Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

FMI procura sucessor de Strauss-Kahn

Enquanto europeus querem um compatriota para dirigir o fundo, emergentes brigam por mais espaço

Por Carolina Guerra e Benedito Sverberi
19 Maio 2011, 21h40

Estados Unidos, Japão e China são os países que mais contribuem, e portanto, tem maior poder de voto

A rápida queda de Dominique Strauss-Khan do cargo de diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) acelerou e tornou ainda mais complexo o processo de sucessão na entidade. Antes mesmo do escândalo, já era elevado o nível de tensão dentro do órgão ante a necessidade de designar alguém a substituí-lo, já que ele iria concorrer à presidência da França em 2012. O problema é que a atuação do francês à frente da instituição sempre foi carregada de elogios. Agora, além disso, há a pressão dos países emergentes para que a escolha inclua, pela primeira vez na história, um representante não-europeu.

Analistas apontam que Strauss-Kahn deixará ao FMI um legado dos mais importantes. Graças a ele, a instituição teve sua importância novamente reconhecida após anos de questionamentos. O ex-diretor-geral foi um árduo defensor do estímulo fiscal – uso de recursos públicos para contribuir na reativação da economia – durante a crise financeira internacional de 2008 e 2009. Naquele momento, convenceu presidentes de nações ricas e emergentes a contribuírem com mais de 500 bilhões de dólares para o Fundo, triplicando seu poder de fogo. Strauss-Kahn também deu uma ‘polida’ na imagem do FMI ao declarar que, naqueles países em que se faz necessário um ajuste severo das contas públicas, os pobres precisam ser preservados. Conseguiu ainda enfrentar as resistências das maiores economias europeias a costurar pacotes de ajuda a integrantes do bloco que estavam à beira de um colapso – preservando, até o momento, o euro. Com a parcela de 26 bilhões de euros que concordou recentemente em dar a Portugal, já são 77 bilhões de euros emprestados a nações europeias.

Os emergentes também se valem da sua boa fase para influenciar na escolha do novo representante do FMI. Estes países, que há anos vêm ampliando sua participação econômica e política no cenário internacional, agora pedem maior representatividade no Fundo. A pressão já era sentida bem antes do escândalo Strauss-Kahn, mas agora ganhou força. Autoridades de China (a terceira maior contribuinte do Fundo), Brasil e África do Sul vieram a público nos últimos dias para dizer que este é o momento de mudar a história e escolher um representante por um critério que não seja geográfico. É que, desde sua fundação, no Pós-Guerra, a direção da entidade é ocupada por um europeu, assim como a do banco Mundial é destinada a um americano. A regra, contudo, não é escrita.

Continua após a publicidade

Processo de seleção – O conselho executivo da entidade reúne-se nesta quinta e sexta-feira para discutir o processo de seleção. Por enquanto, quem está ocupando a posição é o vice diretor geral John Lipsky. “Nós queremos que isso (a escolha) aconteça o mais prontamente possível”, disse em um evento na sede da entidade. Além de Lipsky, candidato natural a substituir Strauss-Kahn, uma lista de outros potenciais sucessores começou a se formar. São candidatos de vários países, cada um deles carregado de interesses de seus locais de origem e aliados.

Emergentes pressionam – Diante da oportunidade, a China – cujo PIB caminha a passos largos para alcançar o americano nos próximos anos – aproveitou para impor sua voz. “Pensamos que os novos mercados emergentes e os países em desenvolvimento devem ser representados na direção do FMI”, declarou Jiang Yu, porta-voz do ministério das relações exteriores chinês em entrevista coletiva. A imprensa local tem destacado, inclusive, que Zhu Min – o ex-vice-presidente do banco central chinês e que recentemente foi conselheiro de Dominique Strauss-Kahn no FMI – é também candidato à sucessão.

Ainda do mundo emergente, surge o nome de Kemal Dervis, da Turquia. Ele é dono de uma bem-sucedida carreira de 24 anos no Banco Mundial, além de ser um dos responsáveis por resgatar a economia turca da crise de 2001. Na tradicional casa de apostas britânica William Hill, seu nome lidera a lista dos mais cotados.

Europeus querem a tradição – Segundo analistas, os europeus farão de tudo para preservar a tradição, e assim emplacar um chefe do FMI vindo da região. Hoje, a principal defesa para tal preferência é que o novo diretor-geral terá a missão de continuar a coordenação dos pacotes de ajuda a países da zona do euro.

Continua após a publicidade

A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Barroso, já se posicionaram. O nome que se desenha para eles, especialmente nos bastidores, é o da atual ministra das finanças do governo Nicolas Sarkozy, a francesa Christine Lagarde. Caso assuma, ela será a primeira mulher no cargo desde a fundação da entidade. Contudo, coloca dúvidas sua candidatura uma investigação que pode ser aberta sobre abuso de poder na França, e que envolve Lagarde.

O segundo mais cotado entre os europeus é o também francês Jean-Claude Trichet, atual presidente do Banco Central Europeu (BCE). Por fim, também está na mesa de apostas o nome do ex-premier britânico Gordon Brown, que se sobressaiu como negociador durante a crise internacional, além de ser bem conhecido e respeitado mundialmente. O atual primeiro ministro David Cameron, porém, não deve apoiar seu nome.

Critérios vagos – Os critérios para a escolha, divulgados no site da instituição, são vagos. A entidade afirma que o candidato deve ter sido bem-sucedido na determinação de políticas em nível sênior; possuir habilidades gerenciais e diplomáticas para liderar uma instituição global; entender sobre o fundo; ser um comunicador eficiente; e ser um cidadão de um dos 187 países membros do FMI. Com critérios tão abrangentes, vale quem souber jogar melhor.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.