Sulito, símbolo do separatismo na Região Sul, gera piadas na rede
Líder critica montagens irônicas do personagem do movimento O Sul é o Meu País na internet: 'Na rede social, ninguém discute nada com profundidade', diz

O que era para ser uma atividade corriqueira de divulgação da “causa da Independência do Sul” se transformou em motivo de piada nas redes sociais. O boneco Sulito, uma espécie de mapa da Região Sul do país com braços, pernas, rosto e um boné, fazia parte de um panfleto divulgado na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS) a fim de promover o 2º Plebisul, votação informal promovida pelo movimento O Sul é o Meu País. Prevista para outubro, a enquete quer saber se os “sul-brasileiros”, como eles se identificam, desejam ou não permanecer como parte do Brasil.
Se o movimento ainda estará em evidência no dia, quando se espera a participação de um milhão de pessoas, entre gaúchos, catarinenses e paranaenses, não se sabe. O que é certeza é que, com as piadas a respeito do Sulito, nunca se falou tanto a respeito da causa da divisão do Brasil. Na internet, a maior parte ironizou a ação, apontando para a baixa qualidade gráfica do boneco, relacionando com outras brincadeiras da internet, como o caso da grávida de Taubaté, e sugerindo como o mascote seria em outros estados e regiões. Com mais de 6 000 replicações no Twitter, uma mensagem falava da união do Sulito com seus irmãos, “Sudestito”, “Nordestito”, “Nortito” e “Centrito”, formando um grande ícone, o “Brazilzord”.

Na opinião do jornalista Celso Deucher, diretor de Mobilização Estratégica do movimento, visibilidade é importante, mas não traz resultados concretos, alfinetando os piadistas: “Na rede social, ninguém quer discutir nada com profundidade. Se você perguntar, 99% não sabem o que é pacto federativo”, acredita.
Para ele, isso acontece porque, em primeiro lugar, a questão não diz respeito aos “brasileiros”, os habitantes das outras regiões. Em segundo, porque muitas das piadas não trazem discussões em profundidade. Um comentário, em particular, incomodou o diretor, quando um usuário afirmou que, no Sulito, o extremo-sul do país apresentava um formato quase fálico. “É impressionante, as pessoas transformam tudo em sexo.”

Ele se preocupa, também, com o dia de amanhã. “Se as pessoas do Sul considerarem que não devemos nos separar, esse tipo de acontecimento é difícil, porque acirra os ânimos entre nós e os brasileiros”, afirma. Sobre estes, os brasileiros, ele diz que se impressiona com o fato de os outros estados não se incomodarem com “esse pacto federativo assombroso”. E explicou, alegando que “somos colônias de Brasília, todos os estados, a diferença é que nós do Sul temos amor próprio”.
Sobre as piadas e as ironias que o movimento sofreu, o jornalista publicou um texto usando como epígrafe uma frase do pacifista indiano Mahatma Gandhi, que diz: “Primeiro ignoram-te, depois riem de ti, depois atacam-te e no fim tu vences”. Depois de ser ignorado e ironizado, haveriam os ataques e, por fim ,a vitória. “Eu sonho. Com o pé no chão, mas nosso povo sonha”, disse.
Questionado se o sonho da independência do Sul está de fato próximo, Deucher diz que sim, que a crise econômica e a corrupção deixaram claro que não vamos bem juntos e que talvez possamos nos dar melhor separados. “Ninguém quer mais sustentar a opulência e a corrupção de Brasília […] , é difícil defender que temos que ficar unidos. Agora, é cada um por si e Deus por todos”, defende.