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‘Brasil não precisa de ajustes dramáticos’, diz Trabuco

Presidente do Bradesco afirma que os investidores já se mostram mais animados com o Brasil e que as concessões devem liderar o crescimento a partir de 2016

Por Ana Clara Costa, de Davos
22 jan 2015, 06h55

Poucas semanas após o início das medidas de ajuste que estão sendo colocadas em prática pelo governo Dilma, o mercado internacional já sinaliza melhora na percepção em relação ao Brasil. Essa é a avaliação do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que participa nesta semana do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Segundo o banqueiro, que recentemente recusou o convite da presidente para ser ministro da Fazenda, a curva de juros dos títulos brasileiros começou a cair, indicando que o governo está pagando rendimentos menores aos detentores da dívida – um sinal de que os investidores estão mais interessados em apostar no Brasil do que alguns meses atrás.

Segundo Trabuco, as medidas implementadas pela nova equipe econômica são responsáveis pela mudança de humor. “Os ajustes que o Brasil precisa não são dramáticos, mas são desafiadores. As últimas medidas que o governo adotou ajudam a integrar uma plataforma de crescimento com alicerces fortes”, afirma. Para o executivo, depois que a área fiscal estiver arrumada, o crescimento deve voltar puxado, sobretudo, pelas concessões de infraestrutura. Confira trechos da conversa.

Com o anúncio de diversas medidas pela equipe econômica, é possível dizer que o Brasil está recuperando um pouco da confiança perdida?

O sentimento que captamos, pelo menos nas últimas semanas, é de que o mercado está mudando de humor. Prova disso é que os juros pagos sobre os NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional – Série B), que são títulos atrelados à variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caíram de 7% para levemente abaixo de 6% nesses últimos dias. Ainda é um rendimento alto demais, se comparado a países desenvolvidos. Ou seja, significa que o Brasil paga juros altos para se financiar no mercado de dívida. Mas nós podemos tirar uma conclusão disso: a mudança do patamar de rentabilidade dos títulos significa que há um aumento no fluxo de dinheiro entrando no Brasil, tanto por meio dos papéis pré-fixados, mas também dos de longo prazo. Os investidores estão mais animados.

Ainda não é muito cedo para isso?

Os ajustes que o Brasil precisa não são dramáticos, mas são desafiadores. As últimas medidas que o governo adotou, e que tem a presidente Dilma liderando o processo, ajudam a integrar uma plataforma de crescimento com alicerces fortes. O alicerce fiscal é fundamental, e o Joaquim Levy está cuidando disso. Em 2015, veremos que o PIB não será miraculoso. Mas teremos as bases para crescer mais em 2016, num ciclo muito mais favorável. Com as bases que estão sendo colocadas em prática agora, todos terão mais previsibilidade para investir.

Dentro dessas medidas, há aumento de impostos sobre o crédito. O consumo vai cair?

Bom, vamos ter de conquistar um superávit de 1,2% do PIB e essa conta terá de ser diluída entre a sociedade. Há situações clássicas, como o aumento dos juros, com o objetivo de controlar a inflação. Mas que, como efeito colateral, reduz a demanda. Mas precisamos olhar para o equilíbrio fiscal, pois só assim conseguimos equacionar o fardo do Tesouro e reduzir a carga tributária no futuro. Sabemos que falar em redução de impostos hoje é algo etéreo. Mas podemos falar, por exemplo, de simplificação. Isso não implica em reduzir a arrecadação do estado e deixaria o setor produtivo mais satisfeito.

Qual setor que pode fazer o Brasil voltar a crescer?

As concessões de infraestrutura, certamente. Desde que tenham uma taxa de retorno adequada para as empresas participantes. O modelo social do Brasil faz com que as despesas do Estado sejam em grande parte inelásticas, sem espaço para cortes. E os gargalos são muitos. Então é preciso fazer um processo brutal de concessões e olhar para isso sem preconceitos, sem ideologia. Com taxas de retorno adequadas, há menos exigência de empréstimos do Estado. Não é que o governo não possa financiar infraestrutura. Ele pode. Mas só em tempos de bonança.

Muitas empresas parceiras do governo em obras de infraestrutura estão envolvidas na Lava Jato.

O PIB só vai crescer se a taxa de investimento avançar. O Brasil precisa construir infraestrutura para ganhar competitividade. E esse caminho passa pela equação disso que está sendo amplamente tratado pela mídia. Quando virarmos essa página, respeitando a velocidade e a rotina da Justiça, da nova lei anticorrupção e dos choques de governança, não tenho dúvidas que sairemos desse processo com muitas mudanças na contratação de obras públicas. E o que se vê nas discussões aqui mesmo em Davos é que a sociedade civil está olhando com muito mais preocupação para qualquer desvio de caráter envolvendo governos e corporações. As redes sociais exacerbaram isso.

Considerando que haja construtoras interessadas, como fazer concessões com menos participação do BNDES?

A grande missão do banco teria de ser ele se consorciar com o mercado para financiar projetos. Mas isso ainda não acontece. O mercado não conseguiu exercer seu papel.

Como exercer quando os juros da TJLP são tão inferiores ao de mercado?

É preciso mudar essa rotina. O Tesouro capitaliza o banco, que desenvolve programas importantes, é verdade. Mas não se pode mais financiar máquinas e equipamentos a juros de 2,5% ao ano. A expectativa é que, com essa nova plataforma de crescimento que começa a ser desenhada, haja mais parceria entre ambos.

Qual é a garantia de que essa plataforma de crescimento do novo governo é pra valer?

É um processo de construção. E a construção dessa travessia vai exigir muita coerência da equipe econômica. E, com o Levy, essa coerência está contratada. A equipe como um todo caminha nesse sentido. O Tombini no Banco Central, o Nelson Barbosa no Planejamento, a Katia Abreu na Agricultura, o Armando Monteiro no Desenvolvimento. Há uma definição ali de que o Brasil vai superar esse momento delicado. O mundo não vai acabar, o Brasil tem futuro e o investidor vai ter mais previsibilidade e, por isso, vai voltar. O país oferece um portfólio de investimentos que não existe na Europa e nos Estados Unidos. De 2008 pra cá, o governo americano empreendeu um programa audacioso de investimentos em infraestrutura para fazer a economia decolar. Reformaram tudo e só permitiam compra de aço dos Estados Unidos. O Brasil é uma oportunidade sem fim para o investidor dessa área, porque falta muita coisa. O Estado tem, sim, o papel importante como indutor do investimento. Mas não como investidor.

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