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Previsão de recorde de visitantes sinaliza oportunidades para o turismo

De janeiro a maio, o Brasil recebeu 2,9 milhões de turistas, o equivalente a 82% do número de 2022 inteiro. Cenário, no entanto, segue distante do ideal

Por Pedro Gil Atualizado em 4 jun 2024, 09h57 - Publicado em 30 jul 2023, 08h00

O Brasil é uma nação com diferentes vocações. Grande extensão territorial e condições climáticas favoráveis fizeram com que o agronegócio encontrasse por aqui campo fértil para prosperar. Por sua vez, a monumental Floresta Amazônica pôs o país no mapa dos patrimônios ambientais do planeta. Há uma terceira vocação, contudo, que tem se caracterizado, ano após ano, como uma oportunidade perdida. Sob qualquer ponto de vista, o turismo brasileiro é um colossal fiasco. Em 2022, 3,6 milhões de estrangeiros visitaram o Brasil. Para efeito de comparação, a Argentina, embora menor e menos multifacetada, recebeu o dobro de turistas do exterior — foram 7,2 milhões. O cenário permanece distante do ideal, mas alguns sinais mostram que o setor, enfim, prepara-se para decolar.

De janeiro a maio, o Brasil recebeu 2,9 milhões de turistas de outros países, o equivalente a 82% dos visitantes internacionais de 2022 inteiro. Nesse ritmo, tudo indica que 6,5 milhões de pessoas cruzarão as fronteiras nacionais, o suficiente para quebrar o recorde alcançado em 2019. O acréscimo significativo de turistas estrangeiros tem relação direta com o retorno dos argentinos. Nos quatro primeiros meses do ano, 1,2 milhão de hermanos desembarcaram nas cidades brasileiras, um aumento de 166% na mesma base comparativa. O pódio de países que mais enviaram turistas tem os Estados Unidos em segundo lugar e o Paraguai em terceiro. “Finalmente, entramos em um ritmo acelerado de recuperação”, diz Magda Nassar, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).

arte turismo

Há diversas explicações para o movimento. Além da óbvia demanda reprimida na pandemia, especialistas apontam a ampliação das rotas aéreas vindas do exterior, a maior procura por destinos com viés sustentável — o Brasil amazônico e da Mata Atlântica insere-se nesse contexto — e até a guerra entre Rússia e Ucrânia como fatores que podem afastar turistas de outras regiões e trazê-los para cá. Seja como for, a verdade é que o turismo tem papel vital na aceleração da economia. O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, lembra que os estrangeiros deixaram 10,7 bilhões de reais no Brasil no primeiro quadrimestre de 2023. Ainda assim, é pouco perto do extraordinário potencial brasileiro.

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Poucos países possuem, de fato, atrações tão diversas. Das praias do Nordeste ao cerrado, do Pantanal aos pampas, das florestas tropicais às metrópoles cosmopolitas, dos restaurantes estrelados à vida cultural intensa, o Brasil é por natureza um destino convidativo. Na direção oposta, os flagelos da violência urbana e a infraestrutura deficitária representam barreiras que nenhum governo consegue derrubar. Apesar dos desafios, o país detém o oitavo maior potencial do mundo para o desenvolvimento do setor, conforme ranking feito pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês). Por que, então, não consegue fazer jus à sua vocação?

PARAÍSO - Jericoacoara, no Ceará: o turismo é uma força vital da economia
PARAÍSO - Jericoacoara, no Ceará: o turismo é uma força vital da economia (Marco Antonio Rezende/Brazil Photos/Getty Images)

Em geral, os avanços no setor são pontuais e nunca fruto de políticas de Estado. “Um país sem projeto perde possibilidades”, afirma Vinicius Lummertz, ex-ministro do Turismo. Para se ter ideia, em 2023 o Plano Safra destinará 340 bilhões de reais para o agronegócio, enquanto uma linha especializada de crédito do Ministério do Turismo contará com menos de 1 bilhão de reais. No fim de maio, o presidente Lula vetou o redirecionamento de 5% dos recursos arrecadados pelo Sistema S para a Embratur. O valor estimado era da ordem de 450 milhões de reais. “Tanto a Embratur quanto o ministério não têm recursos para tocar projetos”, diz Manoel Cardoso Linhares, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih).

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Turbulências políticas também impedem o avanço do setor. Em mea­dos de julho, após semanas de especulações, Daniela Carneiro (União-­RJ) deixou o posto de ministra do Turismo para dar lugar ao deputado Celso Sabino (União-PA), escolhido pelo presidente Lula para apaziguar o desejo irrefreável do Centrão por mais espaço no governo. O turismo é uma força vital da economia. Por isso deveria ser tratado como prioridade máxima em um país tão único como o Brasil.

Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2023, edição nº 2852

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