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ESTUDO #23

SESI Lab – Uma aventura pelo conhecimento

por Redação Atualizado em 16 dez 2022, 15h43 - Publicado em
19 dez 2022
10h00

Apresentação

Um dos pilares do conhecimento e fator decisivo de desenvolvimento, o ensino de ciências costuma ser pouco valorizado no país. O resultado dessa deficiência pode ser constado numa comparação com o volume de engenheiros que se formam no Brasil em comparação a outros países emergentes. Enquanto por aqui se formam em média 47 000 desses profissionais a cada ano, a Rússia forma 190 000, a Índia, 220 000 e a China, 650 000. Em um esforço para mudar a maneira como a ciência e a divulgação científica são percebidos pela população, um importante passo foi dado no último dia 30 de novembro, com a inauguração do SESI Lab, um museu interativo sediado em Brasília.

A atração possui 8 000 metros quadrados de área construída dedicados a compartilhar conhecimento sobre a ciência no ponto central da capital do país, no antigo Edifício Touring Club, icônico prédio projetado por Oscar Niemeyer. Trata-se de um espaço em que crianças de todas as idades se divertem (e aprendem) com máquinas que simulam tornados e brinquedos que exploram as leis da física, química e biologia. No entorno, há mais 3 000 metros quadrados de área verde revitalizada com espécies nativas do Cerrado, instalações interativas e anfiteatro externo para shows, eventos e outras atividades culturais. O resultado é um complexo multiuso com experiências sensoriais a partir de um processo lúdico, divertido, estimulante, participativo, coletivo e democrático.

Há pelo menos uma década, debate-se no meio acadêmico a hipervalorização das artes e humanidades em detrimento das ciências “duras” e da engenharia no Brasil. Iniciativas como o SESI Lab tem o objetivo de mudar essa realidade, no sentido de trazer maior destaque a esse campo do conhecimento. Em 23ª edição, VEJA Insights detalha o projeto do museu, erguido em parceria com uma instituição americana referência mundial no gênero, o Exploratorium, em São Francisco. Em meio a um contexto de dificuldades e escasso apoio oficial, é uma iniciativa alentadora que merece ser conhecida mais de perto.

A conexão do Brasil com a era do conhecimento

Por Robson Braga de Andrade*

O processo de construção do conhecimento é fascinante. Não se dá apenas pela educação formal, mas também por todos os estímulos intelectuais, emocionais, e até físicos que as pessoas são capazes de absorver. O saber se produz e se solidifica a partir das mais variadas técnicas. Além da exposição pura e simples das disciplinas curriculares, na qual se baseia a visão educacional tradicional, o ensino deve se valer de atividades lúdicas, que envolvam artes, cultura, ciência e tecnologia em proporções adequadas para obter os resultados desejados.

Nessa delicada equação, capturar e manter o interesse de quem se dispõe a aprender é uma habilidade que precisa ser ressaltada entre as tarefas mais desafiadoras de um bom professor. Para os estudantes adultos, é fundamental manter acesa a curiosidade típica das crianças, que, por sua vez, têm mais dificuldades de concentração. A transmissão de conteúdos por experiências sensoriais contribui tanto para motivar o interesse quanto para conservar o foco, numa época em que há muitas distrações.

Os estabelecimentos de ensino devem usar esse método multifacetado para levar os alunos a enxergar o mundo a partir de diferentes perspectivas e encantá-los. Essa visão abrangente será cada vez mais relevante no mundo do trabalho, o qual já exige dos profissionais capacidade de aprendizagem contínua, adaptação, resolução de problemas complexos, atuação em equipe e cultura humanística. As ocupações do futuro serão intrinsecamente multidisciplinares.

Ampliando o ensino pela metodologia STEAM (ciências, tecnologia, engenharia, artes e matemática, na sigla em inglês), com ênfase em atividades práticas, e aproximando os estudantes do mundo do trabalho, as escolas do SESI e do SENAI já atuam com essa concepção múltipla. Os professores obtêm ótimos resultados ao estimular a criatividade dos jovens, como comprova o desempenho de seus alunos em competições internacionais de educação profissional e em torneios específicos, como os de robótica.

“O saber se produz e se solidifica a partir das mais variadas técnicas.”

