Resultado do PIB de Serviços pode elevar projeções para o segundo semestre
Enquanto alguns veem com cautela, outros acreditam que o setor de Serviços estimulará a economia brasileira a crescer acima de 3% este ano
O bom desempenho do PIB do setor de Serviços no segundo trimestre deste ano está fazendo com que analistas revejam suas projeções para o ano. Já há quem fale em um crescimento da economia em 2023 acima de 3%. Com o avanço de 0,6%, o setor de Serviços está há 12 trimestres seguidos de variações positivas. A melhora no mercado de trabalho, ainda que muito disso se dê no campo da informalidade, também impulsionou o consumo das famílias, que avançou 0,9% no segundo trimestre, a maior alta desde o mesmo período do ano passado (1,6%).
A tendência do mercado é que o setor avance ainda mais na segunda metade do ano, tendo em vista que o comércio cresceu apenas 0,1% no segundo trimestre — o segmento que suportou o crescimento acima do esperado no setor foi o de “atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados”, com uma expansão de 1,3%. “O período de pico inflacionário já ficou para trás. Tão para trás que já há uma perspectiva de redução em uma sequência grande de cortes na taxa de juros. E isso deve fazer com que o setor de Serviços continue se destacando daqui para frente. A gente tem uma uma perspectiva de crescimento do setor de serviços este ano em torno de 3 a 4%, mas podemos até rever as expectativas para um crescimento mais forte”, diz Fabio Bentes, economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, a CNC.
Para o economista, o varejo terá um segundo semestre “bem melhor” que o primeiro. “As vendas do varejo ainda não apontaram para um crescimento porque esse efeito da queda dos juros demora pelo menos seis meses para acontecer na ponta”, complementa. “Como já está contratada essa redução dos juros, aqueles segmentos que dependem de crédito, que hoje são segmentos que ainda não se recuperaram da pandemia, vão ter um cenário mais favorável na segunda metade do ano. Outro fator que nós temos é a valorização do real, que é bom para o comércio e irá fazer com que as vendas do segmento ganhem um pouco de tração nessas datas que vêm por aí, como Black Friday e Natal.”
Bentes ainda cita as tentativas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para aquecer o setor, como um programa de estímulo à venda de veículos e o aumento do valor-base para o Bolsa Família. Ele acredita que a estimativa de cortes na taxa de juros fará com que o crescimento do setor, sobretudo do comércio, seja mais equilibrado nos próximos meses. “A tendência de queda dos juros na ponta ajuda a ativar um pouco o nível de consumo de segmentos que ainda estão apresentando perda em relação ao período pré-pandemia, como a venda de bens duráveis, como eletrodomésticos e móveis.”
O economista Matheus Pizzani, da CM Capital, por sua vez, vê com ressalvas o resultado e projeta desafios para o crescimento do comércio no futuro. “A expectativa é que este movimento de desaceleração e possível queda se acentue nos próximos meses, tendo em vista que os efeitos adversos da política monetária seguirão impactando o comércio e os serviços como um todo, assim como não existe expectativa até aqui de novos estímulos setoriais por parte do governo, algo que evitou uma perda ainda maior dos serviços neste segundo semestre e devem ser deixados para trás gradualmente em função da necessidade de arrecadação do governo para garantir o cumprimento das metas da nova regra fiscal.”