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ESTUDO #12

Os caminhos da inovação – Desafios para o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do Brasil

por Vários Autores Atualizado em 28 nov 2021, 19h24 - Publicado em
29 nov 2021
09h00

Apresentação

Entre os múltiplos impactos da pandemia de Covid-19, revelou-se um paradoxo no ambiente econômico e empresarial brasileiro. O fenômeno foi registrado na área de inovação, decisiva para o desenvolvimento do país e seu posicionamento no cenário global.

Pesquisas internacionais produzidas por entidades respeitadas, como o Índice Global de Inovação (IGI), mostram que apesar do país ter galgado posições no ranking mundial em 2021, a performance ainda fica aquém do patamar registrado em 2010. Tal desempenho frustrante se dá justamente no momento em que fundos setoriais destinados ao desenvolvimento científico e tecnológico (tanto público como privado) passaram por um severo processo de contingenciamento. Para sobreviver ao baque da pandemia, muitas empresas acabaram se aventurando por esse caminho complexo e às vezes espinhoso, de maneira pouco organizada e sustentável.

Por outro lado, o país desponta como um promissor mercado para as chamadas startups, empresas de pequeno porte, focadas em negócios altamente inovadores, de viés tecnológico e altamente escaláveis. Grandes fundos globais de capital de risco veem hoje o Brasil como um dos mercados mais relevantes do mundo para esse tipo de iniciativa.

Em sua 12ª edição, o Veja Insights, em parceria com a CNI, Senai e Sesi, procura conectar essas duas realidades aparentemente contraditórias por meio de nove artigos que trazem análises detalhadas sobre o tema e apontam caminhos a seguir. Trata-se de uma reflexão necessária e decisiva para o futuro que se desenha à nossa frente.

Boa leitura.

O futuro e os investimentos em ciência e tecnologia

Por Robson Braga de Andrade*

LABORATÓRIO DA EMBRAPA - desenvolvimento com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológica (FNDCT) -
LABORATÓRIO DA EMBRAPA – desenvolvimento com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológica (FNDCT) – (Ronaldo Ronan Rufino/.)

Desafios sem precedentes, como a pandemia de covid-19, colocaram a área de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) em evidência, como ferramenta imprescindível para a retomada do desenvolvimento econômico e social. Fazer valer esse poder requer visão de longo prazo e liderança política para priorizar a capacidade transformadora da CT&I na criação de oportunidades e na melhora da qualidade de vida das pessoas.

Os países avançados compreenderam que o fortalecimento dos seus ecossistemas de CT&I, com o estímulo às inovações e a integração entre pesquisa e mercado, é primordial para tornar a indústria mais digitalizada, complexa e competitiva, e para gerar empregos de qualidade, melhorar o meio ambiente e promover a inclusão social.

Mas ecossistemas de inovação carregados de dinamismo e potencial econômico não evoluem espontaneamente. São resultado de políticas de longo prazo, de investimentos perenes em educação, ciência, tecnologia e inovação, feitos tanto por agentes públicos quanto privados. O financiamento estimulante e previsível é o grande diferencial para que empresários inovadores consigam gerar vantagens competitivas e fazer a economia girar.

No Brasil, quando os Fundos Setoriais foram criados, no fim dos anos 1990, percebeu-se a necessidade de assegurar recursos estáveis para irrigar a inovação e o desenvolvimento científico e tecnológico. Os Fundos Setoriais tornaram-se a maior fonte das receitas do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal instrumento de financiamento às atividades de CT&I em empresas e instituições de pesquisa do país.

A equação é simples: de um lado, o setor privado participa com o pagamento de tributos específicos, como a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), royalties de petróleo ou gás natural, e de percentual da receita de empresas de diversos setores econômicos. De outro lado, o setor público garante que o montante arrecadado seja exclusivamente dirigido ao apoio a projetos de desenvolvimento científico e tecnológico. Em outras palavras, empresas e governo financiariam conjuntamente a CT&I no país.

Usufruíram dos recursos do FNDCT companhias como Embraer e Embrapa, que imprimem a marca do Brasil inovador no mundo, além de tantas outras que desenvolvem pesquisa. Universidades e Institutos de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTs) públicos e privados também se beneficiaram. Por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), apoiou, por exemplo, o Siriús, o maior e mais avançado acelerador de partículas do hemisfério sul.

Nos últimos anos, porém, essa virtuosa equação público-privada se deteriorou. O orçamento do FNDCT não está sendo aplicado no seu fim. Em 2020, de um orçamento em torno de R$ 7 bilhões, menos de R$ 1 bilhão foram investidos em projetos não reembolsáveis em instituições de pesquisa e empresas, ao passo que R$ 4,2 bilhões foram contingenciados para pagamento da dívida pública. Em 2021, caminha-se para uma situação semelhante – apenas R$ 915 milhões, de um total de R$ 3,6 bilhões previstos, foram autorizados para investimento.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) – movimento que reúne cerca de 500 importantes líderes empresariais com o objetivo de fortalecer a inovação no país – trabalharam, com instituições cientificas, para retirar o FNDCT da PEC 187/2019, que extinguia vários fundos públicos. Propuseram ao senador Izalci Lucas a formulação do Projeto de Lei nº 135/2020, que, aprovado por ampla maioria no Senado e na Câmara, transformou o FNDCT em fundo contábil e financeiro, assegurando a aplicação dos recursos de forma imediata e integral na sua finalidade.

Com as duas ações, entrou em vigor a Lei nº 177/21, que proíbe o contingenciamento do Fundo. Entretanto, em flagrante contraposição à nova lei, os recursos continuam pouco acessíveis. Seguindo orientação do Ministério da Economia, metade do orçamento do FNDCT neste ano foi destinada a operações reembolsáveis da Finep, mas a cobrança da TJLP nos empréstimos, uma taxa de juros pouco atrativa, tem inviabilizado a tomada de crédito.

O repasse da outra metade está sendo sistematicamente adiado, como demonstra a recente aprovação do PLN 16/2021, que remanejou R$ 655 milhões do FNDCT para a cobertura de despesas de outros órgãos. Talvez por antever a não liberação integral dos recursos neste ano, promulgou-se a Lei nº 14.212/21, que permite a alocação, em reserva de contingência, da parcela do orçamento do Fundo não utilizada, abrindo definitivamente o caminho para que os recursos permaneçam em conta da União.

Enquanto o orçamento do Fundo deixa de ser aplicado, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) tem seu desempenho prejudicado pela falta de aporte dos recursos que deveria ser feito pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações. Diante dessa realidade, não surpreende a perda de posição do Brasil em rankings internacionais, como o Índice Global de Inovação, no qual houve queda de 10 posições entre 2011 e 2021.

O Brasil precisa urgentemente adotar uma visão de longo prazo, em que a Ciência, a Tecnologia e a Inovação sejam o grande fator de inserção do país na economia do conhecimento. Da mesma forma, deve integrar políticas públicas para forjar a indústria do futuro, desenvolvendo tecnologias críticas para o enfrentamento dos grandes desafios do planeta: sustentabilidade, produção de energia limpa, acesso à saúde e à educação, segurança alimentar, redução das desigualdades, e geração de emprego e renda.

A fórmula para o Brasil avançar não pode ser diferente da traçada por países desenvolvidos e que outros, como China, Coreia do Sul e Índia, estão rapidamente adotando. Não podemos abrir mão do papel do governo como indutor do investimento privado, por meio da ação conjunta com o setor empresarial e a academia, para que o país volte a crescer e retome seu lugar como uma das mais importantes economias do mundo.

*Robson Braga de Andrade, empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Um país que poderia avançar mais

TÉCNICOS EM ELETRÔNICA NO BRASIL - índice de inovação incompatível com a relevância do setor industrial -
TÉCNICOS EM ELETRÔNICA NO BRASIL – índice de inovação incompatível com a relevância do setor industrial – (Pedro Vilela/Getty Images)

O último levantamento internacional de inovação, divulgado em outubro pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI – WIPO, na sigla em inglês), apresenta o Brasil em uma posição contraditória. Por um lado, houve avanços, com o país tendo avançado cinco posições no Índice Global de Inovação (IGI) na comparação com o ranking de 2020. A colocação brasileira – 57º lugar entre 132 países avaliados – no entanto, é considerada ruim, pois o país ainda está 10 posições abaixo da posição obtida em 2011, quando chegou a sua melhor marca, a 47ª posição. No topo da lista aparece a Suíça, seguida pela Suécia e pelos Estados Unidos.

O ranking é realizado em parceria com o Instituto Portulans e conta com a colaboração de entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação da Indústria Indiana (CII), a Ecopetro e a Assembleia de Exportadores Turcos (TIM). A CNI, por meio da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), é parceira na produção e divulgação do IGI desde 2017. A classificação começou a ser publicada anualmente em 2007.

Na avaliação da CNI, a colocação brasileira é incompatível com o fato de o país ser a 12a maior economia do planeta, em 2020, e com a realidade de termos um setor empresarial sofisticado. Recente trabalho do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) mostra o Brasil em 13º lugar entre 45 países no ranking internacional para o desempenho da produção da indústria.