Agora, as duas instituições se juntam para oferecer ao público uma rica experiência em ciência, tecnologia e arte, com a inauguração do SESI Lab, um museu interativo sem similar no Brasil. Seu objetivo principal é estimular, por meio de equipamentos e atividades lúdicas, o interesse por esses assuntos, pilares da competitividade das empresas e do desenvolvimento econômico e social dos países. Na implantação desse projeto, contamos com a valiosa assessoria técnica do Exploratorium, um dos principais centros interativos do mundo, idealizado pelo célebre físico americano Frank Oppenheimer e inaugurado há cerca de meio século em São Francisco, nos Estados Unidos.

Além dos diversos aparatos tecnológicos disponibilizados ao público, o SESI Lab traz diversos outros atrativos e singularidades. A começar pelo espaço onde está instalado, o icônico Touring Club, projetado por Oscar Niemeyer e localizado no coração de Brasília. O edifício foi totalmente remodelado, de acordo com os mais avançados critérios internacionais de construção sustentável. O projeto de restauração foi elaborado pelo arquiteto mineiro Gustavo Penna.

Revitalizamos também uma área de três mil metros quadrados no entorno do prédio, em parceria com o governo do Distrito Federal, com espécies nativas do Cerrado, instalações interativas e anfiteatro externo para shows, eventos e outras atividades culturais. Tudo isso emoldurado com um inédito painel de azulejos, de 135 metros quadrados, projetado especialmente para o Touring pelo inconfundível artista plástico Athos Bulcão.

Outro importante parceiro neste projeto é a empresa Expomus, que contribuiu com o desenvolvimento do plano diretor e com a organização da exposição temporária do SESI Lab. A ideia é articular a programação do novo espaço com a de outras instituições, como a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional e o Teatro Nacional criando um corredor cultural na central de Brasília.

O SESI Lab é, sob vários aspectos, mais um marco na trajetória do SESI e do SENAI, instituições que há cerca de oito décadas contribuem para a educação dos jovens, para a formação dos trabalhadores e para o desenvolvimento tecnológico do país. É uma forma que o Sistema Indústria encontrou para ajudar Brasília e o Brasil a se conectarem com a era do conhecimento, um insumo cada vez mais importante na vida das pessoas e nos destinos das nações.

Robson Braga de Andrade
(Miguel Ângelo/CNI/.)

*Robson Braga de Andrade, empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Um museu 100% interativo

SESI Lab traz equipamentos para se aprender brincando sobre física, biologia e química

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(Gabriel Pinheiro/SESI/.)

Há pouco mais de 60 anos, Brasília foi construída para ser a capital do país do futuro, nas palavras do presidente Juscelino Kubitschek, e um símbolo do modernismo. Cenário ideal, portanto, para abrigar desde o dia 30 de novembro o primeiro e único museu 100% interativo do país: o SESI Lab. São quase 8 mil metros quadrados de área construída dedicados a compartilhar conhecimento sobre a ciência no ponto central da capital do país, no antigo Edifício Touring Club, icônico prédio projetado por Oscar Niemeyer.

Trata-se de um espaço em que crianças de todas as idades se divertem (e aprendem) com máquinas que simulam desde fenômenos meteorológicos como tornados a brinquedos que exploram as leis da física, química e biologia. No entorno, há mais três mil metros quadrados de área verde revitalizada com espécies nativas do Cerrado, instalações interativas e anfiteatro externo para shows, eventos e outras atividades culturais. “O maior objetivo do SESI Lab é despertar o interesse das pessoas por ciência e tecnologia a partir de experiências e vivências”, explica Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “É um lugar para estimular a autonomia do pensamento a partir do protagonismo de cada visitante em seu processo de percepção e construção de sentidos”.

O museu tem, ainda, um laboratório equipado para atividades maker e biomaker, o primeiro instalado em um museu no Brasil. O programa oferecerá visitas, cursos e oficinas especializadas e o espaço será aberto à comunidade para a prototipagem, mediante agendamento. De kombucha a impressões 3D, um pouco de tudo poderá ser feito ali.

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(Gabriel Pinheiro/SESI/.)

O resultado é um complexo multiuso com experiências sensoriais a partir de um processo lúdico, divertido, estimulante, participativo, coletivo e democrático. “Não haverá nenhum aparato no SESI Lab que não seja interativo. Não é um espaço para simplesmente admirar o que está exposto. Você interage com tudo”, afirma Paulo Mól, diretor de Operações do SESI.

