Tendência é de desaceleração da indústria em 2025, diz economista
“A previsão é que o crescimento em 2025 caia para aproximadamente metade do percentual de 2024”, diz Rafael Perez, economista da Suno Research

A demanda aquecida, as expectativas otimistas empresariais e crédito mais acessível no primeiro semestre impulsionaram a indústria brasileira que fechou 2024 com um crescimento de 3,1%, segundo dados divulgados nesta quarta-feira, 5, pelo IBGE. O resultado veio acima da expectativa do mercado financeiro. “A produção veio acima do esperado. Acredito que pode trazer mais otimismo para a bolsa”, diz o analista de investimentos e sócio da Top Gain, Matheus Lima.
Mas para 2025, a tendência é de desaceleração, diz Rafael Perez, economista da Suno Research. “A previsão é que o crescimento em 2025 caia para aproximadamente metade do percentual de 2024”, diz o economista.
A estabilização com viés de queda tem sido registrada há três meses seguidos. Em dezembro recuou 0,3%, após registrar taxas de -0,7% em novembro e -0,2% em outubro. Mas não foi suficiente para reverter os bons resultados da indústria nacional até então. “O ano de 2024 apresentou uma série de condições favoráveis para a produção industrial, desde aumento da demanda até expectativas empresariais mais otimistas”, diz Perez.
Os setores de bens de capital e bens de consumo duráveis foram os grandes motores do crescimento industrial do ano. “Destaco o setor de bens de capital, principalmente de máquinas e equipamentos. Houve um forte aumento nas importações de máquinas, um indício de que os empresários enxergavam melhores perspectivas e estavam expandindo a produção”, afirma.
A indústria de bens duráveis também teve um bom desempenho, impulsionada pelo setor automotivo. “Tivemos uma expansão relevante na produção de veículos e motos, fruto do aumento da demanda, do consumo das famílias e de melhores condições de crédito”, explica Perez.
A indústria extrativa, por sua vez, cresceu em ritmo mais lento. “Isso se deve ao alto patamar da produção de petróleo em 2023, que elevou a base de comparação e gerou uma acomodação no crescimento ao longo de 2024”, diz.
Desafios da indústria para 2025
Para este ano, o cenário é menos otimista. “As condições de crédito ficarão mais apertadas, e a alta das taxas de juros tende a desestimular tanto os investimentos quanto o consumo das famílias”, alerta Perez. Com uma demanda menor, as indústrias devem repensar a expansão da produção e contratações.
Outro fator de impacto será o menor impulso fiscal. “Devemos notar uma política fiscal menos expansionista, o que também afetará a atividade industrial”, diz o economista. Com esses desafios, a previsão é de que o crescimento da indústria, que foi de 3% em 2024, caia para aproximadamente metade desse percentual em 2025.
Que segmentos podem se destacar em 2025
Apesar do panorama menos favorável, a indústria extrativa pode ter um desempenho melhor. “A produção de petróleo tem crescido e deve continuar em alta neste ano. Além disso, os preços das commodities seguem em patamar relativamente favorável. Diferentemente da indústria de transformação, que depende mais do ciclo econômico doméstico, a extrativa é mais influenciada pelas condições internacionais”, explica Perez.
O impacto da desaceleração industrial deve ser sentido em toda a economia. “A indústria crescerá menos em 2025, refletindo os efeitos das taxas de juros elevadas e do desaquecimento da economia como um todo. Com menor consumo e um PIB crescendo em ritmo mais lento, o mercado de trabalho tende a permanecer aquecido, mas sem expansão expressiva”, diz o economista.