Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A Apple e a ruidosa ausência de Steve Jobs

Enquanto o diretor-geral da Apple não mudar a imagem de íntima conexão entre a empresa e ele próprio, qualquer ausência sua preocupará o mercado

Por BBC
23 jan 2011, 18h04

O anúncio dos resultados da Apple um dia após a licença médica de seu presidente, Steve Jobs, foi um dos mais esperados desde… Bem, desde a última vez que ele saiu de licença, em 2009. Ainda que a empresa tenha embevecido os investidores ao anunciar resultados financeiros recordes no último trimestre – receita de 26,74 bilhões de dólares e lucro líquido de 6 bilhões de dólares -, ela falhou no trato com os jornalistas.

É claro que havia comentários provocativos sobre os ‘tablets’ com software Android, do Google, serem smartphones mais avançados e preocupações com a linha de fornecimento para os iPhones. Contudo, tudo o que queríamos era que eles falassem sobre Steve.

Depois da série de cifras impressionantes informadas pelo executivo-chefe de operações, Tim Cook, que irá assumir o comando enquanto Jobs estiver ausente; esperávamos que ele falasse sobre o temível líder. Mas… Nada.

O analista Shannon Cross, da Cross Research, teve direito de abrir a sessão de perguntas, depois de alguém ter gaguejado alguma coisa que não deu pra entender direito. Pensei comigo: “Aqui vamos nós – é hora do jogo”. Lamentavelmente, nossas esperanças morreram no primeiro obstáculo. Shannon fez um questionamento totalmente aceitável, sobre a carência dos iPhones, mas não foi o que a legião de jornalistas queria ouvir.

Na verdade, durante a conferência de uma hora, ninguém perguntou diretamente sobre Jobs. Enquanto isso, espalhava-se no Twitter uma enxurrada de comentários sobre o assunto. A imprensa só tinha o direito de ouvir e indagar sobre a conferência – não era permitido fazer perguntas que não fossem bem-vindas.

Continua após a publicidade

O único analista que chegou perto de se tornar nosso salvador foi Gene Munster, do Pipe Jaffray, quando questionou Cook sobre o futuro da empresa. Foi a primeira vez que Cook mencionou o nome de Jobs. “Ao meu ver, a Apple está trabalhando melhor que nunca”, disse o executivo. “Estamos todos muito felizes com a condução dos produtos, e a equipe tem um pique incomparável, talentos e uma cultura de inovação que Steve implantou na empresa. A excelência tornou-se um hábito. Por isso, estamos muito, mas muito confiantes com o futuro da empresa.” E foi mais ou menos isso.

Em seguida, perguntei a Munster porque nenhum analista questionou o impacto da ausência de Jobs sobre a empresa ou sobre possíveis sucessores no futuro. “Você só pode fazer uma pergunta”, explicou ele. “Não havia nenhuma conspiração entre os analistas, tampouco uma ordem a seguir. As pessoas tinham a liberdade de perguntar o que quisessem, mas poderia ser um questionamento jogado no lixo, pois sabíamos que a resposta seria vaga.”

Para Munster, o fato de não ter havido menção a Jobs no discurso inicial deixou claro aos analistas que seria perda de tempo abordar o assunto: “Steve Jobs fez uma declaração dizendo que queria privacidade, e essa é uma maneira de fazer isso – minimizar o assunto, nem mesmo fazendo menção ao caso no início da conferência. Como analista, esta é uma pergunta que seria de extremo interesse, mas estava claro que eles não queriam discutir o tema. Com o direito de fazer apenas uma pergunta, naquelas circunstâncias, essa não seria aquela que valeria a pena fazer”.

Tudo bem. Então até o momento esta é a prerrogativa da Apple. Os últimos números dificilmente causarão tumulto entre os acionistas, pelo menos por enquanto.

Continua após a publicidade

No entanto, fora desse circuito, houve gente comentando sobre o futuro da Apple sem Steve Jobs no comando do dia-a-dia e o que esta ausência significaria para uma empresa que se identifica tanto com um único homem.

Também falei com Adam Hanft, da empresa de estratégia de marcas Hanft Projects, que tem entre seus clientes a Match.com e a Virgin. Hanft disse que “a Apple conseguiu o que, até então, era quase impossível: tornar-se uma marca que é ao mesmo tempo simples e sofisticada. Eles democratizaram a tecnologia e, geralmente, quando uma empresa faz isso, há um estigma de não serem tão legais. Isso não aconteceu com a Apple por causa de seu valor estético. Ela é a única marca que conseguiu administrar a revolução do acesso à tecnologia sem fazer com que isso fosse assustador, mas sim divertido e bacana para os usuários. A gente fala sobre a ‘taxa da Apple’, em que você sempre paga um extra pelos produtos, porque eles têm a fama de serem legais. O Steve é grande parte da ‘taxa da Apple’. Qualquer pessoa comum acredita que há algo muito mágico sobre a marca e que eles estão comprando produtos que hoje são o reflexo do tempo de Henry Ford – de ponta, inovador – e que essa associação ajuda a agregar valor à marca de forma incalculável”.

Por outro lado, Hanft admitiu que, enquanto houver toda essa determinação da Apple em manter-se tão ligada a um só homem, essa também será sua fraqueza: “Existe uma conexão emocional entre os aparelhos e o homem. Existe um imenso respeito por ele como empreendedor, homem de negócios, inovador, visionário e líder, mas Jobs não exala aquele calor humano como Martha Stewart ou Oprah, por exemplo. Ele não possui aquele fator de acessibilidade que elas têm. Existem muitas empresas por aí que lideram muito rápido, da Sony e da Samsung até o próprio Google, e parte da liderança da Apple tem sido esse duopólio da marca entre os produtos e Jobs”.

Ele disse ainda que a decisão de Jobs de continuar como diretor-geral, com “uma das mãos no leme à distância”, não ajuda nem a empresa nem Cook, que irá administrar as coisas nesse ínterim. “Uma das formas de colocar a empresa na posição mais forte possível seria tornar Cook seu CEO atuante. Passaria uma forte mensagem de que Jobs acredita em Cook para tocar os negócios da forma adequada e, é claro, da maneira como ele fez quando Jobs pediu licença médica da última vez. Não fazer isso só reforça o assunto da ‘empresa de um só homem'”.

Continua após a publicidade

No início da semana passei uma mensagem sobre o choque e a tristeza compartilhada por todos os meios da tecnologia com a decisão de Jobs em pedir um tempo para se cuidar. Entre as mensagens para que tudo corra bem em sua recuperação, a melhor é a do cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg, que tem se tornando bastante próximo de Jobs. Em um recado na sua página, Zuckerberg escreveu: “Steve, você já fez tanto bem pelo mundo. Espero que você se recupere logo”.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.