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Alta da Selic é inevitável, mesmo com compulsório maior

Anúncio feito pelo CMN envia a clara mensagem de que haverá aperto na política monetária a partir de 2011

Por Ana Clara Costa e Benedito Sverberi
3 dez 2010, 19h06

Aconteceu nesta sexta-feira o que, há algum tempo, o mercado esperava: o anúncio de medidas para desacelerar a elevação dos preços. O Conselho Monetário Nacional (CMN) – composto pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo – anunciou uma série de ações para conter a expansão do crédito e, conseqüentemente, reduzir a demanda por bens e serviços na economia. Logo, procura-se desidratar esta que é a principal componente da pressão inflacionária, que já começava a preocupar. Enquanto a meta do governo para a inflação oficial em 2010, medida pelo IPCA, mantém-se em 4,5%; o IPCA-15 (mesmo indicador, com uma única diferença no período de amostragem) registra variação de 5,07% de janeiro a novembro. Já o IGP-M acumula alta de 10,29%, colocando dúvidas sobre a eficácia da atual política monetária.

A mais emblemática, e surpreendente, medida anunciada nesta manhã é o aumento da alíquota do depósito compulsório, que é a parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos são obrigados a deixar no BC. Essa elevação pode retirar da economia 61 bilhões de reais. Na avaliação de Guilherme Maia, economista do M.Safra, a resolução pode ter alguma eficácia no curto prazo. Ela não deve, contudo, anular a subida dos juros já a partir de janeiro. “De qualquer modo, este ‘mix’ de política monetária – o uso de outros instrumentos, além da Selic – abre espaço para o Copom subir menos a taxa de juros na primeira reunião de 2011”, afirma Maia.

Uma pesquisa realizada pela corretora Link nesta sexta-feira, após o anúncio das medidas, revela que, na visão do mercado financeiro, a Selic começará a subir no governo da presidente eleita Dilma Rousseff. Da amostra de 62 ‘traders’ entrevistados, 88% crêem na manutenção dos juros em dezembro; e 69% têm expectativa de aumento de 0,5 ponto porcentual em janeiro.

Expectativas – O anúncio feito pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, nesta sexta-feira também serviu para enviar uma clara mensagem aos investidores: continuará a haver aperto na política monetária a partir de 2011 – ou seja, instrumentos de controle de inflação serão necessários para manter a estabilidade. A sinalização representou um alívio para os analistas, que se diziam confusos com a relativa tranqüilidade do BC, expressa nas atas e relatórios de inflação, com os sinais inequívocos de que a economia estaria excessivamente aquecida e a alta dos preços começara a oferecer riscos.

A elevação do compulsório deve oferecer um choque mais rápido para aliviar a inflação do que um aumento da Selic, na avaliação do economista Homero Guizzo, da LCA Consultores. “Essas medidas são mais imediatas, mas não são substitutas perfeitas para a política de aumento de juros”, afirma Guizzo. Isso significa que, com um compulsório turbinado, os bancos deverão repassar o custo desta resolução para o spread bancário (a diferença entre o custo médio de captação do banco e a taxa média dos empréstimos). Em outras palavras, sem que se mexa na Selic, o crédito ficará mais caro aos tomadores finais.

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Com juros bancários ainda maiores, começa a se delinear uma tendência de desaceleração da demanda, que poderia colaborar para o controle da inflação. No entanto, há um consenso de que só estas medidas seriam insuficientes para botar freios no ritmo de crescimento do país – por essa razão, a oscilação da Selic continua fazendo-se necessária. “Esse tipo de medida não pode se tornar uma regra e começar a sofrer alterações constantes. Aí sim, as coisas se tornariam preocupantes”, diz Guizzo, da LCA.

Otimismo empresarial – O setor exportador também comemorou a decisão, embora por outros motivos. O temor dos empresários do ramo é que juros mais altos agora dessem ‘mais combustível’ à atração de dólares para o Brasil, o que reforçaria a valorização do real, prejudicando as exportações. “Finalmente eles deram ouvidos a outras opiniões de que política monetária não é apenas taxa de juros”, afirma o economista Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da FIESP.

Em entrevista ao site de VEJA há cerca de um mês, Gianetti da Fonseca comentou que o setor empresarial estava se reunindo constantemente com a equipe econômica do governo para sugerir medidas que ajudassem a combater a inflação e estimulassem a competitividade. Ocorridos há cerca de dois meses, os encontros também contavam com a presença do presidente da FIESP, Benjamin Steinbruck. “Sugerimos a medida do compulsório e acho que nosso esforço deu algum efeito”, diz o economista.

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