ASSINE VEJA NEGÓCIOS

Termelétricas: um ‘seguro’ para o setor elétrico

Artigo: No cenário de incertezas com o clima, essas usinas são vitais para garantir ao país o fornecimento de eletricidade com controle e sem intermitência

Por Por Luiz Fernando Leone Vianna* e João Carlos Mello**
Atualizado em 14 nov 2024, 12h09 - Publicado em 14 nov 2024, 12h08

No contexto atual de atenção à situação hidrológica do setor elétrico, que indica a permanência da seca apesar do retorno gradual das chuvas nos próximos meses, é pertinente a reflexão sobre possibilidades para garantir a segurança energética do país. Uma das vias é o acionamento de termelétricas para prevenir a escassez de água, apesar do suporte considerável das fontes renováveis de nossa matriz. Seu uso, inclusive, foi uma recomendação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – órgão responsável pela gestão operacional das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN) – para assegurar a confiabilidade e o fornecimento energético. O debate sobre geração térmica é crucial no Brasil de hoje que sofre os impactos do aquecimento global e precisa garantir uma matriz equilibrada. 

Segundo o Balanço Energético Nacional, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a geração termelétrica registrou 19,2% de participação na matriz elétrica em 2023. Esse valor pode variar ano a ano e leva em conta, sobretudo, a situação dos reservatórios. Presentes no país de forma mais intensa desde o início do século 20, essas usinas funcionam como um pilar que estabiliza oferta e demanda de energia em períodos de seca para a geração hidrelétrica, além de compensar a intermitência das fontes solar e eólica.

Dessas instalações vem o fornecimento de energia permanente essencial para a manutenção da segurança energética. Seu acionamento varia conforme suas especificidades e características, já que há diferenças entre as fontes de geração em sua eficiência, produção, combustíveis adotados, e, por consequência, seu custo de produção. Quando o sistema necessita de ativação, as primeiras a funcionarem são as mais eficientes para mitigar o custo da operação do SIN e aumento de emissões.

Luiz Fernando Leone Vianna é vice-presidente Institucional e Regulatório do Grupo Delta Energia
Luiz Fernando Leone Vianna, vice-presidente Institucional e Regulatório do Grupo Delta Energia (./Divulgação)

Em 2021, a crise hídrica que assolou o país levou o sistema a mobilizar as usinas, como a William Arjona (MS), dando suporte ao setor elétrico por tempo prolongado. Em 2024, o quadro é diferente: as operações recentes foram para atender à demanda da curva de carga, principalmente na ponta, ou pico. Hoje, a situação é de alerta. Já temos a solicitação para que os agentes térmicos fiquem de prontidão para um acionamento garantindo o atendimento eletroenergético se houver necessidade de despacho no período seco e de transição para o ciclo úmido de 2024 e 2025.

Continua após a publicidade

O nosso modelo da matriz de energia elétrica leva os agentes do setor a recorrerem às térmicas. Apesar da diversificação das renováveis, que são majoritárias, ainda temos gargalos para resolver quanto à dependência de fontes intermitentes, como solar e eólica. Notamos um cenário de desequilíbrio no Brasil, no qual o pico de geração energética das fontes renováveis ocorre em descompasso com o de consumo. 

Por exemplo, das 18h às 21h, quando temos o pico de consumo elétrico residencial, a geração solar cessa. “Combustível” da energia solar, o pôr do sol cria ainda um desafio imenso ao ONS: a saída dessa produção quase toda ao mesmo tempo para atender à curva de carga que está subindo nesse período. Este cenário é responsável pela chamada “rampa” de carga, que hoje atinge cerca de 25 GW, ou seja, praticamente 25% da maior ponta que já tivemos desde então. Esse tipo de evento da “rampa” só acontecia em jogos da seleção brasileira de futebol masculino, com a redução do consumo coletivo e retorno de todos ao mesmo tempo. Atualmente, esse desafio para o ONS tem acontecido todos os dias. 

Precisamos de planejamento de longo prazo e rever caminhos quanto ao uso eficiente das termelétricas, estimulando fontes menos poluentes, como biomassa e gás natural, ou mesmo combustíveis líquidos para usos mais esporádicos. Os futuros leilões de reserva de capacidade já podem considerar esse cenário para que se possa atender os requisitos elétricos e energéticos. Reforçamos que a diversificação de nossa a matriz é muito importante ao país e as térmicas asseguram confiabilidade e controlabilidade. Precisamos mirar esforços para consolidar uma matriz equilibrada e harmoniosa, que contemple as demandas de uma transição sustentável.

Continua após a publicidade
João Carlos Mello é CEO e fundador da Thymos Energia
João Carlos Mello é CEO e fundador da Thymos Energia (./Divulgação)

A guerra de “narrativas” sobre a matriz futura ideal no setor é uma prática recorrente. Quase sempre “demonizam” as térmicas devido às emissões e ao custo de operação. Vale uma revisão sobre esse conceito, já que que elas serão utilizadas como um “seguro” momentâneo. Seu custo e intensidade de emissão ocorrem conforme a necessidade do sistema e sob os comandos do operador nacional. Entendemos que os “debates” sem embasamento técnico buscam defender parcelas futuras cada vez maiores de energia. Esquecem de colocar a segurança do consumidor como protagonista e deixam de fazer a conta do “custo evitado” da falta de energia para toda a sociedade.   

Ao longo dos anos, questões como a intermitência e o armazenamento de energia poderão ser sanadas sem risco de abastecimento aos consumidores do sistema elétrico. As termelétricas seguirão em processo de evolução, tornando-se mais eficientes e menos poluentes. Essa coexistência garantirá ao Brasil a possibilidade de realizar mudanças estruturais e ampliar investimentos em renováveis com segurança elétrica e energética.

Continua após a publicidade

Luiz Fernando Leone Vianna* é vice-presidente Institucional e Regulatório do Grupo Delta Energia. Na empresa, tem ocupado posições de liderança. Formado em Administração de Empresas e Engenharia Elétrica, pela UFPR, foi diretor geral da Itaipu Binacional e da Companhia Paranaense de Energia – Copel Holding e presidente da Apine. Também integra o Conselho de Administração da Abraceel e a presidência do World Energy Council Brasil, entre outros. 

João Carlos Mello** é CEO e fundador da Thymos Energia. Na empresa, lidera projetos de Consultoria, P&D e Gestão. É membro da Academia Nacional de Engenharia e diretor-presidente do Cigré Brasil. Mello é doutor e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC-RJ.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas R$ 5,99/mês*
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Nesta semana do Consumidor, aproveite a promoção que preparamos pra você.
Receba a revista em casa a partir de 10,99.
a partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.