Cerca de 350 000 visitantes são esperados a cada ano, além de 85 000 estudantes e 3 000 professores em programas de formação que poderão conhecer todas as cinco galerias expositivas e participar de uma das 300 oficinas, 120 atividades culturais e 10 edições de sessões noturnas voltadas especialmente ao público acima dos 18 anos neste período. O museu projeto é uma iniciativa do Serviço Social da Indústria (SESI), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), e promoverá a conexão entre ações artísticas, científicas e tecnológicas, em colaboração com a indústria e a sociedade.

Sua implementação conta com a assessoria técnica do Exploratorium, um dos principais centros interativos do mundo, fundado em São Francisco (EUA) em 1969 pelo físico Frank Oppenheimer. Após beber na fonte do Exploratorium, o SESI Lab surge como um hub pioneiro de difusão do conhecimento em todo território brasileiro. Um espaço em que o contemplativo é substituído pela interação, em todos os ambientes.

CONHEÇA ALGUMAS INSTALAÇÕES DO SESI LAB

Jogo de Cooperação
Jogo de Cooperação – (Gabriel Pinheiro/SESI/.)

Jogo de Cooperação
Até quatro pessoas trabalham em conjunto para movimentar os blocos por meio de um sistema de polias. Para concluírem seus objetivos com sucesso, a atividade exige comunicação e cooperação entre todos, coordenação de responsabilidades conjuntas e o senso de construção coletiva.

Pêndulos Imprevisíveis
Pêndulos Imprevisíveis – (Gabriel Pinheiro/SESI/.)

Pêndulos Imprevisíveis
Enquanto os visitantes observam as diferenças de comportamento entre um pêndulo singular e um pêndulo plural, eles percebem as mudanças de movimento que ocorrem em cada um, apesar de terem iniciado seus movimentos a partir das mesmas condições, ilustrando, assim, a dinâmica de uma série de sistemas complexos que tornam a “adivinhação” algo desafiador, ou até impossível.

Retrato Coletivo
Retrato Coletivo – (Gabriel Pinheiro/SESI/.)

Retrato Coletivo
Em uma cabine com um grande display projetado, são registradas fotos do rosto dos visitantes. Essas imagens são integradas à outras capturadas anteriormente. Assim, é formado um grande banco de imagens que permite mesclar diferentes partes do rosto, de diferentes pessoas.

Cadeira Grande, Cadeira Pequena
Cadeira Grande, Cadeira Pequena – (Gabriel Pinheiro/SESI/.)

Cadeira Grande, Cadeira Pequena
A instalação demonstra o impacto que o aumento de escala exerce sobre as coisas e sobre nossa relação com elas. As dimensões da cadeira maior são o dobro da cadeira de tamanho padrão, e as dimensões da cadeira menor são a metade das de uma cadeira de tamanho padrão, influenciando na nossa interação com esses objetos.

Quente ou Frio?
Quente ou Frio? – (Gabriel Pinheiro/SESI/.)

Quente ou Frio?
Consiste em bobinas de cobre em três seções. Uma bobina externa é fria ao toque e a outra é quente. A seção central é feita de anéis quentes e frios, organizados de forma alternada. Nossa mão, quando entra em contato com a parte central sente a temperatura das bobinas muito alta, e essa sensação não corresponde à realidade. Essa é a chamada ilusão de grade térmica, demonstrada pela primeira vez em 1896. Até hoje, os cientistas não conseguem explicar os motivos de tal sensação.

Mais moderno do que nunca

Prédio projetado por Oscar Niemeyer é revitalizado com práticas sustentáveis para receber 350 000 pessoas por ano

EDIFÍCIO TOURING CLUB - Símbolo do moderno e do modernismo -
EDIFÍCIO TOURING CLUB – Símbolo do moderno e do modernismo – (Iano Andrade/SESI/.)

O presidente Juscelino Kubitschek resumia suas ideias modernizantes para o país com a frase “Governar é abrir estradas”. Não é de se espantar, portanto, que tenha cedido ao Touring Club do Brasil – entidade internacional de promoção do automóvel – um terreno na área mais central de Brasília, à beira da encruzilhada dos Eixos L e Monumental. Ainda mais simbólico do prestígio e da aura moderna da empreitada, o projeto ficou a cargo de Oscar Niemeyer.