O Índice Global de Inovação é formado pela média de cinco pilares (Instituições; Capital humano e pesquisa; Infraestrutura; Sofisticação de mercado e Sofisticação empresarial). Também são avaliados quesitos como Insumos de inovação, Produtos de conhecimento e tecnologia e Produtos criativos, distribuídos em 81 indicadores.

Três dos fatores que levaram o Brasil a uma melhor colocação em relação ao ano passado foram a retração do PIB – que dá uma falsa percepção de avanço em razão do uso dessa medida relativa em alguns indicadores –, a inserção de novos indicadores no ranking e a boa atuação empresarial, refletida no desempenho em indicadores como Produtos de alta tecnologia e Valores recebidos por uso de propriedade intelectual. O uso de dados de outros anos e o plano de combate ao backlog de pedidos de patentes também contribuíram para o ganho de colocações.

De acordo com os dados, o Brasil continua a ter melhor desempenho em insumos de inovação do que em resultados de inovação, ocupando o 56º lugar (59º em 2020) e 59º (64º em 2020), respectivamente. A CNI observa, no entanto, que o país carece e muito de políticas de incentivo à inovação e tem sofrido cada vez mais com cortes do financiamento público à agenda de CT&I.

As principais fraquezas do país, apontadas no ranking, são Formação bruta de capital; Facilidade para abrir uma empresa; Facilidade para obtenção de crédito e Taxa tarifária aplicada.

O IGI é um dos principais instrumentos de referência para dirigentes empresariais, formuladores de políticas públicas e aos que buscam conhecimentos sobre a inovação no mundo. As diferentes métricas do ranking podem ser usadas para monitorar o desempenho de um país, comparando-o com economias da mesma região ou mesmo grupo de renda.

Brasil é o quarto colocado entre os países da América Latina e Caribe. Os dados mostram que o Brasil ocupa a 11ª posição entre as 34 economias do grupo de renda média alta e é o 4º. colocado entre as 18 economias avaliadas da América Latina e do Caribe, ficando atrás do Chile (53º), do México (55º) e da Costa Rica (56º). Entre os países dos BRICS, o Brasil aparece em penúltimo, à frente apenas da África do Sul, que está em 61º lugar. A China é a 12ª colocada, a Rússia está no 45º lugar e a Índia, no 46º.

O desempenho brasileiro está acima da média do grupo de renda média alta em apenas quatro pilares: Capital humano e pesquisa; Infraestrutura; Sofisticação de negócios; e Produtos de conhecimento e tecnologia. Em relação às economias da região, seu desempenho é acima da média em todos os pilares.

Os maiores avanços do Brasil em relação aos dados de 2020 se deram nos indicadores de Crescimento da produtividade no trabalho (58 posições) e de Gastos totais com software (46 posições). Como o primeiro é calculado considerando a média dos três últimos anos em relação ao PIB, sendo 2020 o último ano, a explicação plausível é que, apesar da redução de empregados, o PIB foi reduzido drasticamente, dando a falsa impressão de maior produtividade. O segundo, que tem o ano passado como referência, se explica pelos investimentos em software aumentados durante a pandemia e sua relação com o percentual do PIB, que caiu.

Chamam também a atenção os avanços em Marcas registradas por origem, Pedidos de patente por origem e Pedidos de modelo de utilidade por origem. Por serem dados de 2019, podem estar relacionados ao Plano de combate ao backlog, lançado pelo INPI nesse mesmo ano, que vem reduzindo o estoque de pedidos de patentes desde o ano citado.

É importante pontuar, ainda, que a maior parte dos dados analisados é referente a 2019. Além disso, a análise do Brasil considera quatro indicadores com dados mais antigos que o do ano de modelo do IGI e utilizado pela maioria dos países, não atualizados pelo governo brasileiro para as fontes que alimentam o IGI. Dois deles têm cinco anos de defasagem. Pesquisadores, no qual o Brasil se classifica em 53º lugar, e Talentos na área de pesquisa em empresas, ocupando o 46o lugar, com avanço de cinco posições em relação a 2020 e Talentos na área de pesquisa em empresas, ocupando o 46º lugar, com avanço de cinco posições na comparação com o ano passado.

Também é importante considerar que há três indicadores sem dados para o Brasil, dois deles não mensurados pelo governo brasileiro; o outro se refere a um relatório do Banco Mundial que não foi atualizado para o país – Empresas que oferecem treinamento formal.

Os dados não mensurados pelo governo brasileiro são: Gastos brutos com P&D por empresas e Gastos brutos com P&D Financiados a partir do exterior. Esses três indicadores integram o pilar Sofisticação empresarial, onde temos a melhor classificação do país entre os sete pilares. Como já mencionado, a ausência de dados tende a favorecer o posicionamento no ranking.

A fim de contribuir para o avanço da agenda de CT&I no país, a CNI tem realizado nos últimos anos diversas parcerias com órgãos públicos e centros de pesquisa. A principal iniciativa nesse sentido é coordenar a MEI, que tem como objetivo principal incentivar as empresas a colocarem a inovação no centro de suas estratégicas de negócios.

A MEI tem desempenhado papel fundamental na integração dos setores públicos e privado e das universidades em torno de uma agenda consistente de inovação, que contemple o aprimoramento do marco regulatório da inovação, a modernização do sistema de financiamento e a reestruturação dos currículos de engenharia, entre outras prioridades. A CNI mantém também uma importante rede de institutos de inovação e tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que ajudam indústrias de todo o Brasil a inovarem, e centros de inovação do Serviço Social da Indústria (SESI).

Outra importante iniciativa em prol da inovação foi a parceria firmada no ano passado pela CNI com o SOSA – plataforma israelense que tem atuação global em inovação aberta. O acordo oferece a empresas brasileiras de médio e grande porte a facilitação de acesso a tecnologias disponíveis em mais de uma dezena de hubs de inovação. Além disso, também promove startups brasileiras com maior nível de maturidade em mercados internacionais, por meio de programas de residência nos ecossistemas de Nova Iorque e Tel Aviv.

Lucro e produtividade sob a pandemia

LABORATÓRIO DE PESQUISA - inovação cresceu nas empresas como forma de enfrentar as dificuldades -
LABORATÓRIO DE PESQUISA – inovação cresceu nas empresas como forma de enfrentar as dificuldades – (Solskin/Getty Images)

O impacto da pandemia de Covid 19 foi devastador sob o aspecto sanitário e particularmente desafiador para a economia brasileira. Mas ainda assim, oito em cada dez indústrias de grande e médio porte no país inovaram em 2020 e 2021 e viram crescer sua produtividade, sua competitividade e seus resultados financeiros. É o que mostra pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), realizada pelo Instituto FSB Pesquisa com executivos de 500 empresas. De acordo com os números, 88% promoveram alguma inovação durante a pandemia de Covid-19, como forma de buscar soluções para a crise imposta pelo contexto sanitário, ainda que metade delas não tem setor específico de inovação e apenas 37% possuem orçamento reservado para tal fim.

Dentre o total de empresas ouvidas, 80% registraram ganhos de produtividade, competitividade e lucratividade decorrentes de inovações. Outras 5% tiveram dois desses ganhos e 2%, um ganho. Apenas 1% das indústrias brasileiras inovou e não viu nenhum incremento em seus resultados. Os dados mostram que somente 13% dos executivos entrevistados disseram que suas empresas não inovaram durante a pandemia.

Por outro lado, chama a atenção o número de indústrias que não têm área de inovação – 51% delas não tem um setor específico. Os dados apontam ainda que 63% do total das empresas pesquisadas não têm orçamento reservado para inovação e 65% não dispõem de profissionais exclusivamente dedicados a inovar.

De acordo com a pesquisa, as principais causas para dificuldade em inovar durante a pandemia são acessar recursos financeiros de fontes externas (19%), a instabilidade do cenário externo (8%), a contratação de profissionais (7%), falta de mão de obra qualificada (8%) e o orçamento da empresa (6%).

Os dados mostram também que apenas uma em cada quatro empresas mantém algum programa ou estratégia de inovação aberta, sendo que se avaliadas somente as grandes indústrias, o índice chega a uma em cada três. Os executivos afirmaram ainda que a relação com o cliente e os processos são os itens mais prioritários para a empresa inovar no pós-pandemia, cada um com 18% de menções.

Do universo de 500 empresas pesquisadas, 79% responderam que foram prejudicadas com a pandemia, sendo a maior parte localizada na Região Nordeste (93%). 58% das indústrias apontam que a cadeia de fornecedores foi a mais prejudicada, seguida de vendas (40%) e linhas de produção (23%). Por outro lado, mesmo com as dificuldades, 55% das empresas disseram que registraram aumento no faturamento bruto.

A pandemia acelerou importantes processos de inovação dentro das empresas – 84% das grandes e médias afirmam que terão que investir em inovação para crescerem ou se manterem no mercado. As médias empresas são as que mais sentem essa necessidade em avançar em ações estratégicas, 85% delas responderam que terão que inovar mais, contra 80% entre as grandes.

