Sócio da 123milhas pede desculpas aos clientes em depoimento na CPI
Ramiro Madureira culpou o comportamento do setor aéreo pela suspensão do produto promocional

Ramiro Madureira, um dos sócios da 123milhas, pediu desculpas aos clientes lesados pela crise da empresa, que deixou de emitir passagens promocionais e agora se encontra em recuperação judicial. O executivo prestou depoimento na CPI das Pirâmides Financeiras nesta quarta-feira, 6.
Em seu depoimento, Madureira negou que o modelo de negócio seja uma pirâmide financeira. “Importante dizer que nós não somos uma pirâmide, somos uma agência de viagem online que vende pacotes, passagens, hotéis e que nos últimos anos embarcou mais de 18 milhões de passageiros”, afirmou. A 123milhas vende passagens e pacotes turísticos emitidos via milhas de terceiros, que querem transformar os pontos em dinheiro.
Com um outro braço da empresa, a Hotmilhas, são feitas as compras dos pontos, utilizados depois para a emissão dos serviços vendidos. A Hotmilhas oferece o pagamento em até 180 dias – quanto maior o prazo, maior o valor pago. No caso das passagens promocionais da 123milhas, o cliente adquiria um produto indicando um período para viajar, sem a confirmação exata de quando aconteceria o embarque até dez antes da data originalmente solicitada. A compra e venda de milhas não é proibida legalmente, mas é vedada pelos regulamentos das empresas aéreas. A brecha na legislação, assim como as operações de vendas de produtos sem a data certa, levantaram a desconfiança da CPI que investiga as pirâmides.
O empresário culpou a crise ao comportamento do mercado de turismo, que performou diferente do esperado pela companhia, impossibilitando a viabilidade da linha promocional da 123milhas, suspensa no dia 18 de agosto – e o capítulo inicial da crise que assolou a empresa.
“Acreditávamos que o custo do promo diminuiria com o tempo, à medida que ganhávamos eficiência na tecnologia de sua operação e que o mercado de aviação fosse se recuperando dos efeitos da pandemia. Uma tendência [que] projetamos à época e que se revelou precisamente o oposto”, disse. “Ao contrário do que prevíamos, o mercado tem se comportado permanentemente como se estivesse em alta temporada, e isso abalou os fundamentos, não só do promo, como de toda a 123milhas”, completou.
Segundo o executivo, a linha promocional corresponde a 15% da empresa, um número maior do que o informado pela companhia — 7% — no comunicado em que suspendeu o produto. Madureira afirmou que a recuperação judicial não prejudica os outros produtos vendidos pela companhia, apenas a linha promo. “Esses clientes da linha promocional serão atendidos dentro do nosso plano de recuperação judicial para ver a melhor maneira de solucionar […] Será decidido na recuperação judicial junto com a participação de todos os órgãos públicos para chegar. Os outros 85% dos produtos da 123, de pessoas que compraram, eles continuam viajando sem nenhum problema, esses não serão afetados a princípio”. afirmou.
Antes do depoimento desta quarta, Madureira havia faltado duas vezes à oitiva. O diretor chegou a pedir audiência com o ministro do Turismo no mesmo dia e hora do compromisso com a CPI para não ir até a Câmara. A Justiça o proibiu de deixar o país até que comparecesse à comissão. Caso não comparecesse nesta quarta, havia a possibilidade de condução coercitiva.