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‘O maior risco é não se arriscar’, diz Jorge Paulo Lemann

Em bate-papo promovido pelo site da Fundação Estudar, empresário conta como escolheu caminhos nem sempre mais confortáveis para atingir seus objetivos nos negócios; em um de seus primeiros empregos, a empresa quebrou e ele ficou sem dinheiro

Por Talita Fernandes
26 nov 2013, 22h22

Considerado o homem mais rico do Brasil pela revista Forbes e sócio de um conglomerado que inclui as empresas AB InBev, Heinz e Burger King, o empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann tem lições valiosas a passar aos jovens interessados em empreender. Ao participar de um bate-papo promovido pelo site da Fundação Estudar, entidade que ele mesmo fundou, Lemann, que é avesso a entrevistas, abriu o jogo sobre o que é essencial para o sucesso nos negócios. Segundo ele, tomar risco é fator preponderante. “O maior risco é não se arriscar. Sem tomar algum risco, você não consegue fazer nada”, disse. Durante a conversa, o empresário de 74 anos contou sua trajetória no mundo dos negócios – que incluiu o sucesso e o fracasso de empresas. Segundo ele, em quase todos os casos, optou por situações arriscadas, em vez de confortáveis.

Numa de suas primeiras empreitadas, no entanto, o risco o levou a ficar sem dinheiro. Ele havia acabado de voltar de uma temporada na Suíça: onde primeiro tornou-se funcionário do banco Credit Suisse e, depois, virou jogador de tênis profissional. Ao chegar ao Brasil, sua família queria que ele fosse trabalhar numa grande instituição financeira. Mas, em busca de mais oportunidade, Lemann escolheu trabalhar na corretora de valores Invesco, da qual era sócio com 2% de participação, mas que rapidamente quebrou. “Apesar de não ocupar nenhum cargo de direção, eu estava ali no meio e foi assustador. O fracasso foi um choque e me traumatizou. Eu achava que era o bom, formado em Harvard. Mas, com 25 ou 26 anos eu estava sem dinheiro. Foi traumático à época. Mas, pensando bem, foi bom.” Segundo o empresário, o Brasil não tinha (e ainda não tem) a cultura de aceitar o fracasso como parte do processo normal de um empresário. “Aqui não é como a Califórnia, onde quem não fracassa acha que seu currículo é ruim. Nossa cultura é portuguesa, europeia”, afirma.

Jorge Paulo Lemann em bate-papo promovido pela Fundação Estudar
Jorge Paulo Lemann em bate-papo promovido pela Fundação Estudar (VEJA)

Logo depois do fracasso da Invesco, Lemann recusou novamente convites para trabalhar em grandes bancos e optou pelo mercado de ações. “Eu me sentia mais livre em trabalhar numa empresa menor e que estava começando do que em uma com processo mais burocratizado”, conta. Ele seguiu carreira na corretora Libra, que se tornou Garantia – e que, em 1971, foi comprada por Lemann para se tornar o banco (de mesmo nome) que ‘batizou’ uma geração inteira de administradores e economistas. O Garantia foi criado pelo empresário para ser o ‘Goldman Sachs’ brasileiro. Ele implementou processos de gestão que até então eram desconhecidos no país, como a meritocracia, os altos bônus e a participação societária dos melhores funcionários no capital da instituição.

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Apesar de assumir uma postura de risco, Lemann disse que não se tornou o empresário que é arriscando sem nenhum critério. Segundo ele, assumir riscos em um novo negócio era um processo que resultava de muito treino e reflexão. Como exemplo, citou a compra das Lojas Americanas. “As Americanas tinham uns 100 milhões de dólares em imóveis. Para comprar o controle, precisaríamos de 23 milhões. Então, se nada desse certo, nós tínhamos os imóveis”, conta. Lemann e seus sócios compraram 70% das ações das Lojas Americanas na Bolsa de Valores em 1983 e recuperaram os investimentos dois anos depois, com a venda de 20% desse capital, depois de as ações terem se valorizado.

Para se inspirar no trabalho, Lemann usou como base a dedicação exigida de atletas no tênis, esporte que praticou profissionalmente no Brasil e na Suíça. “Eu vim do tênis, um esporte em que não se ganha sempre. Quando você perde, você tem que dar volta por cima”, comenta.

Segundo o empresário, sua motivação para tentar melhorar veio principalmente da mãe, que, diz Lemann, se incomodava com o fato de o marido não ser muito bem sucedido nos negócios e decidiu projetar um futuro ambicioso para o filho. Seu pai, nascido na Suíça, imigrou para o Brasil na década de 1920, onde criou a fábrica de laticínios Lemann & Company (a Leco). Segundo o empresário, o pai era “boa praça, simpático, mas não era bem sucedido”. Faleceu antes de ficar rico e, sobretudo, assistir ao sucesso do filho: Lemann tinha apenas 14 anos quando perdeu o pai, de acordo com o livro Sonho Grande, da editora Sextante, que conta a trajetória do empresário.

Durante o bate-papo, o fundador da Ambev contou que, mesmo vindo de uma família que dispunha de recursos, nunca teve dinheiro. “Minhas ambições eram vagas: ser um sucesso, seja lá o que fosse, ser bem-sucedido e ganhar dinheiro. Minha família tinha recursos patrimoniais de herança, mas não tinha fluxo de caixa. Eu tinha necessidade de ganhar dinheiro para viver bem. Não tinha recursos disponíveis para ter uma vida”, disse.

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Aos jovens brasileiros, ele assegurou que as condições para o sucesso são muito melhores hoje do que há cinquenta anos. Principalmente devido a uma série de informações disponíveis pela internet. Ele repreendeu a postura daqueles que apenas criticam a situação do país e recomenda que a juventude aproveite os desafios em benefício do desenvolvimento pessoal e profissional. “Eu vejo muitos jovens reclamando das dificuldades do Brasil. Mas, se tem problema, tem oportunidade. E nós dependemos do jovem para melhorar o Brasil dentro de 20 ou 30 anos”, comenta.

O empresário não comentou sobre o crescimento surpreendente de sua fortuna durante o bate-papo. Mas isso não significa que, mesmo levando um estilo de vida austero para os padrões de um bilionário, Lemann seja desprovido de vaidade. Ele reconheceu que, por meio de seus negócios, deixa um legado que, “em termos de eficiência de qualidade, está servindo de exemplo para melhorar a comunidade econômica brasileira”.

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