A pesquisa mostra que para os próximos três anos as empresas consideram como prioridades ampliar o volume de vendas (49%), produzir com menos custos (49%), produzir com mais eficiência (41%), ampliar o volume de produção (34%) e fabricar novos produtos (27%). Para isso, entre os setores que as indústrias consideram mais importante inovar estão o de relação com o consumidor (36%), setor de processos (35%) e de produção (31%).

A adoção de novos sistemas de trabalho durante a pandemia reforça a importância de a indústria manter o foco na inovação. Seis em cada 10 empresas implementaram sistemas de segurança da informação e 63% investiram em ferramentas de automação.

Startups vivem seu melhor momento - mas há desafios

Por Felipe Matos*

SEDE DO NUBANK, EM SÃO PAULO - um das startups mais valiosas do planeta -
SEDE DO NUBANK, EM SÃO PAULO – um das startups mais valiosas do planeta – (Heitor Feitosa/VEJA)

O mercado de startups e inovação vem batendo recordes no Brasil e no mundo, seja em crescimento, investimento, ou geração de empregos. É inegável que o cenário das startups, impulsionado pela adoção de tecnologia cada vez maior em todos os níveis de nossas vidas, vem se desenvolvendo consideravelmente nos últimos anos. Mas, afinal, o que são essas empresas, e qual foi a trajetória para que virassem as novas queridinhas do nosso país?

Startups são empresas em fase inicial que desenvolvem produtos ou serviços inovadores e com potencial de crescimento rápido, geralmente baseados no uso intensivo de tecnologia. Dentre as principais características que podem definir uma startup, podemos destacar:

– Inovação: apresenta um produto ou serviço novo, ou com aspectos de novidade em seu modelo de negócio, para o seu público, com fatores diferenciais em relação às soluções vigentes;

– Escalabilidade: trata-se da capacidade de crescimento. Quando dizemos que um negócio é escalável, ele deve poder atingir de forma muito rápida um alto volume de usuários a custos consideravelmente baixos;

– Repetibilidade: o modelo de negócio – forma como a startup gera valor – deve ser repetível, isto é, ele deve funcionar de forma satisfatória em diferentes contextos regionais e escala;

– Flexibilidade e rapidez: por ser pequena e inovadora, é necessário que a startup consiga ter adaptabilidade rápida ao mercado. Ou seja, modificar rapidamente sua oferta de acordo com as demandas e necessidades dos clientes.;

Hoje no Brasil temos mais de 13 500 startups em todo país segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), com pelo menos 21 startups unicórnios (avaliadas em 1 bilhão de dólares). Só no primeiro semestre de 2021, o valor de aportes de investimentos recebidos por startups do país já ultrapassou 27 bilhões de reais, mais que em todo ano de 2020, num crescimento de quase 200% sobre o mesmo período do ano passado, segundo o relatório Inside Venture Capital Report, da Distrito. Também tivemos neste período os primeiros IPOs locais – a abertura de ações em bolsa de valores – de startups brasileiras. Todos esses movimentos impulsionam o desenvolvimento econômico com muitas vantagens para o país.

Mas nem sempre foi assim. Para que o Brasil chegasse a esse patamar, foi preciso desenvolver todo um ecossistema de inovação, com agentes de apoio, capital disponível para investimento, cultura adequada, dentre outros elementos.

Eu tive a oportunidade de assistir de perto e participar da construção desse ecossistema nos últimos 23 anos. Quando comecei a empreender, em 1999, aos 16 anos de idade, não havia aceleradoras e poucos investidores atuavam no Brasil. Depois de muito procurar, encontrei investidores anjos dispostos a apostar no meu negócio – o primeiro aplicativo móvel do Brasil, numa era ainda pré-smartphones, que ficaram com 80% da empresa por um pequeno aporte. O negócio era péssimo em comparação às práticas de hoje, mas não havia opções. A empresa quebrou, entre outros pontos, por falta de um modelo de negócios consistente e de investidores dispostos a apostar nos próximos passos de crescimento. Foi nessa época que a bolha de 2000 da bolsa de tecnologia NASDAQ estourou nos Estados Unidos, solapando as perspectivas de crescimento nos investimentos tech por aqui também.

Alguns anos depois, a partir de 2005, o país começou a assistir um novo momento de crescimento do mercado de tecnologia, apoiado pelo aumento da conectividade de internet e do número de usuários de smartphones. Por um lado, comunidades de empreendedorismo tecnológico começaram a se organizar, oferecendo mentorias e apoio aos novos empreendimentos. Por outro, grupos de investidores anjos, primeiros fundos de investimento, aceleradoras e programas governamentais de incentivo começaram a surgir.

Eu estive muito envolvido nesse movimento: em 2007 participei da fundação do primeiro Fundo Criatec, um dos primeiros fundos de capital semente nacionais. Em 2011, fundei a primeira aceleradora de startups digitais, a Startup Farm, e em 2013 fui diretor do programa Startup Brasil – a primeira iniciativa pública nacional a apoiar startups digitais em fase inicial, de alcance internacional, que pavimentou o modelo de aceleração no país. Esse florescimento do empreendedorismo digital também começou a ganhar corpo com a fundação da Abstartups em 2011, dando voz e respaldo a essa empresas e, com as primeiras startups encerrando ciclos de crescimento bem sucedidos, atraindo assim investimentos multimilionários e começando a gerar saídas – o esperado momento do exit dos investimentos – que culmina na venda de ações das empresas – e retorno do capital investido.

Alguns marcos nesse caminho de consolidação foram importantes, como o lançamento do CASE (Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo), em 2014. Aquele primeiro evento tinha pouco mais de mil pessoas e hoje é considerado o maior e mais importante evento de startups da América Latina, com previsão de mais de trinta mil participantes na sua 8a (oitava) edição este ano. Em 2015, eu participei da fundação do Movimento Dínamo, que reuniu diversas lideranças do ecossistema para propor melhorias nas políticas públicas em prol do setor, culminando na recente aprovação do Marco Legal das Startups, neste ano.

Na segunda metade da década de 2010, o mundo das startups brasileiras cresceu vertiginosamente ano após ano, até que em 2018, a startup de transporte de individual de passageiros por aplicativo 99 se tornou o primeiro unicórnio brasileiro, seguido por diversas outras empresas nos anos seguintes, entre elas a Nubank, que já é considerado o maior banco digital do mundo e está entre as 10 maiores startups valiosas do planeta . Outras empresas com as quais os brasileiros se acostumaram a conviver entraram nesse seleto grupo dos unicórnios nacionais: iFood, Gympass, Quinto Andar, Loft e Loggi, por exemplo.

As startups têm um papel importantíssimo para desenvolver o nosso país. Diferente de uma empresa tradicional, gera uma série de efeitos benéficos adicionais para a economia e para a sociedade:

– São empresas de rápido crescimento a custos relativamente baixos, gerando empregos e desenvolvimento econômico de forma mais eficiente. Esse tipo de crescimento rápido é especialmente importante em momentos de retomada econômica, como no pós-pandemia;

– Oferecem soluções tecnológicas inovadoras, cuja adoção provoca um aumento de eficiência de diversos setores, ampliando a produtividade e a competitividade do país. Ou alguém aí quer voltar ao tempo de pedir táxi e pizza por telefone ou usar só chamadas de voz com tarifas interurbanas caras para falar com amigos, familiares e colegas de trabalho?;

– São intensivas em conhecimento, gerando diversos desdobramentos na formação de pessoas qualificadas e na instalação de competências tecnológicas que geram novos negócios e oportunidades. Mesmo quando uma startup dá errado, ela traz benefícios para o país, ao formar profissionais com conhecimento de ponta, que acabam se somando ao mercado ou até se tornando novos empreendedores e empreendedoras de futuras startups;

Porém, infelizmente nem tudo são flores. Temos muitos desafios pela frente. A regulação do setor está muito aquém das necessidades. Apesar dos avanços no novo Marco Legal das Startups, ainda há diversos pontos negativos que nos colocam atrás dos principais países do mundo e precisam ser endereçados, como o tratamento tributário, insegurança jurídica em temas como distribuição de opções de ações, a falta de incentivo aos investidores anjos, aqueles que apostam nas fases mais iniciais, de maior risco. Além disso, a reforma tributária cujo texto proposto pelo governo tramita atualmente na câmara traz elementos que pioram consideravelmente a capacidade de atração de investimentos do exterior e de internacionalização dessas empresas, por exemplo.

Se por um lado, vemos investimentos quebrando recordes com o passar dos anos, por outro, eles ainda estão concentrados em poucas empresas, já bem mais maduras. É preciso distribuir melhor o acesso à capital, proporcionando o financiamento de startups independente de sua região, setor e, principalmente, nas suas fases iniciais. O investimento anjo, fundamental para esse primeiro ciclo da startup, cresceu pouco no Brasil em comparação às demais modalidades, chegando até a diminuir em 2020, em decorrência da pandemia, segundo a Associação Anjos do Brasil. Apesar de já vermos sinais de uma forte recuperação esse ano, os anjos têm um tratamento tributário incompatível com a importância e risco da sua atividade e até injusto, em comparação com a tributação de outras modalidades de investimento. Ao contrário da maior parte dos países desenvolvidos e dos nossos vizinhos latinos, o Brasil não tem políticas de incentivo a esse tipo de investimento produtivo.

