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Bancos e especialistas prevêem desaceleração no setor imobiliário

Contudo, a expectativa para ano contempla ainda bons resultados

Por Derick Almeida
11 fev 2011, 20h28

Os preços dos imóveis devem assumir uma trajetória mais comportada, com alta próxima da inflação

Na manhã desta sexta-feira, a Caixa anunciou seus resultados financeiros relativos a 2010, destacando a ampliação de 41,3% em sua carteira de crédito para 175 bilhões de reais – equivalente a 10,32% do total ofertado no mercado brasileiro. Deste montante, nada menos que 108,3 bilhões de reais referem-se a empréstimos para aquisição de moradias. Os valores superlativos, no entanto, devem perder força. A ampliação da carteira de crédito total para 2011, segundo perspectivas do próprio banco, será menor e não deverá passar de 30%. Apesar de ainda expressivo, o número mostra que as medidas tomadas pelo governo para conter a expansão do consumo e, por conseqüência, o aumento da inflação terão efeito sobre este mercado. “A atuação do governo terá impacto direto na demanda, que, por sua vez, deve afetar a oferta. Nós estamos cientes que a demanda tende a arrefecer este ano”, afirma o vice-presidente da Caixa, Jorge Hereda. A CEF não divulgou estimativas específicas para o financiamento habitacional, que é seu carro-chefe.

Já o Bradesco – segundo maior banco privado brasileiro – prevê que sua carteira de crédito imobiliário crescerá 10% neste ano, para 10 bilhões de reais. A projeção consta do balanço anual da instituição financeira referente a 2010, publicado em 31 de janeiro. Essa evolução, se concretizada, ficará bem abaixo da alta de 93,6% registrada de 2009 para 2010, quando os valores saltaram de 4,7 bilhões de reais para 9,1 bilhões de reais.

Desaceleração – A expectativa da Caixa vai ao encontro da análise dos economistas ouvidos pelo site de VEJA de que o setor imobiliário deverá experimentar uma desaceleração neste ano, contribuindo para afastar o risco de formação de uma ‘bolha’ nos preços dos ativos – que tanto motivou discussão entre os economistas nos últimos anos. Mesmo assim, as projeções para 2011 estão longe de retratar um mercado estagnado. A expectativa é de uma expansão nada desprezível de cerca de 20% nas concessões de crédito habitacional, mas abaixo das taxas superiores a 50% verificadas nos últimos cinco anos. Para os valores dos imóveis, a aposta é de alta mais comedida, empatando com a inflação.

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A consultoria Tendências prevê uma ampliação de 18,1% nas liberações no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), cujo capital vem da poupança. No ano passado, a alta foi de 52,7%. Já as concessões na linha com recursos do Fundo Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) devem ter elevação de 22,6%, contra os 56,1% de 2010.

tabela crédito imobiliário
tabela crédito imobiliário (VEJA)

Preços – O presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), João Crestana, aposta em elevação de preços bem mais modesta que as observadas em anos anteriores. “Os preços dos imóveis, que chegaram a variar 15% a 20% acima do IPCA em 2010, atingiram o limite. A partir de 2011, eles não devem subir além do próprio índice de inflação”, completou.

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O pano de fundo do setor contempla uma desaceleração: o Produto Interno Bruto (PIB), segundo pesquisa de mercado (Focus) realizada pelo Banco Central, deverá aumentar 4,60% neste ano, cerca de três pontos porcentuais a menos que o avanço de 2010. A preocupação com o cenário inflacionário implicará ajustes significativos na taxa básica de juros (a Selic). As cinco instituições que mais acertam as projeções de médio prazo, o chamado Top 5, já trabalham com uma estimativa de alta de 6,24% para o índice oficial de inflação, o IPCA – o que significa um risco considerável de o governo não cumprir a meta de 2011, cuja limite é 6,5%. Para reverter este quadro, o BC sinalizou que não poupará ajustes na taxa básica de juros (Selic). O governo federal, por sua vez, acenou com um corte de 50 bilhões de reais do Orçamento, com o intuito de contribuir para a desaceleração da demanda. Neste quadro, a Selic poderá atingir 12,25% no ano, um ponto porcentual acima da taxa atual, na expectativa do Top 5. Em favor dos empresários do setor estão as perspectivas de que renda e emprego seguirão em crescimento.

O efeito dos juros será visível ao menos sobre uma parcela do mercado: os 8% das liberações que se referem a linhas com recursos livres dos bancos. Ainda assim, não será suficiente para barrar a expansão do segmento. As concessões devem ter alta de 50% em 2010, para 7,2 bilhões de reais. O restante do mercado – o SBPE e as linhas do FGTS, que são de crédito direcionado, ou seja, com ‘funding’ e regras específicas – é regido pela Taxa Referencial (TR), que incorpora apenas parte da alta da Selic. Logo, o impacto do ciclo de aperto monetário será menor. Os analistas destacam, contudo, que o ambiente econômico tende a fazer com que os bancos fiquem mais seletivos na liberação de empréstimos.

Nova realidade – Daqui para frente, ficará cada vez mais difícil sustentar patamares muito altos de expansão das concessões de empréstimos imobiliários. A razão é a própria base de comparação, apontam os especialistas. Em resumo, a tarefa de crescer sobre concessões de 82 bilhões de reais (valor verificado em 2010) tende a ser bem mais complicada do que sobre 16 bilhões de reais (total de 2006), por exemplo. Por este ponto de vista, entende-se o desempenho marcante que ainda se espera das linhas com recursos livres.

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A desaceleração esperada para 2011, além de não denotar qualquer tipo de crise para o setor, é reflexo do próprio amadurecimento do mercado. A estagnação prolongada, anterior ao plano Real, é uma realidade cada vez mais distante. “Enfrentamos no passado uma crise inflacionária que impossibilitava que o brasileiro se planejasse a longo prazo. Hoje, vivemos os resultados de quinze anos de estabilidade. Isso, para o sucesso do mercado imobiliário, é fundamental”, explicou Pedro Klumb, diretor da gestora MSFI. A missão do governo Dilma está em justamente impedir que o descontrole retorne e a prosperidade prossiga.

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