Quase 60 anos depois de ter sido construído (e passado por uma fase de decadência e degradação depois da falência do Touring Club), o prédio ressurge limpo de todas as alterações transformado num museu inovador que aponta para uma nova ideia de futuro para o Brasil: o desenvolvimento da tecnologia e ciência. Trata-se do SESI Lab, que abriu as portas no dia 30 de novembro depois de uma reforma comandada pelo o arquiteto Gustavo Penna, membro do conselho da Fundação Oscar Niemeyer.

O projeto arquitetônico e de requalificação da área externa foram aprovados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan). A obra seguiu todos os critérios da LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), ferramenta de certificação que busca incentivar e acelerar a adoção de práticas de construção sustentável. Este sistema de avaliação promove uma abordagem ao edifício por inteiro, desde a concepção do projeto até a construção final e a manutenção do espaço.

A chegada do SESI Lab promete mudar a dinâmica de uma importante área da cidade, originalmente pensada para receber atividades culturais, onde circulam aproximadamente 600 000 pessoas por dia. Próximo à Rodoviária do Plano Piloto e de importantes monumentos de Brasília como o Museu Nacional, a Catedral Metropolitana e a Biblioteca Nacional, o SESI Lab chega para potencializar ainda mais este corredor cultural, tanto em termos de infraestrutura como de programação educativa e cultural.

O ENTORNO

ENTORNO - Área externa foi revitalizada com árvores do cerrado e obras interativas -
ENTORNO – Área externa foi revitalizada com árvores do cerrado e obras interativas – (Iano Andrade/SESI/.)

O espaço de circulação pública entre a Praça Zumbi dos Palmares e o edifício Touring será um dos acessos ao SESI Lab. A passagem subterrânea foi completamente reformada e passará a ser utilizada como área expositiva e para a realização de sessões de cinema. Tudo possível por meio de parceria com o governo do Distrito Federal, pelo programa Adote uma praça. No espaço de convivência a céu aberto, foi criado um anfiteatro para atrações culturais e musicais e também foram instalados alguns dos aparatos mais simbólicos do museu.

A adoção dos dois espaços públicos quer conectar o SESI Lab com seus arredores, com o objetivo de requalificar a área, torná-la mais segura e agradável à circulação de pedestres, além de compor o corredor cultural composto pela Biblioteca Nacional, pelo Museu Nacional e pela Catedral de Brasília.

ATHOS BULCÃO

ATHOS BULCÃO - Painel de 135 metros de Athos Bulcão para o prédio nunca tinha saído do papel -
ATHOS BULCÃO – Painel de 135 metros de Athos Bulcão para o prédio nunca tinha saído do papel – (Gabriel Pinheiro/SESI/.)

Em uma das áreas de maior circulação pública foi instalado o painel de azulejos inédito de Athos Bulcão (1918-2008), reputado pintor, escultor, desenhista e artista famoso pelos murais instalados em prédios públicos e privados em estilo modernista.

Logo que soube da aquisição do prédio do Touring para a implantação do projeto do SESI Lab, a fundação dedicada a preservar a memoria do artista, sediada em Brasília, entrou em contato os gestores do SESI Lab para informar sobre a existência de uma obra criada especialmente para o Touring Club, mas que nunca chegou a ser instalado no local.

O painel, agora posicionado no local para o qual foi originalmente desenhado, possui aproximadamente 135 metros quadrados nos característicos mosaicos azuis e brancos que marcam a obra do artista. A peça integra o acervo da Fundação Athos Bulcão e está exposto na saída do túnel de passagem entre a plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto e Setor Cultural Sul.

Quando a educação se transforma em experiência de vida

ABRE
RAFAEL LUCCHESI – Fomento à educação tecnológica e científica – (CNI/.)