Por fim, enfrentamos a iminência de um apagão de mão de obra qualificada. Estamos vivendo uma forte demanda por talentos em tecnologia e áreas correlatas: o número de vagas nas startups só aumenta, porém não existem profissionais na quantidade e qualidade necessárias, o que é um enorme contrassenso em um país como o Brasil, com grande número de desempregados. A fuga de cérebros desses profissionais para o exterior tem sido cada vez maior e a pandemia também aumentou contratações remotas de profissionais locais por empresas estrangeiras, aumentando ainda mais a competição por talento. É preciso investimentos direcionados em educação e formação para evitarmos esse apagão humano no setor, o que pode se tornar um gargalo importante para o seu crescimento.

Hoje, como presidente da Associação Brasileira de Startups e como fundador da Escola Sirius de tecnologia, sigo buscando colaborar para a construção de um cenário de oportunidades para o crescimento do nosso país em prol de todas as pessoas empreendedoras. As startups são pontos-chaves e representam uma oportunidade de ouro para que possamos fazer do nosso país um polo de inovação.

Capacidade para isso nós temos. Afinal, todos sabemos que os brasileiros têm competências criativas únicas e são reconhecidos no mundo inteiro por sua capacidade de inovar e seu modelo de gestão. Se conseguirmos evoluir estruturalmente nosso ecossistema inovador, quem ganha não são somente os empreendedores, e sim toda a população. Eu acredito nesse futuro! Olhando o quanto evoluímos nos últimos 20 anos, temos a oportunidade de projetar os próximos nessa direção. Com mobilização e vontade política, será possível.

* Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups)

O capital de risco e a arrancada pela inovação

Por Gustavo Araujo*

CARNE DE ORIGEM VEGETAL - investimentos em agritechs no foco do capital de risco -
CARNE DE ORIGEM VEGETAL – investimentos em agritechs no foco do capital de risco – (Yuriko Nakao/Getty Images)

O mundo ainda passa por um momento delicado e a economia no Brasil vem enfrentando diversas dificuldades. Mas há um mercado no país em plena explosão e que deve continuar em ritmo acelerado nos próximos anos. Estamos falando do capital de risco ou venture capital. Mesmo com a pandemia – ou, na verdade, acelerado por ela diante da emergente necessidade de rápida transformação digital e adaptação em várias áreas – houve recorde absoluto de investimentos em startups locais.

Se em 2018, o volume foi de 1,27 bilhão de dólares, acredita-se que 2021 termine com a soma de aportes na casa de 10 bilhões de dólares – mais que o dobro do ano anterior, que já havia batido todos os níveis históricos. O primeiro semestre já desenhou bastante do que será este ano, com um aumento de 295,6% em relação a 2020.

Além do aumento da quantidade de deals (transações), o tamanho dos cheques também vem aumentando substancialmente, com montantes maiores investidos em rodadas de até Series D, E e mais. Com isso, já são 13 unicórnios no Brasil, puxados sobretudo pelas fintechs, mas com destaques em outros setores como varejo e imobiliário. E relatório Corrida dos Unicórnios, da plataforma de inovação Distrito, ainda aponta os novos candidatos a “animais mitológicos”.

Os IPOs (abertura de oferta pública de ações) de startups – um fenômeno recente no Brasil – e os M&As (Mergers and Acquisitions, ou fusões e aquisições), principalmente de grandes empresas comprando startups – também estão em ritmo acelerado de crescimento e o mercado já começa a apostar nos grupos que devem dominar cada setor. As corporações que saíram na frente, fizeram a transformação digital e passaram a fazer inovação aberta estão indo às compras e adquirindo startups, ganhando assim mais fatia de mercado, expandindo linhas de receita e agregando mais tecnologia rapidamente.

Algumas startups preferiram seguir a rota da captação e fizeram o IPO, caso por exemplo de Méliuz, Enjoei e outras. Essas que chegam lá e se tornam realmente grandes estão adquirindo outras startups e algumas já valem mais do que grandes corporações com dezenas de anos de atuação, a exemplo do Nubank, cujo valor de mercado ultrapassou alguns dos principais bancos no Brasil.

Claramente alguns setores foram ainda mais acelerados com a pandemia. É o caso das fintechs – que já se destacavam entre as áreas que mais receberam investimentos no país. Dos mais de 5,5 bilhões de dólares investidos até julho deste ano, metade do montante está nesta vertical, que conta com megarounds – rodadas acima de 100 milhões de dólares. Isso ficou ainda mais latente em razão da grande necessidade de bancarização (ou “fintechzação”) das empresas em geral, de uma maior inclusão dos desbancarizados emergenciada pelo confinamento, da chegada do PIX e do próprio open banking.

Mas é fato que diversos outros setores despontaram, como é o da caso da saúde e do agronegócio. As healthtechs tiveram uma forte ascensão, provocada pela crise da Covid-19. Nos primeiros sete meses do ano, as empresas com soluções tecnológicas para a área da saúde levantaram US$ 216 milhões em 34 rodadas, o que já representa quase o dobro do investido durante todo o ano passado, quando foram aportados 112,2 milhões de dólares no setor. Essa categoria, que por se relacionar diretamente à vida humana enfrentava grande carga de regulamentação e burocracia, viu o mercado perder o medo e se abrir para inovação.

Diversas empresas e o governo deram espaço e até mesmo clamaram por digitalização, escalabilidade e otimização de processos via tecnologia dado o desafio da pandemia e aumento da demanda nos hospitais, clínicas e laboratórios. E o resultado foi um boom principalmente em telemedicina, big data e inteligência artificial que viabilizaram soluções como consultas e exames à distância, otimização de triagem e ocupação de leitos, diagnóstico e muito mais. Em apenas dois meses do seu lançamento, o TeleSUS, do Ministério da Saúde atendeu 73 milhões de brasileiros. No mesmo período, o Hospital Israelita Albert Einstein (SP) teve um incremento de 1.330% nas teleconsultas. Os dados são do estudo ‘Lições da pandemia – perspectivas e tendências’, feito pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) em parceria com a consultoria Bain & Company. A startup W3. Care, por exemplo, utiliza inteligência de dados para antever os locais com maior probabilidade de ocorrer acidentes e posicionar bases de ambulâncias em lugares estratégicos e com menores custos.

Quem também ganhou bom protagonismo na crise provocada pela Covid-19 foi o agronegócio, responsável por 20% do PIB do Brasil. O crescimento veio da alta na demanda de alimentos e o boom de commodities, com destaque ainda para tendências como plant based e alimentação saudável, que alavancou o setor e fez muitos experimentarem novas tecnologias. Na comparação com fintechs e healthtechs, os números do ecossistema de startups de agro não parecem tão expressivos, mas os aportes ultrapassaram 170 milhões de dólares nos últimos dez anos. Neste caso, a maior parte dos deals ainda está concentrada no estágio Seed, o que sinaliza que o investimento de risco ainda está descobrindo as agtechs.

Entre 2009 e 2020, houve também seis aquisições em agtechs, com participação tanto de empresas do agronegócio, como também de outros setores, como no caso da compra da Gira, que oferece tecnologia financeira para o agronegócio, pelo banco Santander em 2020. Também no ano passado a Mvisia, empresa de sistemas de visão industrial, comprou a Weg, especializada na fabricação de motores elétricos.

Entre as agtechs, ganham destaque os softwares de gestão de produção agropecuária, as empresas especialistas em internet das coisas e big data analytcs para o campo, além do uso de drones para controle de massa nas grandes plantações.

Esses e outros dados, presentes nos Inside Reports do Distrito, mostram que este ano será um marco histórico. Vamos atingir um patamar de investimentos em startups inédito e, mesmo com toda esta movimentação, estamos apenas no início de uma jornada de transformação econômica e social. O venture capital chegou com força para resolver grandes problemas do país e gerar empregos, além de inovação, tecnologia e conhecimento. E as empresas que estão de olho vão sair na frente.

* Gustavo Araujo, cofundador é CEO do Distrito, plataforma de inovação aberta e transformação digital para empresas

As grandes se voltam para as pequenas

Por Pedro Prates*

ROBÔ NA SEDE DO FUNDO SOFTBANK EM TÓQUIO - apoio à inovação no Brasil -
ROBÔ NA SEDE DO FUNDO SOFTBANK EM TÓQUIO – apoio à inovação no Brasil – (Hitoshi Yamada/NurPhoto/Getty Images)

A caminho do fim do ano de 2021, o ecossistema tech no Brasil e América Latina só tem motivos para comemorar. Nos últimos meses, mega-rodadas foram anunciadas. No Brasil, junho, por exemplo, fechou com um total de 2 bilhões de dólares investidos em 63 ofertas. O primeiro semestre somou mais de 5,2 bilhões de dólares em investimentos, um marco, com o maior valor já visto na história do país.

