Política pode atrasar ainda mais a capitalização
Analistas ouvidos por VEJA.com não enxergam grandes problemas se a transação não sair neste ano. A partir de 2011, contudo, o cenário se inverte
A avaliação é de que, tão logo o novo presidente tome posse e nomeie seus ministros, ele terá que definir uma solução para o impasse
A capitalização da Petrobrás, que está prevista para o final de setembro, corre o risco de atrasar ainda mais e ficar para o próximo ano. Especialistas ouvidos por VEJA.com avaliam que toda a indefinição tem origem no conflito de interesses entre a empresa e a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Enquanto o processo se arrasta, as ações da Petrobrás amargam dias de queda. Em apenas dois dias, a baixa foi de 6%. No ano, 24%.
As opiniões se dividem sobre até quando as ações da petrolífera continuarão sofrendo com as indefinições sobre a capitalização. Há quem acredite que elas podem cair ainda mais. Contudo, muitos especialistas avaliam que agora a expectativa vai ficar por conta do próximo governo. Quem quer que seja vencedor da corrida presidencial terá, como um de seus primeiros desafios, a conclusão deste processo.
“A capitalização é imprescindível para que a empresa consiga concretizar seus projetos. Acredito que os investidores perceberão os ganhos oferecidos por ela no médio e longo prazo”, destacou a estrategista da Ativa S.A Corretora, Mônica Araújo.
Alguns investidores importantes já desistiram de esperar por um cenário mais claro. O bilionário americano Georgo Soros já se desvencilhou dos papéis da companhia. Em comunicado enviado nesta quarta-feira à comissão de valores imobiliários dos Estados Unidos (a SEC), o Soros Fund Management declarou que em 30 de junho não tinha mais nenhum papel da companhia em sua carteira.
A única certeza que se tem é que, tão logo o novo presidente tome posse e nomeie seus ministros, ele terá que definir uma solução para o impasse. Os analistas concordam que cada dia sem a capitalização tende a complicar a situação da Petrobrás. O nível de endividamento da empresa aumentaria, o caixa estaria sem recursos para investimento na exploração do pré-sal, e um rebaixamento da classificação de risco da empresa por parte das agências de rating seria uma hipótese muito provável.
Com números menos favoráveis, a empresa teria mais dificuldades para captar recursos e teria que pagar juros mais altos por isso. Ou seja, o crescimento da empresa poderia ficar comprometido, para prejuízo dos acionistas. Num cenário mais catastrófico, a companhia poderia ter que atrasar ou reduzir seus planos de investimento.
Alguns sinais de alerta já surgem no mercado. A estatal divulgou nesta semana que seu nível de alavancagem (relação entre dívida e patrimônio) atingiu 34% no 2º trimestre; ante 32% no 1º trimestre e 28% no 2º trimestre de 2009. O patamar é considerado elevado para o mercado e reforça a necessidade urgente de um aporte de capital na companhia – tudo isso num momento em que está diante do desafio de continuar a investir pesado na exploração da camada pré-sal. Até 2014, seu plano de investimentos prevê gastos de 224 bilhões de dólares.