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Allende: perícia encerra um capítulo da história chilena

Comprovação de suicídio não surpreende população, mas elucida fato que deu início a um período sobre o qual há muitos pontos obscuros: a ditadura militar

Por Mariana Pereira de Almeida
19 jul 2011, 21h55

O anúncio nesta terça-feira de que a perícia realizada nos restos mortais de Salvador Allende confirmou sua morte por suicídio pode não ter causado grandes comoções no Chile, mas serve para esclarecer um capítulo sombrio da história do país andino. Allende morreu no dia 11 de setembro de 1973, no Palácio La Moneda, sede do governo chileno, durante um ataque militar liderado por Augusto Pinochet para derrubar seu governo. “Apesar de o impacto ser pequeno, o país precisava desse desfecho, principalmente porque se trata do início de um período sobre o qual ainda existem muitos pontos obscuros”, disse ao site de VEJA a historiadora Diana Veneros Ruiz-Tagle, autora da biografia do ex-presidente intitulada Allende (Editora Sudamericana). “Eu diria que a Justiça está fazendo uma retratação às famílias das vítimas da ditadura, torturadas ou mortas naquele período em casos que não foram suficientemente esclarecidos”, acrescenta.

Diana leciona na Universidad Metropolitana de Ciencias de la Educación e já havia sustentado em sua tese de doutorado, publicada em 1998, que Allende tinha se suicidado. Com base em depoimentos e pesquisas ela concluiu que, tanto do ponto de vista político (para tornar o golpe mais ilegítimo) quanto pessoal (pelas características de sua personalidade), Allende teria se matado em um ato que pode, inclusive, ter sido planejado meses antes. “Nem a família do ex-presidente ficou supresa com o resultado da perícia. Eles acreditavam na versão oficial”, afirma. “Quem lançou a tese do assassinato foi a extrema-esquerda, que partia do princípio de que suicídio era um ato de covardia. Os radicais queriam fazer de Allende um mártir da ditadura.”

Assim como Diana, o jornalista brasileiro Flávio Tavares sentiu uma pontinha de orgulho ao saber que sua teoria sobre o suicídio de Allende estava certa. Autor do livro O Dia em que Getúlio Matou Allende e Outras Novelas do Poder (Editora Record, 336 páginas, 41,90 reais), Tavares esteve com o ex-presidente chileno em duas ocasiões e acredita que pode tê-lo influenciado. “Eu contei ao Allende, durante um encontro em Pequim, em 1954, como havia ocorrido o suicídio de Getúlio Vargas, um mês antes”, lembra Tavares. “Chamou minha atenção o espanto do então vice-presidente do Senado chileno pelo gesto de Getúlio.” Para o jornalista, o suicídio do presidente brasileiro pode ter influenciado o ato do chileno, 19 anos depois. “Foi uma espécie de espelho, um espelho místico, para ele se reproduzir em setembro de 1973.”

Interpretações místicas à parte, o resultado da perícia alivia a sociedade chilena do peso de uma dúvida que durou por quase 38 anos. A resposta, dada por um dos médicos que participou da perícia, o espanhol Fernando Etcheverría, não poderia ter sido mais objetiva: “Temos condições de afirmar sem nenhuma dúvida, agora, que se trata de uma morte violenta de cunho suicida”.

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