Esse recorde só foi possível porque empreendedores brasileiros e da região conquistaram a confiança de investidores nacionais e globais. E por méritos próprios porque tiraram seus planos do papel, provando ser possível resolver problemas estruturais com tecnologia e modelos de negócio inovadores. Mostraram também que não se contentam com pouco. Que não querem parar em valuations – avaliação de empresas – de 100 milhões de dólares. Querem transformar o mundo e alcançar valuations de 1 dólar, 10 de dólares e mais de 30 bilhões de dólares.

Dentre os investidores, grupos como SoftBank, Tiger Global Management, Tencent, Accel, Ribbit Capital, QED Investors, entre outros que não baseados na América Latina, estão apostando forte na região. Isso porque entendem que há muitas oportunidades a longo prazo mais interessantes até do que em locais como os EUA.

Atualmente, o mundo possui mais de 900 unicórnios – startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares – com um valor acumulado de 3 trilhões de dólares, segundo o Crunchbase. Até julho deste ano, entraram para este seleto time 291 novas empresas, número 18 vezes maior que 2011, ultrapassando qualquer ano anterior. Na América Latina, há pelo menos 23 startups com esse status, com o Brasil na liderança. Em 2019, só China e Estados Unidos haviam produzido mais unicórnios que nosso país, que ficou ao lado da Alemanha neste quesito.

Antes vistas como “ameaças”, uma vez que o desconhecido causa certa desconfiança, essa consolidação é prova de que inovação mudou o cenário. Deste modo, as empresas começaram a investir em parcerias de diversas formas. Alguns formatos têm ocorrido com mais frequência, como o de corporate venture capital. A companhia faz um aporte em uma startup que busca investimento e ela, por sua vez, utiliza esse recurso para crescer. No futuro, a corporação tem uma vantagem bastante competitiva com as soluções de impacto mais significativo desenvolvidas pela startup, inclusive com a oportunidade de adquiri-las em definitivo.

Na mesma toada de crescimento e desenvolvimento, estão as fusões e aquisições (M&As). No ano passado, esse mercado movimentou 229 bilhões de reais. Só no primeiro semestre de 2021, o valor já chegou a 258 bilhões de reais nas operações anunciadas, 48% superior ao mesmo período de 2020. E o setor que mais mostra atividade é o de Tecnologia, totalizando 363 transações, mais que o dobro de finanças e seguros, que ocupam a segunda colocação.

Outra opção é a “parceria comercial”. Com a facilidade de encontrar soluções plug-and-play, as empresas conseguem ganhar melhorias operações de forma bem ágil, mas é valido ressaltar que a estrutura de uma startup é diferente de uma corporação tradicional. Por isso, para aproveitar a vantagem de ser parceria de uma, vale adotar processos menos rigorosos em suas contratações e no relacionamento com elas.

A prova de conceito, também conhecida como PoC, é mais uma maneira de iniciar essa aproximação com startups em um ambiente mais controlado, com a definição de duração e escopo do trabalho desde o início do projeto. O intuito deste formato é comprovar a capacidade da startup e fazer possíveis ajustes para que essa parceria possa acontecer em um modelo mais duradouro.

E esse movimento de parcerias é uma consequência do frequente aumento no ritmo de investimentos de venture capital. Em 2020, mais de 4 bilhões de dólares foram injetados nas startups latino-americanas em 488 negócios, de acordo com a LAVCA, Associação para Investimento de Capital Privado na América Latina.

Outro ponto interessante que ressalta a consolidação e o bom momento que vivem os empreendedores no Brasil, é o forte crescimento das ofertas públicas iniciais, mais conhecidas pela sigla IPO. Dos 32 já realizados neste ano, nove são de empresas de tecnologia. Hoje elas somam 16 listadas na bolsa, número quatro vezes maior do que em 2019, quando havia apenas quatro.

O Cubo Itaú, nosso hub de fomento ao empreendedorismo tecnológico, também acompanha um aumento relevante de corporações fazendo aquisições de startups. Esse movimento ganhou força dado que as startups têm um modelo mais ágil e fácil para escalar. A Dasa, parceira no Cubo Health que fomenta soluções de saúde, investiu na compra da startup Gesto, que atua na gestão de planos de saúde corporativos, na análise de dados e como corretora de seguros. No último ano, essa foi apenas uma das aquisições da corporação, que é a maior rede de saúde integrada do Brasil e líder em medicina diagnóstica no país e na América Latina.

Inclusive, foi com o intuito de fazer essas conexões que há 6 anos, o Itaú, em parceria com a Redpoint eventures, criou o Cubo. A curadoria, um dos principais ativos da comunidade, coloca em evidência os empreendedores mais maduros, em fase de tração e prontos para fazerem seus negócios deslancharem. Incentivar a geração de negócios fomenta um ciclo virtuoso, com empreendedores mostrando seu valor à economia, ganhando a chancela de especialistas em seus mercados, aproximando-se daqueles que avaliam o potencial de oportunidade de negócio e desenvolvendo mercados e setores.

Estes bons números comprovam não apenas a evolução do ecossistema ao longo dos anos, mas reforçam o potencial de crescimento que há pela frente. Seguindo a tendência internacional, o Brasil tem vivenciado a ascensão das empresas de tecnologia. Numa comparação, entre as maiores empresas brasileiras do setor de 2010 a 2021, é possível observar suas valorizações em 3,2 vezes, além da entrada de diversas startups nessa fatia de mercado. Na Bolsa de Valores, por exemplo, há 10 anos, as empresas de tecnologia representavam 0,6% em participação. Hoje, este número chega a 1,3%, ou seja, cresceu 100%. No entanto, essa acelerada movimentação nacional ainda é baixa quando comparada a outros ecossistemas mais evoluídos.

Nos Estados Unidos, um país mais desenvolvido na área tech, o resultado também foi bastante expressivo. As pure techs (puramente tecnológicas) representavam 18,6% em 2010 contra 27% atualmente, um aumento de 50%. Por lá, elas ocupam sete posições no ranking local. Na China, são cinco. Das top 10 empresas em valor de mercado na América Latina, apenas a MELI (Mercado Livre) é o que conhecemos como pure tech.

Se todo esse desenvolvimento veio apenas na última década, como será que o ecossistema deve se comportar nos próximos 10 anos? Certamente em 2030 o mercado de tecnologia deve ganhar ainda mais espaço por aqui e em toda região latina, afinal com mais de 650 milhões de habitantes, um PIB de 4,2 trilhões de dólares e inúmeras ineficiências estruturais a serem resolvidas se torna o ambiente perfeito para penetração de soluções digitais.

Para incentivar o surgimento de empreendedores com soluções que auxiliem na transformação digital, diversos países locais estão apostando em mudanças na regulação, com flexibilização e novas normas. No Brasil temos o recém-lançado Marco Legal das Startups e outros, como Sandbox Susep, BC# etc.

A acessibilidade à internet é outro catalisador para a adoção destas soluções. Hoje, o país é o quinto maior mercado mobile mundial, indicam dados da consultoria Newzoo. São 109 milhões de aparelhos que atuam quase como uma extensão do corpo da população brasileira. De compras online a redes sociais, pessoas ficam conectadas por mais de nove horas todos os dias, atrás apenas das Filipinas. Só nos aplicativos, a média diária é de 5,4 horas. Esses dados por si só são uma alavanca para incentivar a transformação digital em diversos setores. Sem contar as novas gerações, nativas ao universo digital, adotam serviços cada vez mais cedo.

Mais recentemente, desde o ano passado, a transformação digital foi acelerada em consequência da pandemia de Covid-19, que colocou o mundo em lockdown. Para startups, o primeiro momento foi marcado por um choque de liquidez, com a necessidade de replanejamento, principalmente financeiro. Grande parte delas teve que dar uma parada brusca para reorganizar seus planos, fossem de crescimento, expansão, fazer uma avaliação sobre seu modelo de negócio e repensar o fluxo de caixa. Reservas que estavam preparadas para seis meses, foram recalculadas para um ano e meio, dadas as incertezas.

O mesmo ocorreu dentro das corporações que tinham insegurança do trabalho remoto, solução que se tornou a única opção para que conseguissem continuar funcionando. Tornou-se uma oportunidade para que as grandes companhias reavaliassem seu modus operandi e dando mais espaço para o relacionamento com as novas entrantes.

Este cenário deixou clara a diferença entre corporações mais avançadas em sua transformação digital e aquelas que estavam deixando esse movimento em segundo plano. Foi evidenciada a necessidade de mudança para as corporações na luta pela relevância a longo prazo. De um lado, soluções que atendem problemas reais, prontas para serem escaladas; do outro, corporações forçadas a buscar a renovação e abertas ao novo. O resultado foi uma série de parcerias que favoreceram o ecossistema de inovação de maneira sólida e crescente, mesmo neste cenário adverso.

