Trabalho híbrido, bem-estar: 5 tendências globais para empresas flexíveis
Estudo Global da Mercer, consultoria de RH, mapeia estratégias do mercado de trabalho e reafirma a flexibilidade como ponto forte nas empresas bem-sucedidas
A pandemia de Covid-19 trouxe diversas mudanças, mas uma das principais transformações ocorreu no mercado de trabalho. De uma hora para outra, empresas precisaram trocar seu modelo de trabalho por um relacionamento mais flexível para o trabalhador. Com o fim da emergência sanitária, fica a experiência e, de acordo com estudo da Mercer, consultoria no segmento de RH, a empresa flexível é o modelo ideal tanto para executivos de alto escalão quanto para colaboradores.
Em um levantamento global que ouviu 11 mil pessoas, entre executivos, líderes de RH e funcionários, o estudo traça cinco tendências para o ambiente flexível, em um foco tanto no colaborador quanto no cliente. Para isso, temas como trabalho híbrido, bem-estar e diversidade precisam fazer parte do dia a dia da empresa.
Se em nível global o trabalho híbrido é decisivo para a retenção de talentos (mais de 70% apontam como fundamental), no Brasil o peso desse modelo é um pouco menor, sendo decisivo para 40% da mão de obra. Segundo o diretor executivo da Mercer Brasil, Antonio Salvador, e o diretor de transformação de RH da Companhia, Guilherme Portugal, o Brasil tem uma característica de negócios flexíveis, sendo celeiro de startups e unicórnios, graças ao dinamismo. “No entanto, ainda falta planejamento; as empresas brasileiras e latinas não se destacam tanto pelo planejamento de médio e longo prazo. Até os governos. Nós reagimos muito ao calor do dia. Para um modelo de trabalho remoto, com pessoas espalhadas, é necessário planejamento, mais método e disciplina”, afirma Salvador.
No Brasil, segundo os executivos, as empresas estão começando a observar mais os modelos de contratação vigentes e vendo como fazer o planejamento da força de trabalho no médio e longo prazo. De acordo com Portugal, é preciso ter outras formas de contratação, para além das tradicionais. Na avaliação dos gestores, ao lidar com modelos de planejamentos de países desenvolvidos, a economia brasileira pode se beneficiar em grande escala, e associar a vocação para liderança em inovação com o amadurecimento do mercado de trabalho.
Confira as tendências globais da empresa flexível, segundo o estudo:
– Redefinir para permanecer relevante – trabalhadores levam em conta a reputação da empresa: As organizações que são coerentes com seus valores fundamentais – por meio do propósito da empresa, modelo de trabalho e estratégias de investimento – se relacionarão melhor com seus diversos públicos (acionistas, empregados, clientes, etc) e estarão em condições mais favoráveis para entregar os resultados de seus negócios. Segundo a pesquisa, depois da segurança do emprego, a marca e a reputação da organização são a razão principal pela qual as pessoas optaram pelo empregador atual. Os colaboradores querem trabalhar para empresas que refletem seus valores pessoais. 96% deles esperam que seu empregador adote uma agenda de sustentabilidade que equilibre resultados financeiros com questões sociais, diversidade/equidade e impacto ambiental.
– Trabalho em parceria – construção de confiança e novos modelos de trabalho: O estudo mostra que as pessoas não querem mais trabalhar para uma empresa, querem trabalhar com uma empresa. Trabalhar em parceria, segundo o estudo, significa reavaliar a relação colaborador-empregador. Organizações flexíveis veem o valor da “parceria” em vez do “controle”, e estão concretizando essa visão ao evoluírem suas estratégias de retorno ao trabalho, em modelos sustentáveis de futuro do trabalho. Quase todos os líderes de RH (90%) acreditam que há bastante trabalho a ser feito para construir uma cultura de confiança em suas empresas, principalmente porque muitos consideram a mudança para um modelo de trabalho híbrido. Porém, os empregadores se preocupam com a produtividade, enquanto os trabalhadores (74%) acreditam em maior sucesso da empresa na adoção de um modelo de trabalho flexível.
– Entregas focadas no bem-estar total – foco na saúde física e mental dos colaboradores: A pandemia expôs e agravou as lacunas de saúde e condições econômicas para diferentes populações, ressaltando que o acesso ao cuidado não é suficiente. Mudar o foco da redução de custos relacionados à saúde, otimizando o investimento para que as pessoas permaneçam saudáveis e engajadas, é fundamental para a sustentabilidade das pessoas. Segundo o levantamento, 81% dos colaboradores se sentem em risco de burnout e o principal motivo apontado é não se sentir suficientemente recompensado por seus esforços. Por isso, cuidar do bem-estar mental e emocional dos colaboradores é visto como estratégia fundamental para os negócios de uma organização.
– Construir a empregabilidade – recapacitação: Sempre citada, a recapacitação continua sendo chave nos negócios. Segundo o estudo, a pandemia estimulou a corrida das empresas para requalificar a força de trabalho, mas em muitos casos as iniciativas de requalificação se afastaram da estratégia para o futuro da organização. Redefinir a agenda de competências para atender às necessidades de talentos atuais e futuros, em função das novas demandas, garantirá que as pessoas sejam e permaneçam empregáveis. Modelos baseados em competências estão permitindo que as organizações movimentem talentos com mais flexibilidade e aproveitem os pools de talentos mais amplos e diversificados –prioridade para uma em cada três organizações. A principal preocupação do RH sobre requalificação é que os talentos mais qualificados deixem a empresa. Nesse sentido, é necessário oferecer oportunidades para que os trabalhadores exerçam suas competências.
– Aproveitar a energia coletiva – incentivar o aprender juntos novos modos de ser e fazer: A pandemia acelerou a adoção de novas tecnologias, modelos de negócios e formas diferentes de trabalhar. A experiência de uma mudança de tal nível em um curto período de tempo, além da fadiga, cobrou um preço. A porcentagem de funcionários que relatam sentir-se energizados caiu significativamente – de 74% em 2019 para 63% neste ano, o nível mais baixo nos sete anos de história desse estudo. Mas, ao mesmo tempo, os funcionários estão mais otimistas sobre o que o futuro reserva: quando solicitados a descrever o futuro do trabalho, a principal resposta (51%) é que eles esperam que seja mais equilibrado, com mais tempo para a família, hobbies, saúde e aprendizado. O desafio vai ser utilizar a própria tecnologia como forma de estimular os trabalhadores e construir um negócio mais integrado.