Tarcísio de Freitas entre a pavimentação de rodovias e candidaturas
Ministro está nos Estados Unidos com um olho em investimentos e concessões; o outro, em 2022
Para aquele cujo principal trabalho é pavimentar caminhos, as rotas eleitorais do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, ainda são muito incertas. Querido pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro tenta deixar de lado as discussões em torno do seu nome para 2022. O momento é de busca de uma agenda positiva enquanto a popularidade do mandatário definha. Ativo importante do governo perante ao mercado, o chefe da Infraestrutura está em Nova York, nos Estados Unidos, em uma série de agendas com investidores para apresentar as concessões que o governo fará nesse último trimestre e tentar atraí-los ao Brasil. A missão busca atrair 260 bilhões de reais em aportes para projetos de infraestrutura.
Nesta segunda-feira 4, ele se reuniu com o banco Goldman Sachs e o fundo de investimentos Macquarie, além de outras agendas. Nas conversas, o ministro ouviu de investidores o “interesse genuíno” na Companhia de Docas do Espírito Santo (Codesa). Uma das gestoras também abriu os ouvidos para entender os movimentos pela privatização do Porto de Santos.
Nas conversas, o ministro relatou a concessão de 74 ativos durante sua gestão e ouviu dos empresários a preocupação com a gestão ambiental do governo Bolsonaro. Segundo relatos, as empresas ficaram animadas com os desenhos das concessões de rodovias, como as de mais de 3 mil quilômetros de rodovias do Paraná, orçadas em mais de 43 bilhões de reais, e da relicitação da Dutra, junto com a Rio-Santos, com quase 15 bilhões de reais em investimentos previstos, e de aeroportos como o de Congonhas, em São Paulo.
De acordo com o ministro, em conversas privadas, os fundos ficaram animados com a organização de políticas para atrair investimentos privados no país para alavancar a retomada da economia, passado o pior momento da pandemia de Covid-19 e o andamento da vacinação, enquanto o pacote trilionário de ajuda do governo do presidente americano, Joe Biden, está empacado no Congresso. Na leitura das empresas, porém, a comunicação em torno das ações afirmativas do governo na questão meio ambiente preocupam, mesmo entre interessados, por exemplo, na Ferrogrão, que deve ligar Sinop (MT) ao Porto de Miritituba (PA). Além da preocupação com a sustentabilidade dos projetos, Tarcísio ouviu que a complicação do sistema tributário e a instabilidade da moeda brasileira são motivos de alerta.
Aliados do ministro consideram que, até aqui, a agenda nos Estados Unidos é positiva. Gomes de Freitas volta ao Brasil no final da semana, depois de conversar com mais de 50 grupos de investidores — vale dizer que o ministro, diferentemente do chefe, está vacinado contra a Covid-19. Mas a volta ao país promete ser conturbada com outra agenda: a eleitoral. O ministro refuta a possibilidade aventada de que o presidente Jair Bolsonaro renunciaria a uma candidatura presidencial para apoiá-lo. Membros da pasta afirmam que o chefe da Infraestrutura admite interesse eleitoral ainda difuso entre a disputa pelo governo de São Paulo, desejo de Bolsonaro, e o Senado. Para o Congresso, ele estuda sair candidato em diversos estados e afirma que “os caminhos mais maduros” estão no próprio estado paulista, em Goiás, no Distrito Federal e no Mato Grosso.
Por enquanto, porém, ele afirma que está debruçado em dar continuidade às concessões até para “ter o que mostrar” no ano que vem. “Não há motivo para trazer o interesse político para dentro da agenda neste momento. Mais atrapalha do que ajuda. Se vier a decisão de sair senador ou governador, isso será tomado futuramente”, diz um auxiliar. Entre tratores e empilhadeiras, a construção de uma candidatura sólida promete ser a obra mais ousada do ministro.