Isso significa que essas empresas precisam aproveitar o contexto para acelerar a agenda de transformação digital. Na minha visão, as empresas tradicionais que se manterão relevantes em 2030 são aquelas também serão tech em vários aspectos, desde sistemas leves e flexíveis até foco na jornada do cliente.

Só no Cubo Itaú, as startups receberam mais de 1 bilhão de reais em investimentos e conquistaram um faturamento acumulado superior a 4 bilhões de reais no último ano. Atuando em uma das mais demandadas no período de pandemia, Conexa Saúde, teve uma explosão de clientes e cresceu 53 vezes em 2020. A startup é uma plataforma de telemedicina que apoia a não sobrecarga do sistema, unindo expertise dos médicos à agilidade digital.

O ecossistema de inovação e todos os setores já mudaram muito. O mercado brasileiro, assim como o latino, tem premiado as empresas tech. E pelo que vemos nos exemplos de regiões mais maduras ao redor do mundo, ainda há muito espaço para evolução. Veremos como será nossa conversa em 2030.

* Pedro Prates, co-head do Cubo Itaú

O mundo é dos unicórnios

Rafael Forte*

STARTUP NOS ESTADOS UNIDOS - grandes negócios com raízes na inovação -
STARTUP NOS ESTADOS UNIDOS – grandes negócios com raízes na inovação – (Thomas Barwick/Getty Images)

Empresa Unicórnio. Este termo que tornou-se popular no mundo dos negócios nos últimos anos, e que tem gerado manchetes e extensa cobertura da imprensa. Mas quais são os fatores que fazem uma startup receber o rótulo de Unicórnio?

Para chegar à resposta desta pergunta, precisamos inicialmente de um pouco de contexto. A expressão foi usada pela primeira vez em 2013. A investidora-anjo Aileen Lee, criadora do fundo de capital Cowboy Ventures, assim classificou as startups com valor de mais de US$ 1 bilhão, no artigo “Welcome To The Unicorn Club: Learning from Billion-Dollar Startups”, publicado no site Techcrunch.

Em linhas gerais, o artigo analisa o surgimento das grandes empresas de tecnologia inovadora da década anterior, das quais o Facebook seria o exemplo mais claro. Na época, esta categoria era composta por 39 empresas nos Estados Unidos com valor de pelo menos 1 bilhão de dólares e que ainda não haviam feito uma oferta pública de ações. Elas eram provenientes de quatro grandes áreas de atuação: ecommerce, audiência (monetização por meio de tráfego digital), software como serviço e “enterprise”, que oferece software em larga escala para clientes corporativos. Todas compartilhavam alguns pontos em comum:

– Nenhuma das empresas citadas possuía inventário físico como parte de seu modelo de negócios;

– Todas se alavancaram fortemente no efeito de rede. Aileen defende que este aspecto permite às empresas crescerem em seus mercados locais e também no mercado global, por reduzirem a necessidade de capital. YouTube e Instagram, por exemplo, que não produzem o conteúdo que capitalizam, são casos clássicos;

– Seus fundadores possuíam experiência prévia e visão de mercado: 80% das empresas analisadas por Aileen tinham CEOs que já haviam fundado uma empresa anteriormente;

– Foco no longo prazo: para Aileen, não se trata de um sprint, mas de uma maratona. Os membros do “Unicorn Club” haviam levado pelo menos sete anos, em média, para atingir essa classificação.

Para Iberdrola, empresa espanhola voltada à produção de energia, uma das maiores mantenedoras de iniciativas de aceleração e incentivos a startups na Europa, os Unicórnios souberam utilizar muito bem uma série de estratégias que surgiram na primeira década do século XXI. Ao invés de investir em publicidade de forma massiva e com menor assertividade na mensuração da audiência impactada, elas são entusiastas das mídias sociais, onde o acesso a dados permite retroalimentar as estratégias de marketing a fim de entregar a mensagem certa ao público adequado. Também são empresas que não têm foco prioritariamente no produto, mas na solução ofertada ao seu cliente, com uma mentalidade global, execução local e estratégia de get big fast. Além disso, são organizações multidisciplinares e multiculturais, que entendem a diversidade como elemento fundamental para a criação de soluções inovadoras globais.

Já sabemos o que é (e o que não é) um Unicórnio. Mas aqui é necessário esclarecer um ponto importante: nenhuma empresa deve traçar o seu plano de negócios em busca de obter este título. Trata-se apenas de um marco natural, consequência de trajetórias de muito trabalho. Eu, particularmente, chamo esse processo de disciplina paranóica, e acredito que ele está baseado em quatro pontos fundamentais:

Inovação

Já há alguns anos, as empresas começaram a migrar do modelo de “como fazer o cliente gostar do meu produto” para “o que minha solução pode fazer para satisfazer as necessidades do meu cliente”.

Uma startup deve estar pronta para mudar o mundo – começando por criar um novo modelo de negócio que permita ao mercado utilizá-lo de maneira simples e que seja capaz de entregar um serviço melhor que o modelo anterior. Essa solução também deve ser escalável e estar intimamente ligada à satisfação do cliente.

No caso da VTEX, Geraldo Thomaz e Mariano Gomide de Faria, fundadores da companhia e atuais co-CEOs, o conceito de inovação surgiu em 1999 ao criarem um algoritmo para predição embarcado em uma plataforma para automação da força de vendas para o mercado têxtil, o que resultou na criação da Vitrine Têxtil. Entretanto, a dificuldade em tracionar essa aposta fez com que a dupla rapidamente corrigisse o curso da rota e passasse a aplicá-la para revolucionar o comércio digital de grandes empresas, o que na época começava a se popularizar.

A estratégia era arriscada, mas poderia dar bons frutos. Criar uma forma para permitir que grandes empresas iniciassem as suas operações de comércio digital o mais rápido possível, sem elevados investimentos iniciais comuns à época, e cujo preço seria justo, e pago conforme a utilização, sem a necessidade de possuir “dentro de casa” competências para sustentar uma solução como essa. Nascia ali a primeira plataforma brasileira de ecommerce 100% como serviço (SaaS). Um modelo capaz de simplificar a relação entre aqueles que têm produtos para vender e qualquer pessoa que tem interesse em comprá-los.

Com o passar dos anos, essa solução amadureceu e reforçamos diariamente o compromisso da Empresa em manter nossa plataforma em estado de inovação contínua. O objetivo é permitir que ela sempre agregue novos recursos, para que as grandes empresas possam oferecer aos seus clientes mais simplicidade, e assim, haja ainda mais satisfação na compra de produtos online.

Escala

Um produto ou serviço inovador deve, necessariamente, ser escalável. Ou seja, deve ser fácil e rápido de contratar, e simples de ser utilizado.

Costumo dizer que o brasileiro tem, pelo tamanho geográfico do nosso país, a falsa sensação de que primeiro deve conquistar o mercado interno para depois se aventurar no mercado externo. Eu acabo fazendo a seguinte pergunta aos que pensam assim: E se você fosse um empreendedor nascido em Portugal ou Israel? Pensaria da mesma maneira?

Faço essa provocação, pois para os empreendedores destes e outros pequenos países, viver do mercado interno não é uma opção.

Uma startup deve oferecer uma solução que seja globalmente escalável em termos de negócios e não apenas em termos de infraestrutura.

Em nosso caso, começamos a desbravar o mundo em 2012, quando iniciamos nossa expansão pela América Latina, e nunca mais paramos. Temos hoje também escritórios na Ásia, Europa e Estados Unidos. Ao todo, 32 países têm lojas online ativas com nossa tecnologia. A receita proveniente de moeda forte ajudou neste movimento.

Recentemente, a empresa deu outro passo desafiador em sua trajetória de expansão, ao realizar sua Oferta Pública Inicial (ou IPO pela sigla em inglês), na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). Esse marco é resultado de ações iniciadas há quase uma década, e reflexo do nosso investimento numa estratégia de get big fast ao redor do mundo, como descrito pela Iberdrola.

Conhecimento profundo e contínuo

Nossa obsessão pelo sucesso dos nossos clientes nos leva a mais um ponto fundamental dessa jornada: contar com uma equipe de alta performance, especializada nesse mercado e que esteja sempre em busca de se atualizar, aperfeiçoar e conhecer as tendências, tanto de negócio quanto tecnológicas. Apenas oferecer software como um produto é extremamente contrário aos interesses do cliente. A tecnologia, por si só, pode ser facilmente copiada pela concorrência ou mesmo ficar defasada com o tempo. No entanto, ao fornecer tecnologia acompanhada por conhecimento profundo da área e consultoria sobre o negócio, com o objetivo de verdadeiramente melhorar os resultados dos clientes, é o grande diferencial.

No nosso caso, com o recente período de pandemia e de restrições e isolamento social iniciado a em Março de 2020, o comércio digital precisou evoluir muito rápido. O mercado que já investia em ecommerce buscou abrir novas frentes de receitas, aprimorando suas capacidades e reinventando suas operações. Para isso houve uma busca desenfreada por entender o que poderia ser aplicável de forma imediata, com muito pouca margem para erro, e preferencialmente, com baixo investimento e rápido retorno.