O economista Rafael Lucchesi tem uma longa carreira dedicada ao desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil, tanto no setor público quanto na iniciativa privada. Já atuou no Conselho Nacional de Educação e no Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. Tem bagagem o suficiente para atestar: o SESI Lab aponta para o futuro do ensino que o país precisa. “Aquela aula em que o professor expunha o conhecimento e o aluno anotava não funciona mais, o mundo mudou”, vaticina. “Se você executa um projeto, constrói algo com as próprias mãos, aquilo vira uma experiência de vida, e a absorção de aprendizado é muito maior”. Diretor de Educação e Tecnologia da CNI, diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI e um dos idealizadores do museu interativo, Lucchesi falou a VEJA Insights por zoom para falar sobre as inspirações e objetivos do projeto.

O que é exatamente o SESI Lab? Podemos chamá-lo de museu? Na falta de uma palavra melhor, nós chamamos de museu. Mas o SESI Lab é mais do que isso. Ele se insere em um contexto hands-on, ou interativo. É também um espaço maker, onde você demonstra princípios científicos na prática, o que dialoga com a educação do Século XXI. A visita ao SESI LAB é imersiva, interativa, e faz parte do processo de aprendizado, do aprender fazendo. Então essas taxonomias são uma camisa de força. Vai chamar de museu? Vai chamar de escola? Ou vamos chamar de um equipamento hands-on? Tem ciência, tem espaço maker, e tem um processo interativo para o aprendizado.

O que é espaço maker, e biomaker? Temos uma grande lâmina de vidro com lama do lago Paranoá, por exemplo, que é uma cultura de bactérias. Isso cria um cromático. Se você for lá hoje está de um jeito, daqui dez dias está de outro. Outro exemplo é um banco com placas de cobre em que, se você se senta sozinho, nada acontece. Mesmo com outra pessoa, se não houver contato, é só um banco. Mas quando elas se encostam, cria-se uma condutividade elétrica que produz um som. Tudo isso usa conceitos maker, mas o principal mesmo é um espaço dedicado ao aprendizado direto, onde tarefas e dinâmicas são executadas com os instrutores usando os princípios da ótica, da física, da biologia. É o processo de aprendizagem interativa.

A visita é toda guiada? Há guias em todo o espaço explicando os equipamentos, como por exemplo um que mostra a formação de furacões e tornados. Para visitas de escolas, trabalhamos com os professores para criar roteiros personalizados, específicos para cada grupo, de modo a casar os nossos recursos com o que as crianças estão aprendendo naquele momento em sala de aula.

De onde veio a inspiração para o projeto? Temos uma parceria com o Exploratorium, de San Francisco (EUA), que foi idealizado pelo físico americano Frank Oppenheimer, o pai da bomba atômica. Depois da guerra ele dedicou a vida à educação, acho que como forma de expurgar a criação da arma de destruição em massa. E ele acabou ajudando a fomentar na Califórnia, que na época era uma imensa plantação de laranja, essa cultura de busca de conhecimento e tecnologia que criou o Vale do Silício e transformou a região numa das mais ricas do planeta. Israel também serve como inspiração. Tel Aviv tem espaços vinculadas ao Instituto Weizmann da Ciência, dedicado a pesquisa avançada, mas que tem esses programas de popularização da ciência para jovens. Isso é base de impulsionamento do capital humano. É o conceito de incluir a todos no processo de aprendizagem, para levantar e melhorar a qualidade da educação e assim melhorar o IDH, o capital humano, a geração de riqueza, gerar esse ciclo virtuoso de desenvolvimento.

O museu também se espalha para além de suas paredes. O que está sendo feito no entorno do prédio? Estamos no coração de Brasília, o principal CEP da cidade, em um prédio projetado por Oscar Niemeyer quando da criação da cidade. E que tinha virado uma mistura de cracolândia com banheiro público, uma deterioração terrível. Fizemos uma parceria com o governo do Distrito Federal e adotamos a praça Zumbi e o entorno. A ideia é transformar aquela área entre a Rodoviária do Plano Piloto, o Setor Cultural Sul e a Esplanada dos Ministérios, onde já circulam aproximadamente 600 000 pessoas por dia, em uma corredor cultural, integrando a Catedral Metropolitana, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional e o SESI Lab em um espaço aberto de promoção da cultura e aprendizagem.

