da inflação. Felizmente, não há risco de revivermos a hiperinflação.

Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2021, edição nº 2759

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.