Graças ao contínuo investimento da VTEX em educação e na capacitação do nosso time, com o objetivo de guiar nossos clientes àquilo que consideramos o melhor para seus negócios, conseguimos reagir rápido. Com isso, temos sido capazes de apresentar aos nossos clientes opções para expansão e crescimento das operações, bem como do faturamento mesmo em meio a algo inédito na história do varejo e de muitas gerações da sociedade atual.

Crescemos 43% em 2019, e fomos para 95% em 2020. Se nossa missão fosse apenas vender um software, isso não teria acontecido.

Portanto, investir continuamente em conhecimento e estarmos preparados para utilizá-lo quando necessário é um grande diferencial percebido para o mercado em que atuamos.

Ecossistema

As startups que chegaram à classificação de Unicórnio são as que transformaram o mercado – e, desse jeito, o mundo. Mas isso não é algo que se faz sozinho. A máxima “dividir para conquistar” é algo que se faz muito presente e tem muito sentido nesse contexto.

No caso da VTEX, sempre acreditamos na possibilidade mútua de alavancagem entre nós e o ecossistema que tivemos que criar. Pensando assim, nos unimos a outros empreendedores do mercado digital que tinham a oferecer serviços complementares aos nossos, sobretudo implantando e evoluindo nossa solução em nossos clientes.

Isso criou um círculo virtuoso onde eles nos ajudam a escalar em número de clientes, bem como nós os ajudamos a escalar seus conhecimentos em digital commerce. Juntos escalamos o resultado e, consequentemente, a satisfação dos nossos clientes.

Tão importante quanto ter um time de alta performance e capacitá-lo de forma contínua, promover ações de capacitação para o ecossistema também são fundamentais para o crescimento da nossa empresa. Investimos em fortalecer todo o ecossistema com formações, treinamentos e compartilhando conhecimento.

Promovemos programas para atrair jovens talentos, como por exemplo o TETRIX – o maior desafio universitário do mundo -, o Digital Commerce Specialist (DCS) – nosso programa de trainee -, e o Hiring Coders – programa de treinamento de desenvolvedores. Organizamos uma série de eventos para gerar conhecimento e divulgar tendências. O maior exemplo disso é o VTEX DAY, que trouxe, e voltará a trazer, os insights de grandes empreendedores, personalidades e empresários visionários de todo o mundo.

Como mencionei no início, ser um Unicórnio não deveria ser uma meta para qualquer empresa. A meta deve ser executar diariamente com muita dedicação aquilo que, por consequência, poderá fazer uma empresa chegar a esse marco. Lembrando que o principal alicerce para que isso aconteça são sempre as pessoas. Pessoas de alto potencial e verdadeiramente comprometidas com a evolução constante.

*Rafael Forte, presidente da VTEX no Brasil

O motor da recuperação econômica pós-2021

Por André Barrence*

NEGÓCIOS DIGITAIS INOVADORES - setor em expansão em meio à epidemia do coronavirus -
NEGÓCIOS DIGITAIS INOVADORES – setor em expansão em meio à epidemia do coronavirus – (d3sign/Getty Images)

A pandemia do novo coronavírus já não é mais tão nova. Também já não são tão novos assim seus impactos na economia. Se não fossem as inovações geradas pelas startups nos mais variados setores, que facilitaram a transição da população para o estilo de vida que o distanciamento social pediu, as consequências da pandemia para a economia do país poderiam ter sido muito piores. Foram as startups que nos ajudaram a reinventar a forma como fazemos compras, nos alimentamos, nos transportamos, administramos nosso dinheiro e nos organizamos na vida pessoal e profissional. E foram esses setores que mitigaram, mesmo que parcialmente, o efeito da crise. Mas isso não significa que elas não sentiram o baque.

A tragédia na saúde refletiu no mundo das startups. Um estudo da Liga Insights mostra que 56% das startups brasileiras perceberam redução no faturamento em 2020, e um levantamento do Sebrae com pequenos negócios brasileiros indica que mais de 62% deles interromperam temporariamente as atividades ou fecharam as portas definitivamente.

Esse cenário trouxe adaptações necessárias para que as startups que fogem dessas estatísticas pudessem prosperar: foi necessário enxugar o máximo de gastos possível para manter empregos – 63% das startups brasileiras não tiveram mudança na quantidade de funcionários, mesmo registrando queda na receita. Nesse cenário, líderes se tornaram âncoras de segurança para além da empresa, ajudando seus membros a passarem por esse momento de pandemia.

A boa notícia é que, circulando entre essas startups, pude perceber que, após os três primeiros meses de incertezas, a maioria dos empreendedores viu uma retomada, mesmo que parcial, na utilização de suas soluções e voltaram a investir mirando o seu crescimento, mantendo o ecossistema empreendedor brasileiro ativo. Em março de 2020, anunciou-se uma turma de dez startups para o Google for Startups Accelerator, programa que foi adaptado para um formato 100% online. A adesão e os resultados foram excepcionais e já estamos na 4ª turma nessa configuração.

Apesar da crise econômica desencadeada pela pandemia, as startups da rede do Google for Startups provaram que negócios digitais podem ser o motor da recuperação econômica do país. O relatório de impacto publicado pelo Google em agosto deste ano, aponta que apesar de algumas terem percebido redução no faturamento, em média, elas tiveram um crescimento de receita de 17% em 2020 em comparação com o ano anterior. Além disso, 82% delas ampliaram suas equipes no ano da pandemia e cada startup da nossa rede contratou uma média de 15 novos funcionários.

Os reflexos do fortalecimento do ecossistema também aparecem no cenário dos investimentos. O investimento anjo e a atividade crescente dos fundos de venture capital é de extrema relevância para os empreendedores. Ao longo dos últimos cinco anos, as mais de 250 startups que passaram pelos nossos programas de longa duração levantaram cerca de 35 bilhões de reais em investimento. Em 2020, o valor médio foi de 4,5 milhões de reais, índice 86% superior ao investimento que elas receberam no primeiro ano de atuação do Google for Startups no Brasil, em 2016.

Alguns dos setores que tiveram melhor desempenho foram aqueles com desenvolvimento de longo prazo, como saúde e educação. A demanda por digitalização com aulas e atendimentos médicos remotos e por soluções melhores e customizadas explodiu desde o ano passado. De acordo com a Abstartups, temos 799 edtechs no Brasil, que acumularam aproximadamente R$ 24 milhões em investimentos apenas até setembro de 2020. Já as healthtechs são cerca de 500 e geraram em torno de 10 mil empregos no país.

Mercados com desenvolvimento de curto e médio prazo também tiveram destaques positivos mesmo em um ano como 2020. É o caso das fintechs, que se beneficiaram do fato das pessoas não poderem mais ir às agências bancárias, necessidade de acesso ao auxílio emergencial e inovações regulatórias como o Pix e o Open Banking também puxaram esse setor para a frente nesse período e o crescimento deve permanecer pelos próximos anos.

Além disso, negócios que atendem necessidades essenciais também foram beneficiados, como delivery de alimentos e logística no geral. Um levantamento nosso de 2020 mostra que as buscas relacionadas a alimentos e bebidas cresceram de 30 a 45% e apenas o termo “restaurante delivery” teve alta de 72% na procura. Além dos serviços de entrega, itens de conforto e autocuidado também entraram na mesma categoria do que se tornou essencial na quarentena. Com o aumento do home office, as buscas por itens como mesas, cadeiras e roupas subiram 90% e a busca ativa por startups focadas em diferentes nichos, como beleza, móveis e marketplaces em geral cresceu 47%.

Com o crescimento do e-commerce, os consumidores passaram a esperar uma maior qualidade no serviço, com entregas em prazos curtos e customização no atendimento. Por isso, outro setor beneficiado foi o de ferramentas de atendimento e produtividade: essas áreas tiveram de melhorar muito, o que levou ao crescimento de soluções para trabalho remoto ou para live commerce, por exemplo.

A realidade de 2021

O ano de 2021 não é uma continuação da insegurança de 2020, uma vez que tem se mostrado como a oportunidade de aplicar os aprendizados de 2020 para alcançar melhores resultados e retomar o crescimento. Colhemos aprendizados do último ano e agora devemos aplicá-los em melhorar o produto, agradar usuários e finalmente voltar a crescer. Temos startups mais resilientes e robustas, e líderes mais preparados depois de um ano tão atípico e complicado. Elas já nascem digitais e ágeis e fizeram disso sua maior vantagem em meio a tantas incertezas.

A digitalização chegou com tudo até para empresas que não a buscavam ativamente, seja pelo trabalho remoto, pela venda online de produtos ou serviços ou pelos processos que fazem a empresa funcionar. O que era adaptação virou consolidação. De acordo com o estudo “COVID-19 e o futuro do negócios”, feito pela IBM com mais de 3 800 executivos C-Level em 20 países e 22 segmentos de mercado, seis em cada dez empresas aceleraram projetos de digitalização e mais da metade (51%) dos executivos vai priorizar projetos desse tipo nos próximos dois anos.

