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Transformar para crescer: um novo ciclo de industrialização ganha força no país

São milhares de projetos e investimentos bilionários impulsionando a modernização produtiva

Por Marco Damiani
Atualizado em 24 out 2025, 14h59 - Publicado em 24 out 2025, 06h00

Um movimento que tem surpreendido pela dimensão e pela velocidade está recolocando a economia brasileira na rota da reindustrialização. Na semana passada, o Painel de Monitoramento do Plano Mais Produção, criado e mantido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, apontava 258 000 projetos de ampliação e modernização de indústrias brasileiras aprovados nos últimos três anos, com 516 bilhões de reais em financiamentos contratados até 2028. O vigor desse processo se reflete na recuperação gradual da indústria de transformação — diretamente ligada à produção de bens de consumo —, que voltou a contratar, investir e ampliar sua presença nas cadeias produtivas após um longo período de retração. “Existe, sem dúvida, uma retomada da indústria”, afirma o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais. “A deterioração verificada de 2014 em diante, quando se iniciou um ciclo de crise econômica, está sendo superada.”

A retomada não é um fato isolado na história econômica do país. A industrialização de commodities foi, no passado, um dos motores que impulsionaram o desenvolvimento brasileiro, criando cadeias produtivas e empregos de qualidade em torno do café, do açúcar, do álcool e da soja. Agora, com o avanço irrefreável do agronegócio e a modernização tecnológica no campo, esse movimento ganha novo fôlego, especialmente nas cadeias que unem produção rural e indústria de transformação, como a de etanol e a de processamento de soja, que passam a exportar valor agregado em vez de matéria-prima bruta.

arte industria

Um dos vetores dessa nova fase vem da agregação de valor às commodities agropecuárias, num fenômeno que combina produtividade rural e tecnologia industrial. Referência nesse segmento, o grupo Jalles Machado, com sede em Goiás, é um exemplo da transição de produtora agrícola para agroindustrial. Com duas unidades de transformação de cana, a empresa exporta açúcar branco e orgânico para vinte países e produz etanol anidro, hidratado e orgânico, além de materiais de limpeza, álcool gel e hospitalar para o mercado interno. Em abril, firmou parceria com a francesa Albioma Codora Energia para iniciar, a partir do próximo ano, a produção de gás biometano, reforçando sua pegada sustentável. O desafio, contudo, continua sendo o custo do capital, tradicionalmente elevado no Brasil. “Agora que crescemos, o foco é explorar ao máximo os ativos, ganhar eficiência operacional e industrial, sem aumentar a alavancagem”, diz Rodrigo Penna de Siqueira, diretor financeiro da Jalles Machado. “Queremos operar com maior produtividade antes de pensarmos em novos investimentos.”

Há, porém, uma ameaça no ambiente econômico que pode comprometer o ciclo de boas notícias da indústria. A CNI divulgou projeções que apontam para uma expansão de apenas 0,7% da indústria transformadora neste ano, o que é reflexo direto da taxa básica de juros a 15% ao ano. “É o maior patamar da Selic em quase vinte anos”, afirma Mário Sérgio Telles, diretor de economia da CNI. “Isso tem diminuído a demanda, principalmente por bens industriais.” Se confirmada a previsão, o desempenho de 2025 representará uma inversão de resultados: a mesma indústria que brilhou no ano passado poderá se tornar a maior perdedora em participação na economia. “Em razão dos juros, corremos o risco de deixar passar, mais uma vez, a oportunidade histórica de completar um ciclo robusto de desenvolvimento industrial”, afirma Samantha Cunha, economista e gerente de política industrial da entidade. “Isso já aconteceu no passado e parece que não aprendemos a lição.”

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DE GRÃO EM GRÃO - Processamento de soja: mais valor para as exportações
DE GRÃO EM GRÃO - Processamento de soja: mais valor para as exportações (Dado Galdieri/Bloomberg/Getty Images)

Mesmo com as incertezas provocadas pela política monetária, as bases da reindustrialização estão sendo reconstruídas. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, colegiado composto por mais de vinte ministérios e por representantes do setor privado, definiu diversas ações para orientar a nova fase industrial brasileira. Entre as principais diretrizes estão a criação de cadeias agroindustriais sustentáveis, o fortalecimento da base tecnológica do país, a transição para uma economia de baixo carbono e a ampliação das políticas públicas de financiamento voltadas à inovação. O conjunto dessas iniciativas deu origem à Nova Indústria Brasil, uma política industrial que busca reposicionar o país no mapa global da produção e levar a um ciclo duradouro de desenvolvimento. É bom não perder mais esta chance.

Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967

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