Salários altos e chance de crescer: programas de trainee atraem meio milhão de recém-formados
Mecanismo de atração e formação de talentos já é bem consolidado no mercado de trabalho brasileiro

Para quem sonha em ter uma carreira de sucesso em uma grande empresa, a melhor porta de entrada são os programas de trainee. A palavra vem do inglês to train (treinar) e significa, literalmente, “aquele que está em treinamento”. Ao contrário dos estagiários, os trainees são, em geral, profissionais já formados, com potencial para assumir postos estratégicos e de liderança, razão pela qual são contratados por salários acima da média para um início de carreira. Segundo levantamento da Companhia de Estágios, uma consultoria de recrutamento e seleção, a média dos vencimentos de um trainee no Brasil se consolidou em aproximadamente 7 300 reais em 2025, quase cinco vezes o salário mínimo. Entre as empresas que oferecem valores acima da média do mercado estão a Eletrobras, o Itaú Unibanco e a Pepsico, com pagamentos de 8 500 a 10 000 reais por mês. Isso é suficiente para colocar o profissional perto da faixa dos 5% mais ricos da população brasileira. Nada mau para quem acabou de sair da faculdade.
A seleção iniciada pela Unilever, multinacional de bens de consumo, para o seu programa de trainee de 2026 é um caso à parte: oferece nada menos que 17 000 reais por mês para os escolhidos, mais de onze vezes o salário mínimo. A remuneração bem mais alta que a média se explica pelo perfil exigido dos candidatos: pessoas que se graduaram há no máximo cinco anos, mas que já tenham de dois a cinco anos de experiência profissional. Trata-se de uma grande oportunidade para quem está em início de carreira e pretende se recolocar em uma grande empresa interessada em formar novas lideranças.

Os programas de trainee são um mecanismo de atração e formação de talentos bem consolidado no mercado de trabalho brasileiro. Dez anos atrás, Itaú, Ambev e Gerdau se destacavam ao pagar em torno de 5 000 reais para os selecionados, quase sete vezes o salário mínimo da época. Tiago Mavichian, presidente da Companhia de Estágios, explica que a valorização do cargo está associada a duas estratégias. “A primeira é conseguir um grande volume de inscrições para escolher os melhores candidatos. A segunda é realçar a imagem de empresa que investe em mão de obra qualificada e na preparação de jovens que futuramente ocuparão postos de comando”, afirma o especialista. A dinâmica dos programas varia entre as companhias, mas frequentemente inclui participação em projetos estratégicos, rodízio por diferentes áreas para ter uma compreensão completa do negócio e reuniões decisórias com a cúpula da empresa.
Essa foi a trajetória vivida por Fabio Faccio, presidente da Renner. Ele começou na rede varejista de moda em 1999 e, após um ano como trainee, foi efetivado como gerente. Daí por diante, foi se integrando aos projetos de expansão da empresa e atingindo postos cada vez mais altos. Em duas décadas, chegou ao topo. Hoje com 53 anos, Faccio atribui o sucesso à paixão por trabalhos coletivos: “Sempre gostei de interagir em equipes; fazer um time ganhar junto é o que me move”. Assim como ocorreu com Faccio, os trainees de hoje entram nos programas mirando alto. Em treinamento no Itaú Unibanco, Lucas Santos, de 26 anos, pretende trabalhar com liderança de equipes. “O meu interesse surgiu no começo da faculdade, quando ouvia falar que as portas para as vagas de trabalho de sucesso se abrem a partir do trainee”, diz Lucas. Ele integra o programa há doze meses e já vê potencial de crescimento no banco. Sobre o que é preciso para ser selecionado, diz que o autoconhecimento é primordial: “O processo é focado em como o candidato lida com situações do dia a dia no trabalho”.
Poucos profissionais, contudo, passam pela peneira. Neste mês de outubro, encerram-se as inscrições para 650 vagas de trainees em mais de duas dezenas de empresas, sendo que o total de inscritos se aproxima de meio milhão. São quase 700 candidatos por vaga, o que transforma o processo seletivo em uma verdadeira maratona profissional. No fim das contas, ser aprovado em um programa de trainee é mais do que conquistar o primeiro emprego — significa dar o primeiro passo rumo ao topo.
Publicado em VEJA de 10 de outubro de 2025, edição nº 2965