Essa transformação digital também teve um grande impacto nas relações de trabalho. A vida da pessoa física e da jurídica se mesclou, os filhos dividem espaço e tempo com o home office. Elementos como velocidade da internet e conforto impactam na qualidade do trabalho, e atividades como cozinhar, lavar a louça e até mesmo atender o interfone ou a campainha tocando para sinalizar alguma entrega do iFood ou Rappi passaram a fazer parte no tempo de expediente. Mais do que nunca, os líderes precisaram praticar a empatia e o acolhimento com os seus times.

Junto com a pandemia da Covid-19, tivemos acontecimentos ao redor do mundo que reacenderam pautas fundamentais como o racismo, com o #BlackLivesMatter, machismo e LGBTQIA+fobia. Esse assunto se intensifica quando há o recorte de representatividade no mercado de tecnologia, famoso por ser majoritariamente branco, cis, heterossexual e masculino. A pesquisa Quem Coda o Brasil, da ThoughtWorks, faz um panorama geral da presença de diversidade em carreiras de tecnologia no país. De acordo com a pesquisa, a presença de mulheres em cargos de tecnologia é de apenas 32%. Em um patamar semelhante, está a participação de pessoas negras, que fica em 37%. A representatividade de pessoas da comunidade LGBTQIA+ fica em torno de 21%.

Algumas iniciativas ajudam a mitigar esse gap no mercado de trabalho de tecnologia . Do nosso lado, do ano passado para cá temos focado na execução de iniciativas como o Black Founders Fund, fundo para startups criadas e lideradas por empreendedores negros, e turmas temáticas do Google for Startups Accelerator, como a que realizamos esse ano apenas com startups fundadas por mulheres ou com mulheres em posições de liderança. A configuração de investidores, sejam investidores anjo ou participantes de fundos de investimento, também têm mudado. Hoje, grande parte deles já contam com mulheres em sua base. A tendência é ver cada vez mais grupos representados nos próximos anos.

Outra tendência trazida pela pandemia, além da digitalização e da importância da liderança, foi a internacionalização das startups. A transformação digital mostrou que as barreiras geográficas foram reduzidas e não há limites para acessar o mercado global. Mais produtos nascem com versões em inglês ou espanhol, e mais fundadores têm esse objetivo de expansão.

Conforme uma porcentagem maior da população se vacina contra a Covid-19 e as cidades retomam as atividades econômicas em todos os segmentos sem restrições de horários, cresce não só a esperança pela saúde da população, mas também pela recuperação do mercado. Acredito, sim, que essa recuperação deve se fortalecer nos próximos meses, com todos os aprendizados que a pandemia trouxe aos empreendedores.

À medida que bares, restaurantes, academias e lojas reabrem, países com taxas de vacinação mais altas abandonam a obrigatoriedade da máscara, e o sentimento de que está cada vez mais próximo o momento em que poderemos voltar a abraçar parentes e amigos sem medo, não podemos esquecer dos últimos 17 meses e os aprendizados e dores que eles deixaram. Só assim, seguiremos melhores como sociedade e como ecossistema empreendedor de sucesso.

*André Barrence, diretor do Google for Startups para a América Latina

As ideias e a visão de um desbravador

STEVE WOZNIAK, FUNDADOR DA APPLE AO LADO DE STEVE JOBS - ícone do Vale do Silício -
STEVE WOZNIAK, FUNDADOR DA APPLE AO LADO DE STEVE JOBS – ícone do Vale do Silício – (Emmanuele Contini/NurPhoto/Getty Images)

O painel de encerramento do evento que lançou o Congresso de Inovação da Indústria Brasileira, realizado em outubro, contou um convidado cuja trajetória se confunde com a transição do mundo analógico para o digital. Co-fundador da Apple e um dos principais nomes mundiais da inovação, Steve Wozniak foi um dos responsáveis por tornar computadores acessíveis ao consumidor comum. Na posição de ícone do Vale do Silício, Wozniak contou aos empresários brasileiros a trajetória da sua empresa para percorrer os caminhos da inovação desde então e apontou tendências futuras.

Steve Wozniak se interessou por tecnologia ainda criança, quando estava na sexta série. Ele começou a criar fórmulas para o jogo da velha, uma de suas inspirações para criar regras e lógicas, uma função útil e que poderia ajudar muitas pessoas a jogar e não perder. Wozniak tinha um sonho de ser engenheiro elétrico e dar aulas, porque ele acha que os professores têm muito a ver com o futuro.

No ensino médio, ele encontrou um manual que descrevia arquitetura de um computador que dava para fazer várias configurações, mas era muito caro trabalhar com inputs e alt inputs, os custos eram muito altos. “Eu falei para o meu pai: um dia eu vou ser dono de um computador 4k, que terá uma linguagem de programação para que eu possa resolver problemas, como o que eu resolvi no jogo da velha. Meu pai disse que isso iria custar o equivalente a uma casa. Mas eu decidi que queria trabalhar com computadores, que eu iria ter um computador mais valioso que uma casa”, lembrou ele na conferência.

Para conseguir recursos para comprar materiais e criar seu próprio computador, Steve Wozniak começou a estagiar na empresa HP, ainda quando jovem, com apenas 16 anos. Ele desenvolveu diversos produtos, entre eles calculadoras científicas, altamente eficazes. Mesmo trabalhando, na corrida pela criação do seu primeiro computador, Wozniak desenvolveu a parte de designer e um executivo da empresa financiou a compra de peças cujo valor era muito elevado. “Foi nessa época que conheci o Steve Jobs, quando ele tinha 16 anos. Ele tinha uma boa visão de negócios e eu trabalhava como engenheiro. Mesmo sem diploma, eu fazia os melhores produtos da época e o Steve Jobs já queria transformar minhas invenções em dinheiro”, relembra.

Wozniak aprendeu sozinho a programar e projetar computadores. Ele sabia que para criar seu próprio computador era necessário criar conexões e sistemas de transmissão. Como a única coisa que ele conseguia comprar era um aparelho de televisão, passou a trabalhar com videogames. “Comprei microprocessadores a 40 dólares, na época, e comecei a montar meu próprio computador. Ao levar meu computador, em criação, para o clube que eu frequentava, despertou o interesse das pessoas. Todo mundo queria ter um e as grandes empresas de computadores diziam que isso não era possível. Mas eu vi que era possível criar um computador paras as pessoas, ou até mesmo que elas conseguissem construir seu próprio equipamento sem usar apenas o da empresa”, recordou.

Os computadores, na concepção de Wozniak, seriam basicamente uma tela e um teclado. Foi quando o Steve Jobs disse para abrirem uma empresa, hoje conhecida mundialmente como Apple. Mesmo assim, foram necessários dez anos que as pessoas começarem a aceitar a ideia de ter seu próprio computador.

Steve Wozniak ressalta que as grandes empresas ainda têm um modelo engessado de ver a inovação, um processo transformador e necessário para o crescimento. Em paralelo, as startups já possuem a visão de crescimento e que precisa ser trabalhada pelas grandes. “A inovação pega algo que é virtual, que ainda não existe, uma ideia e transforma em algo concreto, que você possa segurar na mão, assim como fiz com os computadores. Transformei minha ideia em algo real”.

As startups se baseiam em novos dispositivos, produtos e conceitos. Para as empresas maiores é difícil lidar com essa velocidade da mudança. As empresas precisam aprender a manter o espírito de inovação e de empreendedorismo para buscar novas ideias. As grandes empresas têm muitos recursos e com isso conseguem facilitar a inovação. “Seria importante mudar a visão das empresas e fazer elas enxergarem como a inovação pode gerar receita, valorizando seus produtos. As startups têm pensamentos mais modernos e seguem as tendências de mercado. Elas têm muitas ideias e conseguem identificar produtos que o mercado precisa. As empresas precisam aprender a identificar também bons produtos”, destacou Wozniak.

O engenheiro ressaltou que as empresas precisam acompanhar as mudanças no mercado. “Na Apple, por exemplo, o que aprendemos é que se o mercado mudar, temos que mudar. Pensamos que não dá para criar o mesmo produto sempre, temos que inovar, pensar em novas tendências. A Apple sempre foi muito inovadora, porque pensamos em estilo de vida das pessoas, esse é o nosso novo conceito. Agora entramos em serviços como a Apple TV, que visa atender a novos estilos das pessoas”.

Para Wozniak, o maior desafio para as gerações futuras será encontrar boas tendências, entender o que é bom e o que é ruim. “Hoje todos têm um smartphone na palma da mão, mas a privacidade dos seus dados está disponível. A revolução digital trouxe essa era de insegurança da informação com os dados expostos. A cibersegurança vem para proteger esses dados e quem sabe projetar um novo tipo de internet, onde as pessoas podem pagar para manter seus dados guardados. A Apple já faz isso com seus clientes, que pagam um valor mensal para ter suas fotos, dados salvos em uma nuvem, em que apensas o dono tenha acesso”, explicou.

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