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Vale: indicação de Ferreira era negociada havia 1 mês

Executivo que substituirá Agnelli no comando da mineradora é amigo de Dilma

Por Ana Clara Costa e Beatriz Ferrari
5 abr 2011, 11h51

A escolha de Murilo Ferreira para a presidência da Vale surpreendeu o mercado, que apostava em peso na indicação de Tito Martins. Mas o nome de Ferreira já estava no páreo há mais de um mês, quando ele pediu para sair da sociedade na gestora de recursos Studio Investimentos porque havia recebido “convite para integrar outra empresa”, segundo fontes do mercado. O executivo vai substituir Roger Agnelli a partir do dia 22 de maio, quando o atual comandante da mineradora será destituído do cargo. Embora as negociações para encontrar seu substituto já estivessem avançadas, a saída de Agnelli só foi confirmada oficialmente em 31 de março.

Análise: Escolhas do novo presidente definirão o futuro da Vale

Discreto e habilidoso para se relacionar tanto com a diretoria como com o governo, Ferreira é tido como o preferido da presidente Dilma Rousseff para o cargo. Ele integrou a área de energia da Vale no mesmo período em que Dilma ocupava o cargo de ministra de Minas e Energia. Ambos têm, desde então, uma relação muito próxima.

A amizade entre a presidente e Ferreira não era conhecida sequer nos corredores da mineradora. “Todos os diretores tinham que se relacionar com o governo, em suas respectivas áreas. Mas um relacionamento tão próximo do Murilo com a presidente é uma surpresa. Eu não imaginava”, afirma um ex-diretor da Vale que trabalhou na empresa no mesmo período que Ferreira.

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Interesse por energia – Administrador de empresas formado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Murilo Ferreira é, definitivamente, um conhecedor da mineradora. Entrou na companhia antes da privatização, na década de 1980, mas não ficou por muito tempo. Voltou em 1998, como diretor financeiro e comercial das operações de alumínio (incluindo a Albras). Entre todos os metais, este é o que exige maior consumo de energia para ser produzido, o que fez com que Ferreira se tornasse, no início desta década, o diretor da Vale com maior interesse em fontes alternativas. “Um interesse que beirava a obsessão”, afirma um executivo que o conheceu na época. No mesmo período, Dilma entrava no Planalto como ministra de Minas e Energia, com o grande desafio de rearranjar a estrutura do setor elétrico. Sua principal tese era justamente a ampliação da geração e a diversificação da matriz brasileira.

Sob o comando de Murilo Ferreira na área de energia, a Vale expandiu de forma expressiva sua atuação em hidrelétricas, com os projetos de Porto Estrela, Aimorés, Capim Branco 1 e 2, entre outros. Ele também se encarregou de ampliar a utilização de outras fontes, como gás natural e carvão mineral. Com isso, a mineradora chegou em 2009 produzindo 40% da energia que consumia, sendo que, três anos antes, essa participação não chegava a 20%. “A Dilma foi uma ministra que se aproximou muito das mineradoras. Naquela época, não era só a Vale que estava próxima do ministério. Todos queriam ter uma relação com ela”, afirma o presidente de uma mineradora que preferiu não se identificar.

Um homem político – A personalidade do novo presidente da Vale também foi crucial para estreitar o relacionamento com a ministra. Um executivo do setor elétrico, que chegou a negociar com ele em meados de 2001, afirma que poucas vezes viu alguém com tanta capacidade de negociação. “Ele sabia jogar. Se não conseguia o que queria, sempre usava o argumento ‘mas a Vale é uma grande geradora de impostos’, entre muitos outros, para pressionar a outra parte a ceder”, afirma o executivo.

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Tal característica fez com que Ferreira acumulasse, com o passar dos anos, diversas funções no grupo e fosse considerado “os olhos e ouvidos” de Roger Agnelli fora do Brasil. Em 2004, ele iniciou a aproximação com a mineradora canadense Noranda, alvo de compra da Vale naquele ano, mas que acabou sendo vendida a uma concorrente chinesa. Em 2006, foi a vez da Inco, que acabou se convertendo na maior aquisição de uma companhia estrangeira realizada por uma brasileira – a Vale pagou 13 bilhões de dólares pelo ativo. Ferreira, que comandou a operação, foi transferido ao Canadá no ano seguinte para presidir a empresa, e só saiu em 2009, quando pediu demissão.

Segundo um ex-diretor da mineradora, Ferreira teve um início de infarto em um voo de volta ao Brasil, e decidiu parar e criar, junto com seu colega de diretoria, Gabriel Stoliar, a Studio Investimentos – gestora de recursos localizada no Rio. Sua decisão de sair também foi potencializada por desentendimentos com os diretores da Vale nas negociações de compra da mineradora suíça Xstrata, que acabou não acontecendo. Ao voltar para a empresa, Ferreira terá de lidar com os desafetos ou montar outra equipe. “Ele certamente irá formar o time dele na direção”, diz um ex-diretor.

Mesmo longe da Vale, o contato com o Planalto não foi perdido. “Ele sabe se relacionar muito bem, apesar de ser extremamente discreto. Tem uma habilidade imensa em lidar com situações de conflito”, afirma um executivo que trabalhou na companhia no mesmo período que ele. “É um típico mineiro”, diz. Nascido em Uberaba (MG), Murilo Ferreira é filho do falecido médico pediatra e pesquisador da Doença de Chagas, Humberto de Oliveira Ferreira, e de Nívia Pinto Ferreira – ambos figuras ilustres na cidade. Seu irmão, Roberto, é engenheiro e vive em Belo Horizonte. Murilo vive no Rio de Janeiro com a esposa, Fernanda, e a filha, Luiza, de 20 anos.

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