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Vitória de Trump pode aumentar pressão inflacionária nos EUA e no Brasil

Apesar de prometer cortar preços e combater a inflação, economistas enxergam possível enfeito contrário por conta da política fiscal

Por Camila Pati Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 jul 2024, 16h41 - Publicado em 16 jul 2024, 16h36

Com eleitores republicanos mais engajados após o atentado de sábado, há uma forte expectativa de vantagem de Donald Trump na corrida eleitoral dos Estados Unidos. Embora o candidato prometa, em seu plano de governo, um rápido corte de preços e um controle da inflação, economistas consultados por VEJA enxergam um possível efeito contrário de aumento da pressão inflacionária por conta da política fiscal conduzida por um segundo mandato do republicano.

Entre as  principais promessas do republicano no campo econômico está a de cortar impostos para o mercado doméstico e de aumentar a taxação para produtos importados em 10%, podendo chegar a tarifas de 60% em relação aos produtos chineses. 

“Há vários elementos no discurso de Trump que reforçam sua visão protecionista em relação ao mercado americano. O que se espera é um cenário mais recessivo e ainda marcado pela inflação, o que pode justificar juros mais altos”, diz Diogo Moreira Carneiro, consultor e professor na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi)

O corte de impostos para a indústria doméstica gera uma menor arrecadação, que causa um déficit maior aumentando a pressão inflacionária e, consequentemente, elevando a taxa de juros norte-americana. “Se você gera inflação, você tem juros mais elevados por um período maior de tempo, um dólar mais alto também”, diz o gestor Celso Placido, CEO da Asset Management Warren (AMW). Ele também projeta um cenário de elevação dos preços com a promessa de aumento das taxas de importação. “A gente já viu isso acontecer no Brasil e em outros lugares, quando tem aumento da tarifa de importação o produtor doméstico eleva preço, é simples assim. Quem pode se beneficiar disso é mais o produtor local do que seus consumidores, gerando inflação”, diz.

Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, também faz a leitura de possível pressão da política fiscal de Trump na inflação, e cita a troca da presidência do Federal Reserve, que deve ocorrer após dois anos de mandato do presidente eleito.  No passado, Trump já protagonizou alguns embates com o presidente do Fed, Jerome Powel.

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Importados

Os temas políticos que vão ficar em alta em um possível vitória de Trump, na opinião da economista da Veedha são o déficit público, provavelmente para cima; a questão de política industrial, o conflito China-Estados Unidos, protecionismo em alta, a questão da política de campeões nacionais; da política industrial, de internalização.

Ela explica que  consultorias internacionais  apontam que a possibilidade de aumento de 10% na tarifa de importação nos Estados Unidos implicaria em uma elevação de um ponto percentual no núcleo da inflação.  “A gente vai sentir aqui no Brasil, principalmente, se houver essas questões relacionadas à tarifação e, também, na possibilidade do fortalecimento do dólar, a gente sente via câmbio e via as questões relacionadas à tarifação de importação.”

Conforme explica o professor da Fipecafi, bens importados representam parte essencial da economia americana, tanto do ponto de vista de bens de consumo quanto insumos para as empresas locais. A taxação de produtos importados encarece estes produtos, prejudicando famílias e empresas. Ainda que haja incentivo para o fornecimento doméstico desses itens, nem sempre a economia consegue se acomodar para satisfazer esta demanda ao mesmo custo, e muitas vezes este processo é bastante demorado, segundo ele. “Um efeito de curto prazo das medidas anunciadas por Trump é o aumento de preços, tanto pela falta de produtos (redução da oferta para uma mesma demanda) quanto pelo aumento no preço de itens importados e insumos para empresas”, explica.

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Tomando como referência não só o histórico do partido republicano, mas também o primeiro mandato do Trump, Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, espera um ciclo com fortes cortes de impostos e muito estímulo à economia, inclusive com atrito com o Fed para corte de juros, caso Trump vença a corrida eleitoral.

“A questão é que o cenário agora é um pouco mais complexo. A gente tem uma inflação já há algum tempo resistente nos Estados Unidos, e por conta disso os juros estão altos, restritivos, e esse estímulo que o Trump deve dar na economia com toda certeza pode fazer com que a gente veja mais inflação por mais tempo e mais juros lá nos Estados Unidos, o que acaba fortalecendo o dólar. Então a gente deve ter estímulos diversos, ao mesmo tempo que se corta impostos, um pouco mais de mercantilismo”, diz Duarte. Ele cita um efeito inflacionário no Brasil como resultado e lembra que o dólar valorizado é positivo para balança comercial.

O economista lembra que o  primeiro mandato de Trump teve um crescimento econômico bom e também uma valorização muito grande nas bolsas.” A gente deve ver isso novamente em um eventual segundo mandato.  Ele tem falado muito dos ativos digitais, criptos e inteligência artificial. A gente deve ver um avanço muito grande de liberação, de legislação disso daí, o que deve também estimular esses mercados. Eu tenho certeza que isso vai favorecer a Bolsa americana, o que pode ser bom também para as bolsas mundiais. Acho que no geral, apesar do dólar mais forte, a gente tem um resultado positivo para o Brasil”, afirma.

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