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Fundos de empresas investem pesado no país

Desde 2008, os fundos private equity já aplicaram 4,5 bilhões de dólares na economia brasileira

Por Ana Clara Costa
22 set 2010, 07h14

O mercado financeiro vai muito além dos bancos e das bolsas de valores. Dentre seus variados tipos de agentes, têm se destacado no Brasil os chamados fundos de private equity – instituições que reúnem recursos financeiros para investir em empresas. A conjunção de investidores capitalizados numa ponta e companhias saudáveis e promissoras na outra, tendo como base o forte crescimento da economia doméstica, tem permitido a esse segmento atravessar uma fase de forte expansão. Segundo dados da gestora Ocroma Alternative Investments, esses fundos aplicaram no país pouco mais de 4,5 bilhões de dólares entre 2008 e 2010 (período em que a economia mundial titubeou devido à crise). Só neste ano foram aportados mais de 1,5 bilhão de dólares. Sua atuação garante ainda mais dinamismo à economia, ao oferecer alternativa de financiamento e expertise de gestão ao setor privado.

O mais recente caso a traduzir a ebulição deste mercado foi verificado nesta segunda-feira, quando o fundo da gestora BTG anunciou a aquisição de 100% da comercializadora de energia Coomex. Foi sua 12ª compra em 19 meses, num investimento total para o período de 850 milhões de reais. Outros alvos foram as redes de hospitais São Luiz e D’Or, além da Farmais. O caso do BTG é também revelador do fato de que, apesar de pouco conhecidos, a atuação destes fundos traz impactos diretos à população, pois eles freqüentemente compram e modificam empresas das quais todos somos clientes e consumidores. É o caso da rede de fast food Burger King, que foi adquirida em 2 de setembro pelo fundo de private equity 3G, dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

Os fundos de ‘private equity’ estão acessíveis somente àqueles investidores ditos ‘qualificados’, ou seja, que possuem mais de 100 mil reais para aplicar. Os recursos são reunidos e sua administração é entregue a uma gestora – que controla o fundo. Ao realizar um aporte numa determinada empresa, esse fundo se torna acionista. A depender do volume investido, pode chegar a controlador. A partir daí, eles podem mudar a administração e interferir nas decisões estratégicas das companhias. O objetivo é, depois de um prazo determinado, vender a participação a um preço bem maior que o de compra, embolsando o lucro. Em muitos casos, esses fundos reestruturam completamente as empresas e as conduzem a lançar ações na bolsa de valores – oportunidade em que vendem toda ou parte de sua participação no capital.

O Artesia – criada há oito anos por Marcos da Rocha Camargo e Marcelo Faria de Lima, ambos antigos funcionários do banco Garantia – é um exemplo. O fundo comprou em 2007 a marca de roupas femininas Le Lis Blanc, reestruturou a empresa e formatou sua estréia na bolsa no ano seguinte. A posição do Artesia no capital da companhia já foi de 84% e hoje é de 60%. Assim como ocorre com qualquer fundo de private equity, não se sabe até quando manterá sua participação na Le Lis Blanc. No entanto, nesse mercado, há uma cultura de investimento de médio e longo prazo, que varia de cinco a dez anos.

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Outra importante integrante da ‘indústria’ de private equity é a gestora americana Advent, que investe no Brasil desde 1997. Em seu portfólio estão empresas como as redes de restaurantes Viena e Frango Assado, a Kroton Educacional, e a Duty Free (que comercializa produtos nos freeshops). Em abril deste ano, a Advent encerrou a captação de seu maior fundo, o LAPEF V, após ter conseguido levantar 1,6 bilhão de dólares com investidores. “É um momento fabuloso para se começar a investir em private equity. Há poucos ‘players’ no mercado e muitas empresas aptas a receberem aportes. É um oceano azul”, diz Ricardo Kanitz, sócio da Ocroma. A gestora administra um fundo de fundos de private equity. “Investimos em cerca de oito fundos de private equity na América Latina”, diz.

Tanto Kanitz quanto o sócio da Advent no Brasil, Patrice Etlin, participarão, hoje e amanhã, do Private Equity & Venture Capital Brazil Summit, em São Paulo. O evento terá palestras com alguns dos principais gestores do país, que falarão sobre as perspectivas para esse mercado nos próximos anos e como as empresas brasileiras poderão se beneficiar deste momento favorável de forma saudável. “O interessante é que muitos dos fundos que estão investindo agora poderão sair de seus investimentos em 2014 ou 2016, quando o Brasil deverá estar com a economia ainda aquecida pela Copa e pelos Jogos Olímpicos”, afirma Kanitz. Em outras palavras, é pequena a possibilidade de os fundos de private equity verem seus investimentos se desvalorizarem nesse intervalo, a depender apenas dos aspectos macroeconômicos.

Casos mal-sucedidos, contudo, também podem acontecer – mesmo em uma fase expansionista da economia. Prova disso é a empresa de tratamentos odontológicos Imbra, que foi comprada em 2008 pela gestora de private equity GP Investimentos (também fundada pelo trio da 3G, mas hoje presidida por Fersen Lambranho e Antonio Bonchristiano). Estima-se que a GP tenha investido cerca de 180 milhões de reais no negócio, mas decidiu vendê-lo por nada menos que um dólar ao grupo Arbeit. Prova de que, no mundo dos private equities, até os titãs podem se equivocar.

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Impulso para a média empresa – Entre os private equity genuinamente brasileiros e os internacionais presentes no país, há algumas diferenças. Segundo os especialistas, os fundos nacionais preferem fazer seus aportes em empresas de médio porte – a exceção fica por conta da GP, que tem por hábito investir em grandes negócios. Para as companhias menores, trata-se de uma alternativa mais palpável do que o próprio crédito do BNDES. “São empresas que têm acesso restrito ao mercado financeiro. Nosso objetivo é desenvolver a economia e prover a essas companhias o capital de risco que elas não teriam de outra forma”, afirma Rami Goldfajn, sócio da gestora GG Investimentos, que investe em empresas cujo faturamento vai de 100 milhões de reais a 1 bilhão de reais, como a editora Ediouro.

Entre os fundos internacionais, o norte-americano Carlyle é um dos mais célebres. Possui mais de 90 bilhões de dólares sob gestão e está presente em mais de 60 empresas, inclusive no Brasil. Adquiriu, em janeiro de 2010, a operadora de pacotes turísticos CVC, por 800 milhões de reais. Em julho, foi a vez da gestora de planos de saúde Qualicorp. Dias depois, anunciou uma parceria com o Banco do Brasil na criação de um fundo de 400 milhões de reais para investir em empresas com potencial de internacionalização.

Esse “oceano azul” representado pelo mercado brasileiro só não é mais límpido pelos problemas de elevada informalidade de algumas empresas médias e pela elevadíssima carga tributária. “É um momento muito positivo, mas é preciso olhar com cuidado para esses pontos. Eles não podem estragar o momento do Brasil”, diz Kanitz.

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