Há espaço para os adultos também aproveitarem o espaço? A partir de fevereiro vamos ter um evento por mês, à noite, voltado para o público adulto. O Edifício Touring Club, que reformamos para sediar o SESI Lab, é um prédio icônico de Brasília, que tem uma varanda com vista para todo o Eixo Monumental. É belíssimo. Você vê a Catedral, o Museu Nacional, o Congresso e a Praça dos Três Poderes, é incrível. Queremos ser um espaço lúdico de afirmação cultural. Revitalizamos o entorno também com espécies nativas do Cerrado, instalações interativas e um anfiteatro para shows. Vai ter muita agitação cultural ali.

A inspiração veio da Califórnia

Museu interativo de ciências em São Francisco é parceiro na implantação do SESI Lab no Brasil

EXPLORATORIUM, EM SÃO FRANCISCO - Estímulo à aprendizagem de ciência e tecnologia entre as empresas mais inovadoras do mundo -
EXPLORATORIUM, EM SÃO FRANCISCO – Estímulo à aprendizagem de ciência e tecnologia entre as empresas mais inovadoras do mundo – (Exploratorium, https://www.exploratorium.edu/Divulgação)

O físico americano Frank Oppenheimer tinha como lema de vida o provérbio romano Docendo discimus, ou, em português, “ensinando, aprendemos”. O próprio Oppenheimer gostava de tirar a pompa do latim e dizer “A melhor maneira de aprender é ensinar”. Pode parecer estranho, para quem reconhece o nome do cientista como um dos pais da bomba atômica, que este fosse seu moto. Mas faz todo o sentido para aqueles que conhecem o projeto que ele mais se orgulhava e deixou de legado às gerações vindouras: o Exploratorium.

Incrustado no Píer 15 da baía de São Francisco, na Califórnia (EUA), o Exploratorium é categorizado nos guias de turismo e aplicativos de mapas como um museu de ciência. Mas a instituição prefere uma definição mais longa: “um laboratório público de aprendizagem que explora o mundo através da ciência, da arte e da percepção humana”. No espaço, é possível construir uma turbina eólica, fazer óculos de distorção ou ter experiências interativas com equipamentos que simulam terremotos, espelhos que criam ilusões de ótica e máquinas que seguem o ritmo do batimento do coração. A ideia é que os visitantes, de crianças pequenas à terceira idade, aprendam e ensinem uns com os outros, tudo ao mesmo tempo através da experiência e interação com os fenômenos físicos do mundo.

O espírito criativo e iconoclasta da instituição é fruto do ambiente em que foi criado: a São Francisco dos anos 1960, berço do movimento hippie, dos protestos anti-guerra e da aversão a hierarquias. Com isso tornou-se pioneiro na abordagem lúdica da divulgação científica. Atualmente, a instituição serve como um difusor de conceitos que permeiam a cultura de inovação da região de São Francisco e arredores, no Vale do Silício, onde ficam as sedes das maiores empresas de tecnologia do mundo com Google, Facebook e Apple. “O Exploratorium foi parte do movimento progressista que estava acontecendo na educação naquela época”, explica Anne Richardson, diretora-sênior de Colaborações Globais do Exploratorium. “Foi o momento propício para um local como esse emergir”.

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FRANK OPPENHEIMER – Depois de ajudar a criar a bomba atômica, dedicou a vida à educação – (Denver Post/Getty Images)

O interior do Exploratorium é dividido em várias galerias, entre elas a Osher West Gallery: Human Behavior (comportamento humano), Sistemas Vivos, Física, Fenômenos (como eletricidade e magnetismo), Fisher Bay Observatory Gallery (um observatório que concentra a observação do ambiente, clima e paisagem da Baía de São Francisco).

O Exploratorium serve mais do que de inspiração para o SESI Lab: ele também presta assessoria técnica para o museu brasileiro e ainda mandou alguns equipamentos para Brasília: o Archimedes, composto por duas conchas de bronze que funcionam como parabólica acústica; o Caminhada de ritmos, uma espécie de passagem de pêndulos para criar ritmos visuais e sonoros; e o Ecotubos, onde o som viaja para a extremidade do tubo e volta para fazer um eco. A Bacteriópolis, que contém um ecossistema com diferentes tipos de bactérias que vai mudando com o tempo, também veio direto da Califórnia, mas foi montado em Brasília com lama do Lago Paranoá e compostos orgânicos do Cerrado. E assim o SESI Lab amplia o legado e Oppenheimer e leva adiante o seu lema: Docendo discimus.

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