Apresentação

Desde a aurora da Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, que trabalhadores temem ser substituídos por máquinas e deixados, desempregados e famintos, à própria sorte. Mais de duzentos anos depois, a profecia ainda não se concretizou. A justificativa mais comum para isso é que por um lado centenas de profissões foram sendo extintas ao longo do tempo, ao passo que milhares de outras foram criadas para lidar com as novas necessidades surgidas na esteira do avanço. E isso é verdade. O argumento peca, porém, ao colocar a tecnologia como o personagem principal da história: a máquina acaba com empregos, a máquina cria novas ocupações.
Não é assim. Novas profissões e empregos surgem para viabilizar o desejos e necessidades dos homens, e a tecnologia está a seu serviço. E o que finalmente entrou no radar de líderes da política e da indústria é a necessidade de se frear a destruição do meio ambiente para garantir o maior dos desejos e necessidades humanos – sobreviver. A aposta agora, tanto de trabalhadores quanto de empresários e políticos, é em um futuro baseado na economia de baixo carbono.
E isso já está acontecendo. Segundo o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, estudo divulgado pelo Senai que mapeia e projeta o mercado de empregos industriais no país, a área de Meio Ambiente é a segunda com maior projeção de crescimento no número de vagas nos próximos anos: 16% – fica atrás apenas de Logística e Transportes, com 47% das ocupações industriais. Estima-se que a área de Meio Ambiente tenha novas 5.927 vagas, chegando a um total de 43 mil profissionais no país de diferentes níveis de formação.
Mas a economia de baixo carbono, e os chamados empregos verdes, são muito mais abrangentes do que a lida direta com a floresta e a biodiversidade. O relatório destaca que as áreas com maior demanda por profissionais são a de energia renovável, a de construção sustentável, e a de eficiência energética. O mercado de carbono também está em plena expansão. Trata-se de um sistema que permite a negociação de créditos de carbono – quem polui menos, sejam empresas ou países, pode vender suas “cotas” para aqueles que jogam carbono na atmosfera além de um limite. Esse mercado tem crescido significativamente nos últimos anos, impulsionado pela necessidade de cumprimento de metas de redução de emissões, e exige toda uma gama de profissionais em áreas como auditoria ambiental, consultoria em gestão ambiental e desenvolvimento de projetos de redução de emissões.
Os empregos verdes também englobam a chamada economia circular, que busca repensar o modelo econômico tradicional, baseado no consumo e descarte, para um modelo mais sustentável e integrado. Nesse modelo, os resíduos e subprodutos de um processo produtivo são reaproveitados como matéria-prima em outros processos, criando um ciclo fechado de produção e consumo que vai muito além da reciclagem de lixo. Segundo o Mapa do Trabalho Industrial, as mudanças exigidas nos processos industriais de todos os setores podem gerar mais de 100 mil novos empregos no Brasil nos próximos anos. Além de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa, a economia circular também busca gerar benefícios econômicos, como a redução de custos de produção e criação de novas fontes de receita.
Em resumo, a economia de baixo carbono vem abrindo novas oportunidades de emprego em diferentes setores, e a tendência é que essa demanda cresça ainda mais nos próximos anos. De acordo com os dados do LinkedIn compilados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Brasil já é o país com maior taxa de contratação para emprego verde dentre as grandes economias da América Latina. Com a busca por práticas mais sustentáveis e a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a economia de baixo carbono se torna uma opção cada vez mais viável e rentável, criando empregos e contribuindo para um futuro mais sustentável.
Nas próximas páginas, a 25ª edição de Veja Insights, em uma parceria com CNI, Senai e Sesi, traz um panorama das possibilidades que a indústria está abrindo para quem busca um emprego relacionado à economia de baixo carbono, uso sustentável dos recursos florestais e da biodiversidade e ao desenvolvimento da bioeconomia no Brasil. Boa leitura!